ENTREVISTA >> Nuno Santos, médio emprestado pelo Benfica, ao Paços de Ferreira está a realizar a sua melhor época. Desdobrar-se em várias funções não é problema
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Trinta e um jogos, cinco golos, duas assistências. Estes são os números que Nuno Santos apresenta esta temporada, a mais consistente desde que abandonou o Benfica B. Titular indiscutível no Paços de Ferreira, o médio fala do seu percurso, do crescimento da equipa desde que César Peixoto assumiu o comando técnico, dos adversários, e da possibilidade de voltar à Luz, pois tem contrato com o Benfica até 2024.
Em entrevista a O JOGO, diz que a chegada de César Peixoto ao clube deu outra "alma" à equipa. "O Paços de Ferreira tem de começar a olhar para cima, basta de olhar para baixo", atira com ambição.
Os números demonstram que está um jogador mais sólido esta temporada. Concorda?
- Faço por isso. Mas esta evolução não tem apenas a ver comigo. Tem a ver com o projeto que abracei este ano, o clube onde estou, os treinadores que têm trabalhado comigo. Sinto-me muito bem, concretamente com o modelo de jogo adotado pelos treinadores. Integrei-me bem no grupo e isso ajuda-me a ter bons desempenhos individuais. Se a equipa não estivesse bem, se não tivesse qualidade, se não tivéssemos os resultados que estamos a ter, a parte individual também não sobressaía. Se uma das partes não andar a outra também não vai andar.
Mudou a sua forma de jogar esta época, sente-se um outro jogador?
- Não há mudanças radicais na minha forma de jogar, embora tenha havido uma ligeira alteração na posição que ocupo em campo. Hoje em dia, tanto jogo a dez como recuo um pouco no terreno para jogar no miolo com outro médio. Sinto-me confortável nos dois papéis e se formos por aí sinto-me um outro jogador.Antigamente, só jogava a dez.
O que ganhou o Paços de Ferreira com a chegada de César Peixoto?
- Ganhou mais energia. Vínhamos de resultados menos positivos tendo em conta a qualidade da equipa. Ele trouxe uma alma diferente. O modelo de jogo, as suas ideias, enquadram-se mais com as características dos jogadores que temos. Quando o treinador tem ideias que vão ao encontro das características dos jogadores, torna-se tudo mais simples. Cada treinador tem o seu modelo, a sua ideia de jogo, a sua formação. Em termos táticos mudou de um 4x3x2x1 para um sistema mais híbrido que varia mais a atacar e a defender. Mudou sobretudo as ideias, mais do que o sistema. Antigamente, tínhamos um jogo mais direto, agora temos um jogo um pouco mais trabalhado. Começamos de trás para a frente, com uma construção mais apoiada. Foi essencialmente isso que mudou em relação ao passado e nós sentimos as diferenças.
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A equipa já chegou ao patamar que esperavam?
- Sim, estamos cada vez mais fortes e os resultados falam por si.
A nível individual, chegar à seleção principal continua a ser um dos seus objetivos?
Tenho esse objetivo, as chamadas às seleções jovens e os títulos que eu e a minha geração conquistaram faz-me pensar cada vez mais nessa possibilidade e no sonho de um dia representar o nosso país. É o expoente máximo na carreira de um jogador. É um dos meus objetivos mas até lá tenho de cumprir um longo percurso. Para já, vou focar-me apenas no presente porque é isso que eu consigo controlar.
Embora o Paços de Ferreira não entre nestas lutas, parece-lhe que o campeonato está decidido?
- Ainda faltam nove jornadas, vinte e sete pontos. Há muito campeonato para se discutir. As contas só se fazem no fim.
E até onde pode chegar o Paços de Ferreira?
O Paços de Ferreira tem de começar a olhar para cima, basta de olhar para baixo. Primeiro temos de garantir a manutenção, mas temos de pensar em objetivos diferentes. Com a qualidade do grupo e com o trabalho diário que fazemos, que é muito forte, acredito que iremos conseguir olhar para cima e ambicionar a coisas mais bonitas, não apenas a manutenção.
O que é que lhe falta para dar o salto que todos os jogadores reclamam e que só alguns conseguem lá chegar?
- Tenho procurado ter consistência, era o que me faltava. Tenho conseguido fazer uma época mais consistente. Nos últimos dois anos, tanto fazia um jogo muito bom como logo a seguir um menos bom ou mau. A linha em termos exibicionais está mais serena. Tento trabalhar também a vertente física, que me poderá levar para outros patamares.
"Ganhámos mais energia com César Peixoto. Há uma alma diferente"
"Gaitán não tem tiques de estrela"
O futuro é já ao virar da esquina e embora não tenha recebido indicações do estado maior da Luz, Nuno Santos acredita que tem valor para regressar ao clube que o formou.
Ainda tem contrato com o Benfica, acredita que vai voltar e integrar a primeira equipa?
- Acredito. Acredito no meu valor, tenho capacidade para vingar no clube que me formou. Mas como gosto muito de pensar no presente e no que eu consigo controlar, tento apenas focar-me no meu trabalho diário e aquilo que tiver de acontecer vai acontecer.
Paulo Bernardo e Gonçalo Ramos estão a jogar com frequência no Benfica. Isso é uma garantia de que no regresso à Luz irão olhar para si de uma forma diferente?
- Continua a haver espaço para os jovens provenientes da formação do clube. No ano passado, não houve um aproveitamento tão grande, mas isso tem a ver com as ideias do treinador. Nos últimos anos, têm apostado. Aliás, isso reflete-se nas vendas que têm feito. Acredito que com a qualidade que há na formação cada vez mais jovens possam chegar à equipa principal.
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Gostava de estar no lugar de Paulo Bernardo e Gonçalo Ramos?
- Cada jogador tem o seu percurso e no momento em eu estava na equipa B o passo mais acertado era sair para conseguir ter mais minutos. Eu quero é jogar. Sou novo para estar no banco ou na bancada, preferi sair. Não tinha lugar na equipa principal e decidimos que sair seria a melhor opção. Penso que foi a decisão certa.
Já recebeu algum sinal do Benfica de que irá regressar no fim da época?
Não me disseram nada e eu tento também não pensar muito nisso.
Como tem sido a relação com o Gaitán. Tem aqueles tiques de estrela?
- Não, nem de perto nem de longe. Temos consciência de que é um jogador que já esteve nos maiores palcos do futebol mundial, reconhecemos a qualidade que ele tem, nos treinos é fácil ver isso, mas o relacionamento é igual aos outros.
É visto como uma referência no balneário?
- No clube, todos ambicionam fazer uma carreira como o Nico fez. Eu e ele temos características de jogo semelhantes e acabamos por nos entender bem.