"Não acredito que o lado esquerdo do Benfica seja uma avenida assim tão grande..."
Melhor marcador do Shakhtar e na Ucrânia, Júnior Moraes analisa o desafio com o Benfica: garante uma equipa ucraniana com a lição bem estudada, elogia Rafa e Vinícius e descreve a admiração por Luís Castro
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O Benfica visita o Shakhtar na primeira mão dos 16 avos de final da Liga Europa, jogo que os ucranianos têm preparado em exclusivo desde janeiro e que Moraes, já com 17 golos em 2019/20, antevê, em entrevista a O JOGO, "sem favorito".
Já têm o segredo para eliminar o Benfica?
-Temos estudado bastante e visto todos os jogos do Benfica. E a equipa técnica, por ser portuguesa, também nos tem dado muitas indicações. Será um jogo sem favorito, de igual para igual, mas espero que eliminemos o Benfica.
E já têm uma estratégia na cabeça?
-Sim, sim... Desde o início desta pré-época, em janeiro, até agora tudo tem sido muito baseado no estilo de jogo do Benfica. É um adversário muito forte, que vinha a ter excelentes resultados. Estavam em grande até aos últimos jogos [perderam com FC Porto e Braga e empataram com o Famalicão], mas têm um ataque muito perigoso e uma forma muito adulta de jogar. Será um jogo bastante interessante.
Como vê esta crise do Benfica, que não ganha há três jogos consecutivos e perdeu seis pontos na Liga?
-Acredito que este é um momento de instabilidade e que podemos aproveitar isso dentro da nossa casa.
"Podemos aproveitar a instabilidade"
As tática de FC Porto e Braga ajudaram a perceber pontos fracos no Benfica?
-Todas as equipas têm pontos fortes e fracos, e nós queremos explorar o seu lado mais fraco. Os clássicos deram para tirar bastantes ideias do que pode ser o nosso jogo e do que podemos fazer bem para explorar esse lado fraco.
Diz-se que a ala esquerda é a mais permeável... já falaram disso?
-Não falámos do lado esquerdo, conversámos, sim, sobre muita coisa... É complicado dar informações sobre as nossas conversas [risos]. Temos muito respeito pelo Benfica e não acredito que esse lado esquerdo seja assim uma avenida tão grande como dizem...
Já jogou pelo Dínamo Kiev contra o Benfica duas vezes, mas nunca marcou...
-Foi um período não muito fácil para o Dínamo, mas é bom ter aqui mais uma oportunidade para lhes marcar.
Ou seja, matar o borrego...
-Sim. Esta é uma eliminatória e não há como adiar decisões. Este é um jogo importantíssimo e queremos tirar o máximo de vantagem para podermos sorrir mais à frente.
"Luís Castro tem passado bastantes informações à defesa sobre como neutralizar o ataque do Benfica"
A paragem de inverno prejudica o Shakhtar?
-Sim, isso é muito importante. A falta de ritmo atrapalha e tentámos maquilhar isso com treinos muito intensos e jogos amigáveis.
E o frio será um problema para o Benfica?
-Acho que não vai ser problema, pois, nos oito anos que levo na Ucrânia, este foi o inverno com menos frio que vi. Continua frio, mas nevou muito pouco e têm estado ultimamente seis graus, o que não é tão frio como devia estar. Não será um empecilho para o Benfica.
Vencer a Liga Europa é um objetivo do Shakhtar?
-Conquistar a Liga Europa é um objetivo, mas mantendo os pés no chão e encarando uma eliminatória de cada vez. O jogo com o Benfica é como uma final e depois teremos de ir passo a passo, pois ganhar esta prova é muito difícil. Além disso, o Shakhtar mudou muito nos últimos anos. Saíram jogadores de grande experiência e chegaram vários jovens que ainda não jogaram ao nível profissional e estão a conquistar o seu espaço. As saídas de Darijo [Srna], Fred, Bernard ou Rakitskiy, jogadores muito importantes, deixaram o Shakhtar não tão forte como antes.
Gosto muito do estilo de jogo do Rafa
Shakhtar está preprado para o perigo de Rafa e Vinícius
Em Kharkiv, o Benfica aparece sem Gabriel, vítima de doença ocular. Uma baixa que Júnior Moraes lamenta, por afetar um colega, mas que, reconhece, favorece o Shakhtar. "Em primeiro lugar, lamento muito por ele, fico triste quando um jogador tem uma lesão séria. Mas faz parte do futebol e, para nós, isso acaba por ser bom, pois o Benfica vai perder alguma da técnica e da qualidade de criação que o Gabriel tem", diz, apontando Vinícius e Rafa como perigos iminentes. "O Vinícius tem estado muito bem e também gosto muito do estilo de jogo do Rafa", identifica.
O goleador do Benfica é, de resto, um perigo que os ucranianos têm debaixo de olho. "O míster [Luís Castro] tem passado bastantes informações aos nossos centrais e a toda a defesa sobre como neutralizar todo o ataque do Benfica. Não é só o Vinícius, temos de travar a forma como a bola lhe chega ou ao ataque. Estamos a trabalhar muito para diminuir esse perigo", diz.
"Fonte" de informação do avançado tem sido o seu irmão, Bruno, que joga no Trofense e que até já marcou ao Benfica: em 2006/07 fez, nas compensações, o golo que deu o triunfo ao FC Porto sobre o Benfica. "Conversamos bastante [risos]. São os nossos segredos. Tal como correu bem para ele nesse 3-2 memorável, espero que também dê certo para mim e para o Shakhtar", frisa. Ainda sobre o irmão mais velho, Júnior Moraes garante ser "fã do seu futebol e da pessoa que é", lamentando que não tenha tido "a carreira que merecia". "Não conseguiu atingir outros patamares muito por causa das lesões. Fico muito feliz pelo homem que ele se tornou, pela família que construiu, pela imagem que tem e estou muito orgulhoso de ter um irmão assim", diz, reforçando: "Algumas pessoas, quando não têm a carreira que se esperava, ficam frustradas e perdem-se. Mas o Bruno teve uma cabeça muito forte, foi um guerreiro e viu uma oportunidade para crescer."
Com Luís Castro há mais alternativas e isso dificulta o trabalho dos nossos adversários
A admiração por dois treinadores portugueses
Luís Castro sucedeu ao também português Paulo Fonseca no Shakhtar e Júnior Moraes não esconde admiração pelo novo técnico. "É uma pessoa extraordinária, pelo que nos transmite, não só sobre futebol mas também sobre a vida. Tenho uma grande admiração por ele e tem feito um excelente trabalho. Trabalhar na Ucrânia, quando ainda não se tinha estado fora de Portugal, não é fácil, e ele tem conquistado resultados fantásticos", diz. Comparando treinadores, Moraes dá vantagem a Castro. "Ambos gostam de ter bola, de jogar futebol sem medo dos adversários. Mas a equipa ganhou mais variedade no estilo de ataque. Antes jogávamos muito de uma forma e às vezes ficava muito claro para o adversário como neutralizar o nosso jogo. Com Luís Castro, há mais alternativas e isso dificulta o trabalho dos nossos adversários", explica.