Movimentos interiores, aptidão para jogar por fora, mentalidade forte e lacunas defensivas: um o raio-x a Shoya, que deve reforçar o FC Porto na próxima semana.
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A transferência de Shoya Nakajima do Al-Duhail para o FC Porto deverá ficar concretizada no início da próxima semana, altura em que a equipa de Sérgio Conceição regressa ao trabalho.
Ricardo Pessoa vê o nipónico a ocupar a vaga de Brahimi com mais sentido prático
O treinador perdeu Yacine Brahimi, mas recebe uma versão descomplicada do argelino: esta é a aposta de Ricardo Pessoa, que foi companheiro do internacional japonês no Portimonense, em 2017/18, antes de assumir as funções de treinador adjunto, na época passada.
Ricardo acompanhou toda a etapa de Nakajima no Algarve e deteta-lhe todas as condições técnicas e mentais para "vir a ser um jogador muito importante no FC Porto".
"O Shoya pode encaixar perfeitamente nas ideias do Sérgio Conceição. Ele enquadra-se melhor na ala esquerda, onde jogava o Brahimi e pode trazer coisas muito interessantes, como o argelino, mas acrescenta algo em que é mais forte: é mais objetivo à procura da baliza. Procura muitas vezes o golo", resume o técnico, que traçou o raio-x ao avançado de 24 anos.
Tal como Brahimi, Nakajima "procura muitas vezes movimentos interiores", mas sem perder a aptidão para "sair por fora".
O nipónico acumulou 15 golos e 19 assistências em 47 jogos pelo Portimonense, mas nem o facto de os azuis e brancos encontrarem quase sempre equipas mais fechadas lhe pode complicar a vida. "Ele pensa muito rápido e por isso consegue encontrar esses espaços curtos", explica Ricardo Pessoa, que recorda a forma "muito boa" de Nakajima explorar as transições ofensivas.
Com 15 tiros certeiros e 19 assistências, Nakajima contribuiu para 34 golos do Portimonense, em 47 jogos.
Um desses golos foi precisamente no Dragão, em 2017/18, quando Shoya atuou a falso nove, outra posição referenciada por Ricardo Pessoa que, no entanto, não hesita em apontar o "ponto menos bom".
"Tem alguma dificuldade no processo defensivo, mas é uma lacuna na qual ele já demonstrou evolução", aponta o adjunto de António Folha. Sessenta e quatro quilos em 1,64 metros - partirá daí a debilidade? "Não concordo. É um jogador intenso, que tenta sempre fazer o que lhe pedem, é rápido e não dá uma bola por perdida. Simplesmente a parte defensiva não está tão clarificada na cabeça dele. Mas é um jovem com uma grande margem de progressão", atira Ricardo.
A exigência do FC Porto estende-se, inevitavelmente, à parte mental, mas o ex-futebolista também deteta "capacidade para aguentar emocionalmente essa pressão". É que o "reservado" Nakajima, que "raramente se via na vida social e fora de campo", transforma-se e revela-se com a bola nos pés. "Personalidade completamente diferente em campo. Aí, é alegre e mostra as emoções", completa .
No quadro acima, a percentagem de acerto de Nakajima em comparação com Brahimi e Corona na última época dá vantagem ao japonês, que fez sete golos e seis ofertas. O argelino marcou 13 e ofereceu nove, enquanto o mexicano fez sete a assistiu para 15.
Marcou por duas vezes no Catar e já fez o gosto ao pé na Copa América
Inteligência derruba barreira linguística
Nakajima nasceu em Hachioji, nos arredores de Tóquio, e a experiência fora do Japão começou em 2017. Uma vez que fala pouco inglês ou português, a comunicação podia ser uma aventura, mas o extremo compensa com a perspicácia. "Não tínhamos tanta dificuldade, porque tínhamos um tradutor. Mas já tivemos outros jogadores japoneses e percebemos que, nos treinos, eles conseguem assimilar rapidamente o que se está a fazer; são muito inteligentes", explica Ricardo Pessoa, ainda que, admita, "certa informação tenha de ser transmitida de outra maneira". "Não creio que seja um aspeto muito relevante", conclui o treinador adjunto do Portimonense.
Com uma forma de estar tão discreta, Ricardo Pessoa teve de pensar um pouco para nos revelar um episódio protagonizado por Shoya (o nome que exibe na camisola). Mas lá acabou por se lembrar de um que "vai ao encontro da mentalidade dele". "Um dia disse-lhe: "Shoya, tens de marcar um golinho hoje. Já estás há algum tempo sem marcar". E ele respondeu: "Um não, vou marcar dois". E marcou mesmo!", conta Ricardo, que, no entanto, não se recorda da partida em questão. Foram quatro "bis" pelo Portimonense...
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