Defesa obriga a cuidados: golos sofridos ao nível dos piores registos do século
Nélson Veríssimo forçado a afinar setor que já permitiu 33 golos. Mais (35) só em 2004/05 e 2017/18. Encarnados apresentam média de 1,1 tentos sofridos em 31 partidas esta temporada. Rivais batem este rendimento, com médias inferiores: o Sporting consente 0,8 e o FC Porto 0,9 por jogo
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Escolhido como sucessor de Jorge Jesus no comando do Benfica, Nélson Veríssimo operou desde logo uma importante mudança na equipa, abdicando do esquema de três centrais utilizado pelo anterior técnico e implementando uma defesa a quatro.
A primeira etapa da segunda passagem de Veríssimo pela formação principal das águias ditou, porém, um desaire com o FC Porto, num jogo que consolidou uma tendência das águias em 2021/22, nomeadamente no que diz respeito às fragilidades defensivas.
Com os três tentos marcados pelos azuis e brancos, os encarnados sofreram já 33 na presente temporada, em 31 jogos. Neste milénio, apenas por duas vezes, em 2004/05, com Giovanni Trapattoni, e 2017/18, com Rui Vitória, o clube da Luz atingiu esta fase da época com mais golos permitidos aos adversários: 35 em ambas as ocasiões.
Nélson Veríssimo, que ao serviço da formação secundária comandava uma das melhores defesas da Liga SABSEG (à 15.ª jornada tinha 16 golos sofridos, sendo então batido por Casa Pia, Feirense, Penafiel e Trofense), tem agora de afinar o esquema no topo. Com Jorge Jesus, as águias tinham sofrido apenas sete golos nos primeiros 15 jogos da época, vendo então disparar esse registo para 23 nos 15 embates seguintes. Agora, com Nélson Veríssimo, e diante do FC Porto, as águias sofreram mais três golos.
Com uma média de 1,1 tentos consentidos, o Benfica apresenta assim um desempenho claramente inferior ao dos rivais. O Sporting tem uma média de 0,8 golos sofridos e o FC Porto de 0,9. E se olharmos apenas ao comportamento na Liga, a tendência mantém-se. Se os leões permitem apenas 0,4 golos por jogo aos adversários, o FC Porto sofre em média 0,6 por desafio e as águias 0,9.
Números pesados como há 60 anos
A permissividade no capítulo defensivo ficou evidente sobretudo em alguns dos principais jogos disputados pelo Benfica em 2021/22. Isto porque frente a emblemas como Bayern Munique e FC Porto, ambos a dobrar, Sporting e Vitória de Guimarães as águias viram os opositores faturarem pelo menos por três ocasiões - o campeão germânico superou essa fasquia, marcando quatro vezes na Luz e cinco em Munique. Os germânicos foram mesmo um pesadelo contra o restante bom desempenho na Liga dos Campeões. Isto porque, e incluindo os jogos das eliminatórias, as águias sofreram apenas mais um golo, do PSV, na Luz, nos restantes oito desafios, resistindo a Barcelona, Dínamo Kiev e Spartak Moscovo.
Os seis encontros com pelo menos três golos permitidos são apenas superados de forma negativa pelo registo de há 60 anos, em 1961/62. No ano da segunda conquista da Taça dos Campeões Europeus, as águias tinham nas mesmas 31 partidas sete com três ou mais golos sofridos. Mas se na altura haviam vencido três, agora perderam cinco e empataram um, com os minhotos. Desde então, houve mais sete épocas a sofrer pelo menos três golos em seis jogos, sendo que em 2000/01 foram sete os desafios.
Últimos 15 minutos são período mais duro
O duplo embate com o FC Porto significou mais seis golos sofridos, mas os portistas acabaram por atacar o Benfica fora daquele que até agora tem sido o período mais vulnerável: os derradeiros 15 minutos das partidas. Nesta fase, as águias somam já nove golos consentidos. Já os dragões fizeram mossa na Taça sobretudo no primeiro quarto de hora e na Liga nos 15" finais da etapa inicial. Quanto à pior fase dos encarnados, o Bayern, que faturou quatro, e o V. Guimarães (dois) foram que mais marcou.
Fatais golos de rajada
Nas cinco últimas derrotas do Benfica houve um pormenor em comum que foi determinante em todas elas: o encaixar de golos quase seguidos, a deixar a equipa encostada às cordas, quase sem hipóteses de resposta.
Assim aconteceu duas vezes com o FC Porto, que para a Taça fez dois nos primeiros 7", deixando o Benfica quase nocaute. Para a Liga, tal ocorreu entre os 34" e os 37", quando Fábio Vieira e Pepê afundaram as águias num repente. E o mesmo já tinha acontecido com o Sporting, que fez o 2-0 e o 3-0 de rajada (62" e 68"), mas também nos dois duelos com o Bayern, que na Luz até marcou três vezes num ápice (aos 80", 82" e 85").
Um pormenor que contrasta com o sucedido na época passada, em que só por uma vez o Benfica tinha sofrido dois tentos no espaço de dez minutos ou menos: foi contra o Rangers, num empate a três bolas. Curiosamente, nos últimos dez duelos com o FC Porto, em sete derrotas sofridas pelas águias, cinco delas tiveram este pormenor em comum: os azuis e brancos deixaram o opositor atordoado com golos de rajada.