"Muito orgulhoso" do trabalho desenvolvido no Sporting ao longo das últimas três épocas, pese a "mágoa" pela ausência de títulos em 2018/19, Nuno Cristóvão, que acaba de assinar por um ano com o Torreense e abordou alguns dos aspetos que marcaram a temporada leonina, sem nunca deixar de assumir responsabilidades pelo seu trabalho.
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Numa longa entrevista a O JOGO, o experiente treinador falou de vários aspetos em torno da equipa feminina. Postura de Frederico Varandas é enaltecida.
Pouco depois da eleição do presidente Frederico Varandas, deu-se a saída de Raquel Sampaio e entrada de Filipe Vedor para o cargo de diretor. De que forma essa situação influenciou o rendimento da equipa?
A entrada do Filipe foi um fator de estabilização, mesmo não tendo ele experiência na área do futebol das mulheres e raparigas. Tem muita experiência na área do futebol, de tal maneira que terá responsabilidades acrescidas nas novas tarefas. Não acho que possa ter sido um fator negativo e trabalhámos sempre em grande sintonia. O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita e a época nasceu torta. Fomos tentando endireitar o caminho, umas vezes conseguimos outras não. São ensinamentos que ficam para a vida.
Sentiu que o grupo esteve sempre consigo?
Nunca senti que as jogadoras não quisessem ganhar e elas vivem de títulos. Senti que ao longo da época houve grandes oscilações no rendimento desportivo de algumas jogadoras e teve implicações diretas no rendimento da equipa. Tivemos várias jogadoras-chave nas épocas anteriores que tiveram uma participação muito reduzida. A Ana Borges esteve quase meia época sem poder competir. Foi só a melhor jogadora das épocas anteriores, outras jogadoras como a Diana, que tinha sido uma das melhores marcadoras não conseguiu manter sempre uma prestação constante. Podem dizer que pu-la a jogar noutros lugares, sim. Além de termos perdido jogadoras para nosso rival direto, não conseguimos colmatar uma lacuna evidente no lado esquerdo do setor ofensivo. Jogaram lá algumas vezes a Diana, mesmo a Solange, ou a Ana Capeta. A Persson confirmou-se que não tinha condições para jogar por inadaptação, ou se calhar por responsabilidade da equipa técnica e quem veio, tinha de vir para jogar.
A meio da época perde também a Sharon por lesão...
Isso são vicissitudes da competição, era um elemento fundamental no meio-campo e a única que podia fazer de forma mais eficaz a posição 10, jogando também a 8. Não tínhamos ninguém no plantel para a substituir.
A capitã de equipa, Patrícia Gouveia, também terminou a carreira com a época em curso e assumiu as funções de team manager...
A Patrícia começou a jogar na parte final da época passada e começou bastante bem esta época. Por questões de saúde, saiu. Felizmente acho que foi um ganho na estrutura, dado que o diretor repescou-a para outras funções, libertando-o até para ter disponibilidade para fazer outras coisas e acho que a Patrícia teve um papel muito importante na ligação entre jogadoras e estrutura técnica a estrutura diretiva. Vem de encontro ao que defendo que quando as jogadoras se retiram da atividade podem ser úteis noutras funções pelo grande conhecimento que têm e a Patrícia tem esse conhecimento.
O Sporting tem agora uma estrutura cem por cento feminina. Como encara essa situação?
Como disse anteriormente, há muito tempo que defendo que as jogadoras de futebol devem procurar continuar ligadas à modalidade, pois podem ser uma mais- valia. O género é pouco importante, importante é competência, ninguém tenha dúvidas. A Maria João Xavier [nova diretora] exigi que fosse diretora do futebol feminino do 1.º Dezembro quando era treinador. A professora Susana [nova treinadora] é habilitada para a tarefa que foi contratada, embora nunca tenha estado num contexto destes, pois esteve sempre ligada a seleções distritais e nacionais. Faz parte do percurso e sobre a Patrícia já falei.
Falou em competência. É qualidade que reconhece ao presidente Frederico Varandas?
Tenho pena que nem sempre se reconheça aos atuais responsáveis do Sporting competência para as tarefas. Posso dizer que o presidente é altamente competente para as tarefas que tem, um profundo conhecedor do clube, realidade do futebol e não vou esquecer isso, da mesma maneira que não esqueço algumas atitudes do anterior presidente, quando se colocou ao meu lado em momentos muito difíceis. O presidente Frederico Varandas teve a seriedade e honestidade de me chamar para uma reunião que decorreu com elevação muito grande e de forma digna de parte a parte, onde me deu a conhecer a decisão do Conselho de Administração. E pelos motivos invocados, reforcei a ideia que tinha do presidente, um indivíduo com princípios e valores e não vai abdicar deles na vida pessoal e enquanto dirigente. Gostava que os adeptos do Sporting, a quem estou grato, procurassem entender melhor as decisões deste presidente.
Raquel Sampaio, anterior diretora, que trabalhou consigo mais de duas épocas. Através das redes sociais, falou da necessidade de voltar a haver competência na estrutura feminina, depois de perdido o título. Que comentário lhe merece?
Não me merece comentários. Dizer só que os responsáveis do Sporting sabem muito bem o que devem fazer e tenho muita pena que em determinadas circunstâncias os adeptos do Sporting não percebam isso. Se tudo fosse tornado público, se calhar teriam um entendimento diferente sobre as coisas.
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