Carlos Garcia, 12 anos como jogador bracarense e 13.º sócio do clube, elogia a perspicácia de Salvador no resgaste de Carvalhal
Corpo do artigo
Carlos Carvalhal largou Vítor Manuel e, com 129 jogos, está a dois de igualar Joseph Szabo (131), pelo que o terceiro lugar do pódio entre os treinadores com mais partidas à frente do Braga está ao alcance do técnico de 58 anos, ficando apenas com Jesualdo Ferreira (153) e Manuel Cajuda (231) por diante. Uma ficha já mais densa do que a de jogador: somou 108 presenças nos guerreiros. Ainda procura arrumar a casa nesta terceira passagem pelo banco do clube do coração e assegurar resultados mais satisfatórios.
Quem sente Braga e o sucesso de Carvalhal como poucos é Carlos Garcia, de 74 anos, histórico do emblema minhoto, onde também foi jogador e treinador. Dirigiu o antigo defesa no 1º Maio, e ainda em Chaves e Espinho, num total de 61 jogos. “Vai chegar onde quer, ele e o Braga. Temos de estar cientes de um período de transição de uma equipa que estava certinha no passado e que conheceu saídas importantes. Vendo a perspetiva de talento individual, simpatizo com Gharbi e Gabri, e acredito que no espaço de um mês já todos veremos um Braga perto do seu melhor”, defende Garcia, que treinou os minhotos em 90/91 e 91/92, tendo sido antes adjunto de Quinito, na época de 81/82, acompanhando o mestre de smoking no Jamor. “Apanhou um comboio em andamento, não foi responsável pelas escolhas dos jogadores. Todos nós, guerreiros do Minho, devemos dar um bocadinho de tempo para que o trabalho apareça, até porque tivemos algum alento na Europa”, balança Garcia, que foi também adjunto de Carvalhal quando este assumiu, de forma efémera, o banco do Braga, em 2006/07.
O técnico vive agora o terceiro capítulo no clube, tendo entrado para o lugar de Daniel Sousa. “O presidente é muito perspicaz e sabe o que pretende, reconhece a qualidade do trabalho do Carvalhal. Talvez a culpa na primeira passagem tenha sido minha!”, brinca, resumindo o regresso. “Vendo essa capacidade, [Salvador] foi buscá-lo numa situação de erro de casting, segundo ele. Quis alterar as coisas. E temos o treinador certo, privilegiado por conhecer o clube e ter essa paixão guerreira. Com ele podemos ser mais fortes”, valoriza.
O antigo médio decifra a vocação percecionada de um técnico com potencial. “A carreira dele é de esforço e dedicação, era útil pela raça que tinha. Era ávido de leituras, fazia perguntas, estava próximo da equipa técnica e levava os livros para o estágio. Implicava-se na sede de saber mais, via-se que vinha algo bom para a classe de treinador”.
Impacto de Quinito
Carlos Garcia elogia o astuto aprendiz. “Já o conheço desde os 17 anos, foi buscar muito ao Quinito no que é essa preocupação pelo estado anímico dos jogadores. Era fácil ficar-se marcado por quem tinha um condão enorme de entrar na cabeça dos atletas”, conta o sócio n.º13 do Braga. Fala com autoridade e gosto sobre o sonho do título que grassa na Pedreira. “Numa perspetiva fria não é fácil ultrapassar os três grandes, há diferenças de orçamento e massa humana. Mudou muito, é certo, as diferenças são abismais para o meu tempo! O Braga, hoje, pode discutir todos os jogos mas a classificação final é outra coisa. Obriga a distrações e épocas más dos outros”.
Rendimento de Horta: “Vejo algum desgaste”
Com apenas três golos e duas assistências, em 16 jogos, Ricardo Horta vai dando mostras de estar uns furos abaixo do rendimento de outras épocas na Pedreira. Carlos Garcia concorda. “Penso que já não esteve no seu melhor na época passada. Se nos cingirmos a esta, não está a marcar diferenças como o fazia há três ou quatro anos. Reconheço o seu elevado grau de entrega, mas não tem sido tão esclarecido e desequilibrador. A equipa ressente-se, o seu passado no clube é enorme”, elogia.
“Deu muito ao Braga e mostra o entusiasmo de querer recuperar esse protagonismo. Mas vejo algum desgaste, foram várias épocas seguidas de Horta e mais dez. A gestão nunca passava por ele. Há um cansaço físico e mental. Também fui capitão e senti isso”, remata.