"O Benfica parece um pouco mais trôpego das pernas, é capaz do melhor e do pior"
ENTREVISTA - António Conceição elogia a competência do futebol do Sporting e o trabalho de Rúben Amorim, assim como a aposta dos portistas em alguns jovens e o crescimento exibicional da equipa. Com Sporting e FC Porto fortes, consistentes e com sete pontos de vantagem para as águias, o treinador acredita que a luta pelo título deverá ser apenas entre o atual campeão e os dragões
Corpo do artigo
António Conceição vê o campeonato mais desequilibrado, até pelo facto do Braga estar mais longe dos grandes.
Como olha para o campeonato nacional, nomeadamente o topo?
-Mais do mesmo, os crónicos grandes a lutar pelo título. Creio que o Braga se afastou um bocadinho, depois de uns anos a atrapalhar muito os grandes. O FC Porto investiu mais no jogador que já tinha sob contrato. Fez regressar alguns jovens e melhorou bastante, está uma equipa consistente, muito regular e isso faz com que tenha fortes possibilidades de ganhar títulos. O Sporting emergiu há ano e meio, do sexto lugar para ser campeão a época passada e nesta continua muito competente, o que demonstra bem a qualidade do seu treinador. O Benfica investiu muito, mas, comparando com as outras duas, parece uma equipa um pouco mais trôpega das pernas, não sei se é uma coisa individual ou coletiva, mas não consegue funcionar tão bem quanto os rivais. É mais instável, capaz do melhor e do pior. Quando isso acontece é muito difícil ganhar títulos e já estão a sete pontos do FC Porto e Sporting, depois da derrota no último clássico. Resumindo, vejo Sporting e FC Porto numa linha de continuidade. O Sporting continua a ter um futebol simples, mas que arranja sempre uma solução para ganhar, o FC Porto melhorou em termos exibicionais e o Benfica oscila entre o bom e o mau.
O Benfica está fora da corrida ao título?
-A situação pontual esta mais difícil para discutir o título, ainda e possível mas as exibições e a regularidade do Sporting e do FC Porto não perspectivam uma aproximação a estas duas equipas, a não ser que haja um abaixamento de forma acentuado... Sinceramente esta muito difícil para o Benfica. É possível recuperar, a matemática diz isso, mas é complicado.
Como viu a saída do Jesus?
-A saída do Jesus é fruto da instabilidade que reina no seio da equipa e também pela razão de que ele terminava contrato no ano de 2022. Houve ainda o interesse de outras equipas, nomeadamente do Flamengo, o que criou um ambiente difícil. Juntando a isso alguns conflitos internos e os últimos resultados, precipitou-se a saída do treinador.
O Braga perdeu qualidade ou os grandes ficaram mais fortes?
-Diria que as duas coisas. Braga caiu um pouco, talvez culpa de algum desinvestimento. É uma aposta diferente, não sei. Há dois ou três anos atrás senti que se o Braga tivesse investido um pouco mais em dois ou três jogadores acima da média poderia ter sido campeão, quem sabe. Talvez seja o meu braguismo a falar. Certo é que o futebol, português precisava de investimento das equipas médias para ser mais competitivo e nivelado por cima. Com dinheiro posso comprar um Mercedes, senão tenho de ir comprar um Fiat, os dois carros podem chegar ao destino mas não da mesma forma...