Luís Filipe Vieira quer título europeu com 80 ou 90 por cento de prata da casa no plantel, o que nunca aconteceu no atual modelo
Corpo do artigo
A assinalar o 15.º aniversário da sua presidência, Luís Filipe Vieira voltou a manifestar o desejo de levar o Benfica a novo título de campeão europeu, vontade expressa já há algum tempo. Assente na aposta na formação, o sonho do presidente passa por consolidar uma equipa cuja maioria de jogadores tenha passado pelo Caixa Futebol Campus. "Se o Benfica quer voltar a ser campeão europeu, só o conseguirá com jogadores da sua formação, com uma equipa de identidade própria, e havemos de o conseguir", disse na última quarta-feira, assegurando que "dentro de três anos" o clube da Luz será composto por "80 ou 90 por cento" de jogadores vindos do centro de estágio. No entanto, o historial dos vencedores da Liga dos Campeões, que substituiu a partir de 1992/93 a então Taça dos Campeões Europeus, mostra que... a formação não dá títulos na principal prova europeia. Isto porque nunca nenhuma equipa conseguiu erguer o troféu com percentagens tão elevadas de atletas das respetivas camadas jovens.
O JOGO fez as contas e, desde 1992/93, apenas Ajax e Barcelona se aproximam dos valores indicados pelo dirigente máximo da Luz, com 59,3% e 57,7%, respetivamente, de atletas formados no clube
O JOGO fez as contas e a teoria de Vieira cai por terra. As equipas que mais se aproximam dos números proferidos pelo dirigente máximo do Benfica são apenas duas e ficam bastante abaixo da fasquia traçada. Conhecido por ter uma das melhores escolas de formação do mundo, o Ajax, que curiosamente é o próximo adversário do Benfica na Liga dos Campeões, foi campeão europeu em 1994/95 com 16 jogadores provenientes dos escalões de base, o que equivale a 59,3 por cento. Depois da formação holandesa surge o Barcelona. Orientados por Luís Enrique, os catalães derrotaram a Juventus na final de 2014/15 com 57,7 por cento de jogadores vindos da cantera blaugrana - número que precisamente a partir daí viria a cair bastante -, motivo pelo qual o objetivo traçado por Luís Filipe Vieira parece ganhar contornos complicados. Para concretizar em pleno a vontade do seu líder, o emblema da Luz teria assim de alcançar um feito sem precedentes.
Numa comparação com o FC Porto, único campeão europeu português ao longo deste período, a equipa então comandada por José Mourinho recorreu a apenas seis jogadores oriundos das camadas jovens (Vítor Baía, Bruno Vale, Jorge Costa, Ricardo Costa, Paulo Machado e Hugo Almeida), o que equivale a um rácio de 22,2 por cento, o que indicia as dificuldades existentes para brilhar na Europa com a prata da casa. Note-se ainda o crescimento do número de jovens entre os inscritos nos últimos anos, face aos regulamentos da UEFA, que impõem quatro formados no clube, num total de oito localmente. "É possível ter equipas supercompetitivas com jogadores da nossa formação e não cometer loucuras, como fizemos algumas", atirou Luís Filipe Vieira, que nos últimos anos, com Rui Vitória, tem assistido ao lançamento de vários atletas na alta-roda do futebol da Luz.
Plantel precisa de virar ao contrário
O Benfica tem lançado todos os anos na equipa principal vários atletas formados no Caixa Futebol Campus, mas o atual plantel encarnado está, contudo, bem longe dos números que Luís Filipe Vieira almeja. Isto porque se a meta mínima do presidente benfiquista são os 80 por cento de futebolistas provenientes da cantera do Seixal, o lote de jogadores à disposição de Rui Vitória contabiliza apenas 17,9 por cento de atletas que, olhando aos critérios da UEFA para as inscrições nas competições europeias, preenchem este requisito. Num plantel de 28 futebolistas, são apenas cinco os que integram o critério de "jogador formado no clube", casos de Bruno Varela, Rúben Dias, Yuri Ribeiro, Gedson e João Félix (este último foi até inscrito pelas águias na Champions na lista B).
Olhando ao lote de atletas às contas de Rui Vitória, apenas 17,9 por cento são formados no clube
Luís Filipe Vieira apontou o seu objetivo para um prazo de três anos e a verdade é que, para tal acontecer, teria de inverter por completo a base do plantel. Ou seja, a manter em 28 o número de jogadores à disposição do treinador, teriam de ser... 23 formados no clube. E Rui Vitória reconhece que a formação é o caminho a seguir. "É preciso não perder este rumo e o presidente tem-no feito muito bem. As nossas armas financeiras não são iguais às dos principais clubes europeus e a diferença tem de residir na inteligência, na astúcia, na antecipação. E o Benfica está nessa linha", sublinhou o técnico.
Jogadores campeões europeus formados nos clubes desde a nova liga dos campeões
Época Vencedor Formados
1992/93 Marselha 2
1993/94 Milan 6
1994/95 Ajax 16
1995/96 Juventus 2
1996/97 Dortmund 4
1997/98 Real Madrid 11
1998/99 Man. United 8
1999/00 Real Madrid 6
2000/01 Bayern 3
2001/02 Real Madrid 5
2002/03 Milan 3
2003/04 FC Porto 6
2004/05 Liverpool 6
2005/06 Barcelona 8
2006/07 Milan 5
2007/08 Man. United 9
2008/09 Barcelona 10
2009/10 Inter 3
2010/11 Barcelona 10
2011/12 Chelsea 1
2012/13 Bayern 5
2013/14 Real Madrid 6
2014/15 Barcelona 15
2015/16 Real Madrid 10
2016/17 Real Madrid 10
2017/18 Real Madrid 10