ENTREVISTA (Parte 2) - Em conversa com O JOGO, Jorge Mattamouros, sócio do Benfica que pede em tribunal a destituição de Luís Filipe Vieira, diz que não é um "pau mandado".
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LEIA AQUI A PRIMEIRA PARTE DA ENTREVISTA A JORGE MATTAMOUROS
Recusa ser considerado um testa de ferro de Noronha Lopes para uma futura recandidatura dele?
-Só posso dizer claramente que não e as pessoas com o tempo perceberão se é verdade ou não aquilo que eu digo. Mas digo mais, a minha visão para considerar que esta ação é importante casa com a visão do João, pois há uma comunhão de interesses e objetivos de pessoas que têm estado preocupadas. E essa comunhão é libertar o Benfica de Luís Filipe Vieira. A diferença, que é legítima, é que algumas pessoas pensam que é possível fazê-lo pela via normal, dos órgãos do clube. Acho isso tudo ótimo, a minha diferença é que eu já não acredito nesses mecanismos internos porque todo o clube está capturado, desde a BTV à Direção, à comunicação. Se eu estiver errado, se o caminho deles for suficiente, a minha ação morre porque o problema fica resolvido.
Este processo poderá ter um desfecho antes de terminar o mandato de Luís Filipe Vieira, em outubro de 2024?
-Acredito. Este não é um processo-crime, que demoram sete ou oito anos, é um processo cível, que pode demorar um ou dois anos.
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O Benfica prometeu que o autor desta ação "sofrerá todas as consequências patrimoniais e associativas por agredir o Benfica com a única finalidade de se promover". Ficou preocupado?
-De forma alguma. O que eu faço na minha carreira são alguns dos litígios mais mediáticos do mundo nos últimos dez anos, não é atirar postas de pescada, é o que eu faço. É prática comum quando uma das partes está muito nervosa reagir com enorme agressividade, com uma ameaça. Aquilo que vejo, para além de um comunicado em que mais uma vez confunde o Benfica com Luís Filipe Vieira, porque sai em defesa dele, é uma ação que revela preocupação.
A sua ação sustenta-se em parte na liquidação da dívida do Benfica ao Novo Banco e da relação que isso terá tido na reestruturação da dívida pessoal de Luís Filipe Vieira à mesma instituição bancária. Como faz essa ligação?
-O passivo geral do clube não foi reduzido significativamente nesse período, houve alguma redução, mas houve uma amortização total com um banco apenas, o Novo Banco. A utilização de dinheiro do Benfica para pagar dívida do Benfica é obviamente adequada, não tem nada de ilegal. Quando tomo a decisão de pagar dívida bancária a este banco específico porque estou a título pessoal a negociar com ele uma reestruturação, isso é que é o problema. Podem perguntar-me se tenho prova disso, mas respondo que é uma prova por inferência, ninguém irá conseguir mostrar que era essa a intenção que estava na cabeça de Luís Filipe Vieira. A questão é se a prova é ou não suficiente, toda junta, para conduzir à inferência lógica de que houve influência do pagamento das dívidas do Benfica no processo de reestruturação de Luís Filipe Vieira.
"Não houve cadernos eleitorais, a marcação das eleições foi feita cinco dias antes, que é uma irregularidade estatutária, as urnas foram escondidas para evitar qualquer perceção de fraude e à última da hora foram seladas e transportadas para parte incerta por uma empresa obviamente associada ao clube e a Vieira"
Nos pressupostos da ação, alega que houve fraude eleitoral nas eleições do Benfica, em outubro. De que forma é que essa fraude aconteceu?
-A minha ação o que diz é diferente. Diz que foi sonegada ao sócio toda e qualquer possibilidade de escrutinar o resultado. Não se contam os votos e as urnas desaparecem. Houve controlo absoluto do voto eletrónico, sem mais ninguém na sala, sem auditor externo. O que eu digo é que o processo eleitoral foi fraudulento, foi desenhado do princípio ao fim para assegurar a manutenção de poder de Luís Filipe Vieira. Digo isto sem reserva nenhuma e tenho prova abundante e pública. Não houve cadernos eleitorais, a marcação das eleições foi feita cinco dias antes, que é uma irregularidade estatutária, as urnas foram escondidas para evitar qualquer perceção de fraude e à última da hora foram seladas e transportadas para parte incerta por uma empresa obviamente associada ao clube e a Luís Filipe Vieira. Só depois vem o voto eletrónico e o que eu digo na ação é que todos os indícios apontam para fraude, mas não digo que foram adulterados os resultados, digo que os indícios apontam nesse sentido. Quando o processo de voto não é justo e democrático, isso serve para que os tribunais anulem as eleições.
Critica também o timing de lançamento da OPA do Benfica e o suposto benefício de Luís Filipe Vieira...
-A audição de Luís Filipe Vieira trouxe muita informação nova. Sabia-se que a OPA foi considerada irregular, o que se percebeu agora é o porquê de ter sido montada. Podem dizer-me que é inferência minha, é inferência sim, mas com as peças todas do puzzle o juiz tem de decidir se 51% é mais provável que esta OPA teve envolvimento de interesses pessoais ou que não teve. A minha inferência é que a OPA teve uma razão de ser associado aos interesses pessoais de Luís Filipe Vieira.