António Simões, campeão europeu e com quatro finais jogadas, dá, em entrevista a O JOGO, uma "pequena vantagem" ao seu clube na Champions com o Inter.
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A qualidade da equipa de Roger Schmidt convence António Simões, que pede "desconfiança" em relação ao Inter, pois a eliminatória com o FC Porto serve de aviso.
A campanha do Benfica na Europa faz sonhar os adeptos com uma presença na final da Champions. Como alguém que esteve em quatro finais da prova, também sonha?
-Os adeptos e sócios do Benfica vão ao Estádio da Luz seguramente com esperança, mas vão agora também com a convicção que podem ganhar. Este é o momento de ter essa convicção, que é perfeitamente possível chegar a uma final. Chegados lá, então vamos pensar em ganhar. O reconhecimento da qualidade deu legitimidade para pensar desta maneira.
Em Itália, desde o sorteio, tem havido muitos avisos para o valor do Benfica. De quem é o favoritismo?
-É uma eliminatória completamente em aberto. Devemos sempre estar desconfiados das equipas italianas, na medida em que têm uma cultura defensiva de grande qualidade e se marcam primeiro é um problema. É preciso ser prudente. Agora, olhando à qualidade que o Benfica apresenta e pelas prestações a que estou a assistir da parte do Inter confesso que atribuo uma pequena vantagem para o Benfica. Mas é muito importante e determinante até que o Benfica, quando viajar para Itália para o segundo jogo, leve alguma vantagem. Para obrigar a que o Inter saia do seu modelo, da sua cultura, para poder depois apanhá-los pelas costas. Se não tiverem obrigação toda de atacar e ganhar, se não saírem do seu modelo de conforto, então é muito difícil vencer.
A eliminatória do FC Porto com o Inter pode servir de aviso para o Benfica?
-Exatamente. O Inter veio com uma pequena vantagem e esteve a sobreviver todo o jogo. Com alguma sorte, é verdade, mas estiveram na sua área de conforto, defendendo, defendendo.
Este Benfica poderá, eliminando o Inter, vingar a final perdida de 1964/65?
-Tenho essa grande convicção, que se junta à minha esperança. Seria muito bonito ver o Benfica chegar a uma final. O clube tem um passado histórico e está muito ligado ao sucesso na Europa. Diria até que para esta equipa seria a confirmação do valor dos jogadores. Seria muito bonito ver o Benfica numa final.
Vê cada vez menos como um sonho e mais como uma realidade?
-Precisamente. Tendo em conta o que o Benfica fez até agora e a qualidade que apresentou não tem de ser surpresa lá chegar, será o corresponder à qualidade que se tem .
Rummenigge não considera o Inter como favorito. Como analisa a opinião?
-O Benfica volta a ter o seu nome na Europa. Há um reconhecimento. Há primeiro uma surpresa pelo facto de o Benfica estar nos quartos de final da Liga dos Campeões. "Oh, chegaram aqui!" Depois começaram a ter atenção e quando foram ver os jogos verificaram que não tem de haver surpresa. O que aqui está é a demonstração do real valor da equipa. Portanto, tenham atenção. O Benfica não está aqui por acaso, está por mérito próprio e sobretudo com qualidade. É a qualidade apresentada pelo Benfica que faz com que se fale. Não é o histórico e o nome, é a equipa que justifica isso. Rummenigge jogou futebol e tem legitimidade para dizer isso. Não o diz por simpatia porque vai jogar com o Benfica. Não, avisa o Inter para a qualidade de jogo do Benfica. O Benfica joga bem, joga para a frente, faz golos. Às vezes não joga tão bem, mas quando é necessário defender também o faz. E vai ter de fazê-lo com o Inter.
Como antigo jogador, como se encara esta campanha europeia no balneário do Benfica?
-Eles falam uns com os outros, veem os vídeos e os jogos e começam a contagiar-se. É como na vida. Às vezes temos semanas más em que tudo acontece, mas há outras em que tudo corre bem, muito "smooth". No futebol, se houver um contágio positivo, como o que o Benfica está a atravessar, pela qualidade que tem, todos começam a acreditar. Alguém no grupo vai dizer: "Vamos chegar lá!" Ganhando-se, fica-se cada vez mais forte. Isso vai contagiando. Os jogadores começam a pensar dessa maneira. Cada vez há mais convicção e isso contagia também os adeptos, que não os largam.
O facto de o Inter estar a viver um momento complicado permite maior confiança ou é preciso cautela?
-Cuidado, há que ser prudente na forma como se aborda o adversário. Os jogadores transcendem-se até por serem competições diferentes. O futebol italiano, toda a sua moldura, tem uma grande matreirice, são matreiros que nunca mais acaba, às vezes até parece que fazem de propósito para adormecer o adversário. Quando uma equipa se distrai um bocadinho, eles estão em cima. É preciso estar concentrado em todas as circunstâncias, mesmo quando se tem a bola, porque assim que a equipa a perde eles rapidamente aproveitam a falha. Há que estar sempre alerta e nunca descansar mentalmente contra as equipas italianas, isso é que nunca.
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