"Nalguns jogos, parece que está a haver uma reunião do Conselho de Ministros na Luz"
O JOGO ouviu onze figuras da política e do futebol que reiteram a ânsia de ver os fãs no estádio. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, respondeu às três perguntas do nosso jornal.
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1 -A polémica do apoio de António Costa a Luís Filipe Vieira gerou várias declarações de políticos nada abonatórias para o futebol. Esse ponto de vista dos políticos explica de alguma forma, por exemplo, a ausência de público nos estádios? Há uma birra do Estado para com o futebol?
A ausência dos políticos do futebol não é uma realidade. Basta ver que, para acompanhar a Seleção, o povo português, que a ama, não pode estar presente, mas o Presidente da República, o primeiro-ministro e alguns ministros nunca perdem a oportunidade.
"Raramente vejo políticos no futebol, tirando no camarote presidencial do Estádio da Luz"
Não levo a ausência de público nos estádios para uma birra dos políticos, levo mais para incompetência, tanto do Governo como da responsável pela Direção-Geral de Saúde. Só por incompetência é que se pode permitir, como agora em Santarém, uma praça de touros cheia, ou espetáculos em recintos fechados lotados e, nos estádios, nem sequer pessoas nos camarotes.
Mas como esperar compreensão de uma senhora que defendeu, na televisão, que o uso da máscara era prejudicial para os seus utilizadores? Com um Governo responsável, esta senhora teria sido imediatamente demitida.
2 - O futebol profissional deve assumir a sua quota-parte de responsabilidades nessa alegada necessidade de um distanciamento higiénico dos responsáveis políticos?
Não sinto que haja essa promiscuidade. Raramente, vejo políticos no futebol, tirando no camarote presidencial do Estádio da Luz. Nalguns jogos, parece que está a haver uma reunião do Conselho de Ministros. Se há promiscuidade, não é propriamente no futebol. Só ali.
3 - Como entende o apoio do primeiro-ministro à recandidatura de Luís Filipe Vieira?
O primeiro-ministro já esclareceu que esse apoio não é dado na condição de governante, mas sim enquanto cidadão e benfiquista. Nessa qualidade, compreendo que o faça, porque lhe dará popularidade, sabendo-se que Luís Filipe Vieira será, obviamente, reconduzido, mais do que pelos seus méritos, pela falta de qualidade dos opositores.
"Não é benéfico para Vieira ligar a sua candidatura a Costa"
Os sócios do Benfica sabem bem que, estando ou não de acordo com a atual gestão, dirigir um clube como aquele é bem diferente de vender hambúrgueres ou batatas fritas. O que me parece é que, para Luís Filipe Vieira, não será benéfico ligar a sua candidatura ao apoio de António Costa. E explico: arrisca-se a que o António Costa fique na história como o homem que asfixiou os clubes de futebol e matou as outras modalidades.
Estamos na linha da frente entre os países com maior carga fiscal da Europa, e mesmo sabendo que não temos receitas, por não nos ser permitido ter público, o Governo não baixa, nem suspende parcialmente, os altos impostos que caem sobre os clubes. Ainda agora, a Itália baixou os impostos de 50% para 33%, justamente porque os clubes italianos enfrentam a mesma dificuldade. Por isso, repito: não sei se, para o candidato, será bom ter como apoiante o responsável pela destruição e falência portugueses.