Declarações de José Mourinho, treinador do Benfica, em entrevista à UEFA
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Regresso ao Benfica: "Estar de volta ao Benfica é estar de volta a um clube gigante. Eu tive a sorte na minha carreira de passar por muitos gigantes - Real Madrid, o Inter, o Manchester United, o Chelsea. Passei por uma série de gigantes, e é regressar a um gigante não só a nível social, mas também a nível histórico. O Benfica é gigante. E, nesse sentido, clube gigante, responsabilidade gigante, expectativas gigantes, é tudo gigante, mas é o tipo de desafio de que eu preciso. A minha vida tem sido praticamente sempre nesta dinâmica, e fundamentalmente é isso, é a possibilidade de trabalhar novamente num clube, como eu gosto de chamar, gigante."
Feeling de sempre: "Eu acho que é a nossa natureza, e acho que é a capacidade de perceber se algum dia nós mudamos. Porque se um dia eu sentir menos prazer a levantar-me cedo para vir trabalhar, se um dia eu sentir menos alegria por ganhar um jogo, se um dia eu sentir menos tristeza por perder um jogo, se alguma coisa mudar, é uma luz vermelha que se acende. Enquanto essa luz não acontece, eu acho que é a nossa natureza. Se calhar, é por termos essa natureza que já ganhámos tanto no passado, e acho que é com essa natureza que nós vamos iguais até ao fim. Eu recordo, por exemplo, um jogo da Champions, Manchester United-Real Madrid - eu estava no Real Madrid, e o sir Alex estava no Manchester United -, onde eu estive no escritório dele antes do jogo, e eu faço-lhe a pergunta: 'Sir Alex, isto muda com o tempo? No sentido de, antes de um jogo dessa dimensão, a tensão, a adrenalina a chegar. E ele disse-me: 'Não, não muda, é igual até ao fim.' Isto deve ter sido em 2012, 2013, já passaram mais de 10 anos, e o meu feeling não muda, ou seja, não há red lights, continuo igual a mim próprio."
Retrospetiva de 25 anos de carreira: "Eu acho que como treinador sou melhor hoje do que antes. Acho que qualquer treinador que tenha sentido crítico, que pense muito, que analise muito sobre as experiências que vive... Acho que um treinador é melhor com o acumular das experiências. A sensação do déjà-vu é uma coisa marcante, é uma coisa que te prepara para aquilo que aparece e que é déjà-vu, que tu já estiveste numa situação igual ou numa situação parecida. Eu sinto-me mais forte, sinto-me um treinador muito melhor do que antes. Como pessoa, o DNA é igual, nasces e morres com o mesmo. Acho que um treinador nasce e morre com o mesmo DNA, não tem hipótese a dar. Mas como pessoa há diferenças. A diferença fundamental que eu reconheço em mim próprio é que, se calhar, no início eu pensava mais em mim, e transformei-me de uma maneira em que, não sei, sinto-me mais altruísta, sinto-me que estou no futebol mais para ajudar os outros do que para me ajudar a mim próprio. Estou mais para ajudar os meus jogadores do que para pensar naquilo que vai acontecer comigo daqui a um ano, daqui a dois ou três. Estou mais a pensar no clube, estou mais a pensar na alegria dos adeptos do que propriamente em mim. E acho que também é um câmbio natural que não me desvirtua como treinador, mas como pessoa dá-me um lado... que eu gosto de viver com esse lado diferente. Eu continuo igual, só que uma coisa é ires à procura, é ires deliberadamente à procura desse conflito, e outra coisa é: o conflito aparece à tua frente, ou o conflito vem ter contigo. Se o conflito aparecer à minha frente, eu bato-me lá com ele. Se o conflito vier de encontro a mim, faz clash. Agora eu ir à procura do conflito, confesso que a estabilidade emocional nos ajuda a ter outro tipo de perfil."