Na entrevista à Rádio Inquieta, António Miguel Cardoso, presidente do Vitória de Guimarães, garantiu que o parceiro V-Sports, que tem dois elementos na SAD, será "útil no suporte financeiro", mas "não é para investir".
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Líder do emblema vimaranense também falou dos jogadores que estiveram emprestados e do "risco calculado" com a equipa B, que desceu ao Campeonato de Portugal.
O que pode trazer a V-Sports, uma vez que tem agora dois elementos na SAD?
"Há associação que vem para investir em jogadores, mas não. A V-Sports é minoritária e as coisas não funcionam dessa forma. Aquilo que a V-Sports nos consegue ajudar, e onde realmente é útil, é no suporte financeiro que temos a partir de agora para que não exista a necessidade premente de ter que vender um jogador ou resolver financeiramente. Havendo, por exemplo, um mês de maior dificuldade podem ajudar-nos a com taxa a custo zero. Na situação financeira em que estamos, ter esse suporte acaba por nos ajudar a alavancar e a ter mais estabilidade na gestão do clube. Essa é que é a grande mais valia e isso tem vindo a acontecer. Agora pensarem que a V-Sports entrou e vamos comprar jogadores de quatro ou cinco milhões... Não é assim. Se não ficamos nós em dívida com a V-Sports. Não é isso que queremos. Continuamos a querer gerir o clube da mesma forma, mas precisamos de respirar melhor, de forma a tomar as melhores decisões, e não precipitadas como fizemos no passado.
Não há orçamento, será apresentado em Assembleia Geral, mas a V-Sports estará na disposição de ajudar nos próximos dois anos, onde já não há receitas televisivas, a maior fatia em termos de receitas. Estará a V-Sports em condições de garantir esse suporte para o orçamento?
"O suporte não é um investimento direto. É através de um empréstimo que nos possa durar um ou dois meses, obviamente que depois o Vitória tem de pagar. As pessoas não podem pensar que o orçamento vai aumentar muito. Não, nós não queremos aumentar mais, porque temos de regularizar as contas do Vitória e temos um parceiro que está ao nosso lado para aquilo que for preciso, mas não é para incrementar, nem para crescer. É exatamente para estar ali e para ser usado quando é importante. A perspetiva é esta: não ter que desconstruir a equipa, não ter de voltar a passar por um ano zero, e é isso que tem acontecido muitos anos no Vitória, e este parceiro ajuda-nos a ter mais segurança e estabilidade nas decisões, até porque se possam vender os ativos do Vitória noutra situação, com outros valores. O projeto é o mesmo: regularizar as contas, ter estratégia no investimento da equipa de futebol, valorizar ativos, para que o Vitória possa continuara a crescer."
Os dois elementos da V-Sports que estão na SAD podem ajudar com a sua experiência?
"A perspetiva, na área financeira, é estarem ao nosso lado, ajudarem no orçamento, validação do orçamento. Em termos de gestão desportiva, não. Mas, pelo seu know-how, é também uma área em que nos podem ajudar."
Em relação a ter jogadores emprestados ou, por exemplo, parcerias com África do Sul ou outros mercados, faz parte também dos vossos planos?
"Só podem vir jogadores para o Vitória se forem aprovados pelo nosso departamento de estratégia, por todo o meio. Obviamente que temos várias soluções, esse trabalho está a ser feito, mas em concreto ainda nada. Em relação ao empréstimo de jogadores, por natureza não o queremos. Empréstimos de jogadores em Portugal ou associados a clubes portugueses, nem pensar, não faz muito sentido. Quando perspetivamos um empréstimo, e aconteceu este ano com opção, acabou por correr bem. Como aconteceu com o defesa-esquerdo japonês [Ogawa], que teve um comportamento excecional durante toda a época, mas a nível de rendimento desportivo não foi realmente uma boa aposta e portanto o jogador retorna, não se faz opção, não se compra o jogador. O Zé Carlos foi exatamente o mesmo processo, o jogador mostrou que tinha qualidade e nós avançamos para a compra do jogador. Na questão de empréstimos puros, fizemos um este ano, para uma posição em que precisamos e por rendimento, como foi o caso do Mikey [Johnston]."
Grande número de jogadores que passaram da equipa B para a equipa A acaba por potenciar o menor rendimento da equipa B, que desceu à quarta divisão nacional, que dificilmente potenciará para jogadores para a equipa principal. Assumiu a responsabilidade do insucesso, mas acredita que a situação financeira do Vitória não dava para fazer mais?
"Não fiquei, obviamente, satisfeito. Foi pesado para a estrutura, claro que sim. Se era isto que queríamos, é óbvio que não e temos de aprender com os erros. Faz parte, isto é desporto. Não são desculpas, são factos. A Liga 3 é muito competitiva. Temos clubes grandes como o Setúbal, que desceu, como o Sporting, a Académica, o Varzim, que quase desceram, são clubes com jogadores feitos, homens, que na Taça de Portugal ganharam muitos deles a equipas de I Divisão. Estamos a falar de clubes e equipa verdadeiramente seniores, com qualidade, e por isso não é fácil. Quando começamos a época sabíamos que tínhamos jogadores para subir para equipa A, sabíamos que tínhamos um risco. A nossa opção foi claramente por subir juniores para a equipa B e existe o risco quando estamos a competir com jovens contra equipas como o Varzim, o Lank e tantos outros clubes, com homens feitos. Claro que não pensávamos descer de divisão, mas sabíamos que era uma hipótese. Esse risco existe automaticamente. A B não existe para subir de divisão, mas potenciar jogadores para chegarem à equipa A. Esse é que é objetivo: potenciar jogadores para chegar ao D. Afonso Henriques. Não há outro. Esse investimento foi claro. Puxarmos juniores para a equipa B, foi uma aposta de risco. E também fomos buscar jogadores com potencial para a A e de baixo custo. Transferências zero, salários reduzidos em relação ao passado e nós, continuo a dizer, perspetivamos que temos entre três a seis jogadores que podem chegar à A. Sem dúvida que foi uma desilusão, mas no Campeonato de Portugal também conseguimos desenvolver jogadores e, na nossa opinião, traz mais maturidade ao jovem jogador do que o campeonato de sub-23."
Foi colocada essa possibilidade?
"Não, não foi colocada. Porque a nossa perspetiva é que se estes jogadores jogarem contra homens, se jogadores em campos difíceis, vão evoluir muito mais como atletas. Qualidade já têm. Precisam é de ganhar garra, fome, vontade, que não vemos no campeonato de sub-23. O objetivo é dar condições a estes jovens para chegarem à equipa A. Se era melhor na Liga, claro, se estamos desiludidos, sim, se aprendemos com os erros, alguns, porque vamos continuar a errar. Mas não vamos continuar obcecados. Queremos subir, obviamente, mas o grande objetivo é potenciar jogadores para equipa principal.
O que está a ser feito para expandir a marca do clube e atrair cada vez mais adeptos?
"A nível nacional, nesse capítulo, somos um clube ímpar. E o que vemos todos os domingos em casa e, muito importante, fora de casa. Os ditos grandes levam muita gente, mas muitas vezes esses adeptos vão da cidade de onde é o jogo. Nós não. As pessoas deslocam-se de Guimarães e da região para ir ver o Vitória. Isso demonstra a diferença e a garra que não existe em mais lado nenhum. É o clube que mais adeptos transporta. Importante é ganhar, quando se ganha as pessoas vão mais ao estádio. Ter o espírito Vitória também ajuda e esta época isso existiu. Não fomos brilhantes em muitos momentos, mas esse espírito de luta, de garra, de ir até ao momento, de não vacilar, ajuda a que os adeptos se identifiquem mais com a equipa. Terceiro, temos feito mutas campanhas em escolas, noutros concelhos, ligações a hospitais, tem-se feito muito trabalho social de forma a implantar o orgulho em ser vitoriano. É preciso mais, outras campanhas que se possam fazer em dias de jogo, aprender um bocadinho com o que se faz lá fora. Ganhar é mais importante do que todas as campanhas, que são essenciais, para expandir a marca Vitória e ter ainda mais sócios. Há um espírito interno de que é possível fazer uma grande época. Essa grande época só será possível acontecer se houver união e ligação e tivermos jogadores que são solidários. E aqui no Vitória o mais importante é ser solidário, respeitarmos o próximo, trabalharmos pelo próximo e eu acredito que as coisas vão correr bem. Se dermos mais um bocadinho estaremos mais perto de acontecer."