Nuno Cristóvão e o Torreense: "Desafio difícil e arriscado, mas muito aliciante"
É um dos principais rostos do futebol feminino em Portugal e em entrevista ao nosso jornal, Nuno Cristóvão abordou a nova aventura no Torreense, depois de três épocas ao serviço do Sporting. O treinador refere que a entrada de mais equipas na modalidade promoverá maior equilíbrio e competitividade
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O que o seduziu a aceitar o projeto do Torreense?
É um desafio difícil e arriscado, mas muito aliciante. O que me seduziu foi fazer coisas novas num dos pioneiros no futebol feminino do distrito de Lisboa. Tem um Direção que quer apostar nesta vertente do futebol e preciso de trabalhar e entendi aceitar este projeto.
Sente que é um retrocesso na sua carreira?
Nunca considerei um retrocesso ficar a treinar, nem é a primeira vez que tomo decisões pouco compreensíveis à maioria das pessoas. Já só faço o que quero e me apetece desde que tenha condições para o fazer. Não considero que seja um passo atrás e não me caem os parentes na lama por passar de uma equipa de topo mundial para uma equipa de topo regional e nacional e de uma equipa profissional para uma equipa completamente amadora. Um passo atrás seria não treinar.
Um dos objetivos será a subida de divisão?
Claro, sabendo que o próximo ano será de transição no modelo competitivo das mulheres e raparigas em Portugal. Na época 2020/21, a primeira divisão, hoje com 12 equipas, só terá 10, ou seja vão descer três equipas ou quatro. Pode só subir uma equipa diretamente. Está tudo em aberto. Sem ovos não se fazem omeletas e é preciso formar um plantel competitivo para discutir jogos. O objetivo será o apuramento para a segunda fase e aí discutir a subida de divisão, sabendo que o campeão da zona sul pode até nem subir. A nossa ideia é formar um plantel competitivo.
Para a evolução do futebol feminino, depois da entrada de Sporting, Braga e Benfica, sente que fazem falta mais equipas como o FC Porto e não só?
Sim, mas vai acontecer a médio prazo, porque o que acontece na América do Sul vai acontecer na UEFA e para poderem entrar em competições europeias, os clubes terão de ter equipas femininas. Vai ser mais rápido do que pensam. Uma competição que se reduz a três equipas, contando com o Benfica, é mais pobre. Nas duas últimas épocas, a liga decidiu-se em dois jogos e se queremos uma competição com mais qualidade, tem de haver mais equipas, apostando os clubes na formação. Quando estas jogadoras jovens chegarem aos seniores não vão caber todas nas equipas profissionais e como querem jogar, vão reforçar outras equipas do nível abaixo e também isto vai fazer com que o nível competitivo seja mais alto e equilibrado. Esta época já vimos 2/3 equipas fazerem campeonatos muito interessantes, mas é preciso mais. Com a entrada de mais equipas, o fosso vai diminuir e o nível será cada vez mais equilibrado.