Paulo Freitas, central do Olivais e Moscavide, rival do Sporting na Taça de Portugal, revela que repreendeu quem vestiu a camisola verde e branca nos últimos tempos.
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O JOGO visitou o Olivais e Moscavide antes da reedição do encontro de 1995, favorável ao Sporting por 6-1, na Taça de Portugal. Contam-nos que se viu a melhor semana de treino. A motivação e a competitividade estão no topo e a enfermaria limpa. O massagista e ex-jogador André Frias defrontou os leões pelo Belenenses em 2021: “Vêm pedir massagens para estarem a 100%. Mas é uma questão mais mental. Todos querem jogar.”.
O capitão Paulo Freitas joga “à Coates”. “É chato, mas um líder que nos faz falta. Destaca-se pelo posicionamento. Não é de certeza pela velocidade”, diz o médio Diogo Brito, de 25 anos. E a postura está lá. “Grande parte do nosso plantel é sportinguista. Daí aquela festa no sorteio. Não me lembro de estar num balneário tão sportinguista. Até tive de marcar multa aos sportinguistas que foram a Alvalade. Temos como regulamento não usar camisolas de outros clubes. Levamos isso a sério”, revela, entre sorrisos, Paulo Freitas, um homem da casa: “Todos temos o sonho de jogar nos maiores palcos, mas na adolescência vamos percebendo onde chegamos. Sou formado aqui e ser sénior aqui já era um sonho.”
Diogo Brito é um dos vários condutores Uber do plantel e a fadiga fica para a semana. “Anda-se todo o dia sentado, mas faz-se bem. Estive sempre em equipas de campeonato nacional na formação, mas não peguei no Estoril quando fui chamado à equipa A”, precisa. Agora pode defrontar o Sporting. Em 2001, foi preterido no encontro da Taça pelos azuis do Restelo. “Tenho uma segunda oportunidade. Fui convocado, cheguei ao aquecimento e fiquei na bancada. Foi uma azia do caraças”, diz, compreendendo o lamento de Fábio Matos, guarda-redes, e do médio Joshua, suspensos por vermelho frente aos Sandinenses.
O mediatismo do jogo não passa ao lado. “O Sporting tem dimensão europeia. Muita gente nos perguntou qual era a camisola que íamos pedir. O burburinho é enorme. Estamos com uma sequência de quatro vitórias. É difícil, mas vamos competir”, garante Paulo Freitas.
O nome Gyokeres é mencionado por todo o balneário. “Gostava de defrontá-lo. É diferenciado e acrescentou soluções que a equipa não tinha. Também será uma honra marcar Paulinho, fez um início de época que muita gente não esperava”, destaca Freitas.
Itallo é o homem das bolas paradas
Canhoto e a jogar a extremo direito, o brasileiro Itallo, de 31 anos, é o marcador de livres: “A gente sabe que a bola parada é fundamental. Temos feito alguns golos daí. Na hora é que decido. É como calha.” Com formação no Cruzeiro e Grémio, andou pelo Norte de Portugal e rumou ao Olivais para estar perto da namorada. Afirma que há “algum preconceito” pela distrital. “Há aqui bons jogadores. Quando vim para Portugal até pensei que a IV divisão era profissional.”
A lateral esquerdo joga um ambidestro. “Recebo e passo com os dois pés desde sempre”, diz Diogo Silva que, dizem os adeptos, tem potencial para ser profissional. É sportinguista e acredita que tem vantagem a fechar os pés canhotos: “Edwards é dos meus preferidos. É veloz e tecnicista, como o Catamo. São top-mundial, mas estou preparado.”
Lingueirões nasceram “no” Tejo
O Olivais e Moscavide nasceu (em 1912) encostado ao Tejo, no atual Parque das Nações, até se mudar para o Estádio Alfredo Marques Augusto. É conhecido como os Lingueirões porque, no velhinho campo, quando subia a maré o relvado ficava cheio de bivalves. Não estranhou também que fosse a gaivota, sempre junto ao mar, o animal que ladeia o símbolo. Se nunca tivesse saído do local original, dizem os adeptos, o clube poderia ter lucrado muito, décadas mais tarde, com a concretização da Expo’98 e a especulação imobiliária que se seguiu na zona.
O complexo atual, no meio da fronteira entre os Olivais e Moscavide enfrentou períodos conturbados e esteve encerrado. O Estádio Alfredo Marques Augusto tem bancadas amplas e um relvado sintético maior do que a Luz ou Alvalade. Apesar de modesto, o clube tem investido: o balneário tem espaço, há colunas que envergonham alguns bares, um mini-ginásio e fazem-se banhos gelados.