ENTREVISTA - Médio brasileiro confessa estar com uma "ansiedade gostosa" para enfrentar o FC Porto e acredita que os algarvios podem surpreender, porque os últimos resultados não retratam a qualidade da equipa.
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Maurício Júnior, 34 anos, chegou em janeiro ao Portimonense e não tardou a ser destaque, sobretudo pelos golos decisivos que marcou nas importantes vitórias sobre Paços de Ferreira e Marítimo. Seguiu-se o reverso da medalha, porque os algarvios não ganham, nem marcam golos há quatro jornadas. Nas vésperas da deslocação ao Dragão, o médio brasileiro fala destes primeiros tempos em Portugal, lança o desafio com o FC Porto e passa em revista algumas curiosidades da sua já longa carreira, que o levou, por exemplo, à conquista de títulos na Rússia e na Grécia.
Tem sete jogos, quatro como titular, e marcou dois golos. Está satisfeito com este período inicial no Portimonense?
-Não posso dizer que estou totalmente satisfeito, acho que não é a palavra mais certa. Claro que estou contente, mas sei que é importante melhorar, fazer mais, e sei que posso ajudar a equipa. Foram sete jogos, dois golos importantes, nem esperava esta repercussão, uma vez que foi tudo tão rápido. Feliz, sim, mas só parcialmente, por conta dos resultados, que ultimamente não têm sido positivos. Porém, acredito que com trabalho e seriedade tudo vai melhorar.
Com tantos anos de futebol, como explica este ciclo de quatro derrotas?
-Tive a oportunidade de ter participado noutros campeonatos, noutras equipas, é verdade, e também passei por situações assim, como em 2009, no Fluminense. Faltavam nove jogos, nós lutávamos pela permanência, precisávamos de vencer quase todos, ou seja, era bem mais difícil. Conseguimos reverter a situação, permanecemos na Série A e, por isso, conheço bem estas fases. É uma situação delicada, todavia, o Portimonense não está assim tão mal, e sou o tipo de pessoa que procura tirar coisas boas de todas as situações. Tenho visto que a nossa equipa trabalha bastante, muitas vezes bem, fazendo tudo o que o míster pede, mas futebol é resultados, e estes não estão a surgir para consagrar essa evolução.
Está também difícil chegar ao golo...
-Está difícil, sim. Criámos oportunidades, mas não fazemos golos, é difícil explicar, mas acredito, na sequência do que já disse, que os golos não tardarão a sair.
O próximo jogo é no Dragão...
-Vamos ao Dragão com perspetivas bem altas. Já tive a oportunidade, por quatro vezes, de jogar contra o Benfica, pelo Zenit e pelo PAOK, mas nunca defrontei o FC Porto, que é uma grandíssima equipa e anda sempre no topo. Estou com uma certa ansiedade, mas gostosa, e oxalá esse jogo venha já. Trabalhámos bastante durante a pausa no campeonato e acredito que toda a equipa está bem preparada para dar uma bela imagem. Independentemente de ser o FC Porto, é chegar lá e fazer o nosso melhor. Senão conseguirmos uma vitória, ao menos que venha um ponto para Portimão. Vamos preparar bem todos os pormenores.
Quais os pontos mais fortes do FC Porto?
-É uma equipa com muita intensidade e rápida nas movimentações, sempre com muitos jogadores envolvidos nos lances. É um jogo em que não podemos dormir! Temos de estar sempre ligados durante os 90 minutos, porque, no primeiro descuido, o FC Porto não perdoa. A equipa tem imensa qualidade individual e pode definir a qualquer momento.
Conhece algum jogador do plantel?
-Conheço o Pepe. Fiz uma cirurgia a um joelho em Portugal, há uns cinco anos, e o meu agente, que é muito próximo do Pepe, proporcionou o encontro. Foi um contacto rápido, do momento, mas é o único do plantel do FC Porto que conheço pessoalmente.
Já falou com o Danny e com o Luís Neto, seus antigos colegas no Zenit?
-Com o Danny falo mais vezes, com o Neto também, mas com o Danny é mais frequente, fizemos uma grande amizade e as nossas famílias também se dão. Grandes jogadores, com quem passei excelentes momentos, e, agora, são grandes amigos.
Equipas do topo têm outro nível
"As equipas são bem equilibradas, excluindo as quatro do topo, que são de outro nível, mas as restantes são equiparadas. Acho que temos um "time" muito bom, mas os resultados atrapalham, não temos como fugir disso, porque, repito, o futebol é resultado", atira Maurício, comentando o contexto da liga portuguesa. "Sei que a equipa vai conseguir essas vitórias e o importante é a gente não se acomodar. Converso com os companheiros para continuarmos a crescer, porque os resultados vão aparecer e a confiança vai ser maior".
Médio para gerir e pautar o ritmo
O brasileiro tem a confiança do treinador e acredita que pode ser útil à equipa, até porque, com a experiência que tem, conhece bem o momento de acelerar ou equilibrar o jogo e transmitir maior intensidade, se for o caso.
Com tantos títulos ganhos, o que o levou a escolher Portimão?
-Estava de férias no Brasil quando surgiu esta oportunidade. Já tinha jogado Champions, UEFA, ligas grandes, como na Rússia e na Grécia, mas nunca se propiciara jogar num campeonato mais central. Tive agora a chance de poder atuar numa liga forte, com um mercado forte. Depois, o projeto que me passaram foi aliciante, pelo que a decisão não foi difícil de tomar e, graças a Deus, tudo corresponde às expectativas.
Há clubes brasileiros já interessados em si?
-Tenho contrato até ao final da época. São 13 anos fora do Brasil, mas sempre aparece alguma coisa, e não é só de agora esse eventual interesse. Acaba sempre por surgir, mas, no momento, estou totalmente focado no Portimonense, para voltar às vitórias, aos golos, melhorar e ajudar a equipa a evoluir. Vou deixar isso de lado, até para não atrapalhar. Estou feliz aqui e tenho contrato até ao final da época.
Com toda a sua experiência, o que pode dar ao Portimonense dentro do campo?
-Utilidade, acima de tudo, e pautar o ritmo. Com o passar do tempo, adquires experiência e procuras o momento certo de acelerar, de equilibrar e gerir o jogo ou de ter bola. Sinto-me em condições, estou apto para jogar 90 minutos e para fazer a devida oscilação de intensidade e também do ritmo de jogo, consoante o que vejo em campo, sempre com as indicações do míster e mantendo o meu trabalho.
Por falar nisso, adaptou-se bem às ideias do míster?
-Sim, ele também me transmitiu confiança. Por mais experiência que exista, se não tiveres a confiança do treinador, dos adeptos, da administração, não te sentes tão à vontade. E tenho-me sentido bem, totalmente adaptado. Cada jogo é uma situação diferente, entendo isso e procuro fazer tudo bem. Às vezes dá certo, outras errado, mas importante é entender o que ele pede.