Adolfo Rios entregou a baliza do América a um Ochoa menino, de 18 anos. Orgulhoso dessa transição, antecipa estatuto único no futebol com o sexto Mundial
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Já com estreia vitoriosa pelo Aves SAD, “Memo” Ochoa junta rendimento ao colorido impacto da chegada ao clube, sendo um verdadeiro porta-estandarte da nossa liga, não fosse ele um homem de cinco mundiais e 151 internacionalizações pelo México. Já com experiência europeia de campeonatos como o francês, o belga, o espanhol e o italiano, este último pelas duas épocas no Salernitana, o guarda-redes, de 39 anos, chegou acompanhado de todo o seu folclore e dimensão espetacular para uma nova morada.
Após grande exibição contra o Rio Ave, Ochoa trabalha para voar em Alvalade, naquela sua tão firme luta por impossíveis. A história de sucesso do mexicano começa nos seus 18 anos, quando agarra a baliza do América, clube que lhe marca a carreira como mais nenhum: 418 jogos. O seu aparecimento permite resolver a sucessão ao lendário Adolfo Rios, titular da seleção azteca na Copa América de 1997. Em conversa com O JOGO, este antigo companheiro de Jorge Campos e Negrete no Pumas é categórico sobre a vitalidade que Ochoa ostenta e o papel que pode representar para o Aves.
“Memo decidiu bem mais uma vez! Quando teve a primeira oferta para a Europa para jogar no Ajaccio ligou-me a pedir conselhos. Garanti-lhe que estava preparadíssimo, não importava a hierarquia da equipa. Fundamental era dar o salto e com as suas atuações mostrar que era guarda-redes de equipa grande. Esteve muito bem em França, deixou uma grande marca e pôde jogar em diferentes países”, relembra. “Agora escolheu uma liga exigente como a portuguesa e já mostrou no primeiro jogo a peça importante que pode ser”, elogia Adolfo Rios, sabendo que há um apelo transcendental. “Com ele está uma vontade muito forte de jogar o sexto Mundial, mas mais: quer competir para jogar. Está a dois anos de definir algo histórico, e ser considerado já é incrível. Ele tem a capacidade de o fazer e a idade não foi obstáculo para Zoff, Pfaff ou Mondragón”, afere Rios, viajando pela passagem de testemunho, na época 2003/04.
“Retiro-me um ano antes de terminar o meu contrato, sabendo que Ochoa estava pronto e a baliza bem entregue. O clube ainda comete o erro de ir buscar um guarda-redes, mas corrige-o em seis meses, e ele arranca em grande. Nestor Verderi, que era treinador de guarda-redes, puxou-o da formação para a equipa principal. Ao primeiro treino, vejo qualidades extraordinárias”, conta, medindo o impacto na sua pele de ídolo. “A influência foi fazê-lo sonhar e aspirar. Foi uma honra partilhar com ele cada treino e viagem”, regista, assombrado pela escalada do seu sucessor, pairando sobre o mítico Tota Carbajal, conhecido por Cinco Copas.
“É comparado com ele, mas tem agora a oportunidade de jogar seis Mundiais. Seria o primeiro no futebol mundial a consegui-lo. Para os mexicanos seria épico e espetacular. Para mim, que o guiei um pouco, mas mais fora do campo, seria algo indescritível; sentir que o ajudei com um pequeno grão de areia”, resume Rios.
“O que o Tota fez, ao estar em cinco Mundiais num período de tantas carências, sem tecnologia, foi brilhante. Jorge Campos foi o nosso guarda-redes mais espetacular e colorido, fez coisas diferentes, deixou um legado fabuloso. Mas, mesmo assim, vendo o que Ochoa alcançou e o que pode alcançar, vendo a imagem na Europa, a sua transcendência, analisando a sua personalidade, qualidade e respeito pelo trabalho, estamos a falar do efeito de uma lenda ao atingir o sexto Mundial”, ressalva, honrando tantos atributos.
“Sacrifica-se, não tem grandes lesões e está aí! Até podia ser pai de alguns colegas. Exerce muita influência na Imprensa, nas redes, sabe ser mediático fora do campo pelos seus valores e por ser íntegro. Nunca se coloca em risco”, finaliza Adolfo Rios.
“O teu papá aqui sou eu...”
“O cabelo longo de Memo, imagem de marca, deve-se a mim. Ele não queria, temia a reação do pai, mas disse-lhe que esse era o segredo para ser titular do América, em honra de grandes nomes como Rafael Puente e Nestor Verderi. E rematei, no América ‘o teu pai sou eu’”, pontua esta bela memória Adolfo Rios, de 57 anos.
No ano de estreia de Ochoa brilhavam no América atacantes ferozes e folclóricos como Cuauhtemoc Blanco e Loco Abreu. “Foi giro esse tempo! Nós éramos cinco guarda-redes no treino, ele o mais novo. O mais cómico era o Cuauhtemoc, que marcava e gozava o guarda-redes que batia. Entre todos decidíamos uma vingança contra ele, mas era uma luta sã. Depois, no treino seguinte, vinham todos os jogadores do plantel a correr na nossa direção para atirar bolas e bater-nos. Valia quase tudo!”