Três dos seis primeiros classificados do atual campeonato são da Associação de Futebol de Braga, que viu já o Famalicão assegurar o regresso à I Liga, a par do Gil Vicente, promovido na secretaria. O JOGO fez uma "radiografia" ao território futebolístico minhoto.
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O mapa do próximo campeonato principal ainda não está completamente definido, mas já se sabe que o Minho terá cinco representantes, um recorde de participantes da Associação de Futebol de Braga, que entrou no mapa da elite do futebol português em 1941/42 e foi crescendo na importância até ao patamar atual, expresso não só no recorde da próxima época e no facto de ter três entre os seis primeiros na atual.
Além de Braga, V. Guimarães e Moreirense, a AF Braga terá ainda na I Liga de 2019/20 Famalicão e Gil Vicente
O campeonato ainda está a duas jornadas do fim, mas já se pode apontar a Associação de Futebol de Braga como uma das vencedoras, com a garantia de que, em 2019/20, terá um recorde inédito de cinco representantes a disputar a I Liga, tantos como a do Porto. O mapa ainda não está completo, dependerá do que vier a suceder no fundo da tabela. Com a anunciada despromoção do Feirense, Aveiro desaparece do roteiro. Setúbal, Vila Real e Viseu correm o mesmo risco, dependem do que vierem a conseguir os emblemas que lutam pela permanência, Vitória de Setúbal, Chaves e Tondela, respetivamente. Com o Nacional aflito, a Madeira corre o risco de ter apenas o Marítimo entre os palcos principais.
Independentemente do que os próximos jogos decidirem, é certo que, para aqueles que podem olhar o campeonato como um roteiro de Portugal, o próximo campeonato será o dos rojões, um dos emblemas gastronómicos do Minho circunscrito à associação distrital de Braga, uma vez que existe um outro, o Alto Minho - do Alvarinho e do sarrabulho, para não nos afastarmos da mesa -, que se encontra entre as zonas que nunca estiveram no mapa do futebol de primeira.
O mais aproximado que se pode encontrar é o campeão da Liga Revelação, o treinador Leandro Pires, oriundo do futebol de Viana do Castelo, como tratou de sublinhar na consagração à frente do Aves (emblema do interior do distrito do Porto); natural de Caminha, treinou o Vianense e o Cerveira, antes de se tornar o vencedor da primeira edição da liga de sub-23.
Viana do Castelo é apenas uma das várias associações que nunca foram palco do escalão principal (ver caixa), circunstância que ajuda a destacar o sucesso do caminho traçado por Braga, ao longo das décadas e consolidado no recorde para 2019/20 com Braga, Moreirense, V. Guimarães, que terminarão esta época entre o quarto e o sexto lugares, e ainda Famalicão, que desaparecera destas andanças no início da década de 1990, e Gil Vicente repescado, mais de uma década depois do infame "caso Mateus".
Angra do Heroísmo, Beja, Bragança, Guarda, Horta e Viana do Castelo nunca estiveram no mapa do escalão principal
No início, o campeonato jogava-se a oito, com quatro associações representadas: Lisboa (quatro clubes), Porto (dois), Setúbal e Coimbra disputaram a edição inaugural, em 1934/35 e a composição por associações era idêntica, três anos mais tarde, quando a Federação Portuguesa de Futebol assumiu a organização e foi atribuído o primeiro título nacional: venceu o FC Porto. Braga entrou no mapa na nona edição, em 1941/42, com o V. Guimarães, e, desde então, apenas por uma temporada não esteve presente. Aconteceu em 1956/57, na ressaca da despromoção do Braga, que voltou na época seguinte.
Os dois rivais do Minho, hoje os mais poderosos emblemas do distrito, só estiveram juntos no principal patamar nacional em 1947/48, um ano depois do inédito alargamento a 14 clubes da prova que se iniciara com oito (e desde então já conhecera versões de dez e 12 participantes); nessa primeira prova a 14, V. Guimarães e Famalicão foram as bandeiras da região. Seria preciso esperar várias décadas até Braga consolidar essa tendência. A partir de 1975/76 e até 2006/07, teve sempre mais do que um clube e chegou mesmo aos quatro. Essa época em que o V. Guimarães mergulhou na II Liga constituiu um fenómeno atípico, sem repetição no caminho até ao recorde que agora se desenha com uma combinação inédita.
Um mapa onde não cabem todos
Angra do Heroísmo, Beja, Bragança, Guarda, Horta e Viana do Castelo nunca estiveram no mapa do escalão principal, que desde sempre teve Lisboa e Porto presentes. Uma das indefinições no desenho da nova temporada envolve Setúbal, em risco de perder o Vitória para a II Liga. A associação sadina tem sido a mais regular a acompanhar Lisboa e Porto na presença constante ao mais alto nível: só falhou cinco campeonatos e chegou a ter quatro representantes.
A diversidade do campeonato teve épocas especialmente ricas, em que chegou a haver emblemas de 11 associações em prova. Foi assim em 1998/99, quando os 18 participantes se distribuíam por 11 agrupamentos distritais.
O V. Guimarães foi o primeiro representante e até o extinto Riopele fez parte do lote de emblemas do Minho na I Liga
O Vitória de Guimarães (1941/42) foi quem levou a AF Braga à liga principal. Seguiram-se-lhe Famalicão (46/47) e Braga (1947/48) e só muito depois, já na era da Democracia, em 1977/78, o Riopele, extinto clube de uma empresa de tecidos (essa permanece no mercado).
Nos anos 80, foi a vez de Vizela chegar ao campeonato maior, aventura de um ano, semelhante à que experimentou o Fafe (1988/89). O Gil Vicente emergiu depois (1990/91) e o Moreirense em 2002/03.
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Fenómeno Vizela
Na década de 1980, Vizela era sinónimo de contestação e chegou mesmo a haver na localidade uma forca para receber os políticos. Lutava-se pela passagem a concelho e foi por essa altura que o clube local chegou à I Divisão. Manuel Machado, hoje presidente da AF Braga, estava então no departamento de futebol desse fenómeno efémero, que recorda como um caso de felicidade: "Tínhamos um grande treinador, Nelo Barros, e fomos muitos felizes a escolher os jogadores". O sucesso da equipa conduziu a alguns constrangimentos, desde logo, porque 1978 foi o ano em que o campeonato principal passou a jogar-se em relvados e o campo do Vizela era pelado e nem a dimensões mínimas tinha. "Optámos por jogar em Guimarães. Fizemos 30 jogos fora, não foi fácil."
Enquanto a equipa lutava, em vão, pela permanência, o então presidente "ofereceu um terreno" e a comunidade mobilizou-se para construir um estádio, com um valente empurrão do Estado: foi comparticipado em "65 por cento a fundo perdido".
Atualmente no Campeonato de Portugal (equivalente à III Divisão), o Vizela anunciou, no início de maio, que vai exigir à Federação e à Liga a integração imediata na II LIga, graças a uma sentença judicial que declara a nulidade do Acórdão do Conselho de Justiça da FPF de 30-06-2009, que tinha relegado o clube para os escalões inferiores daquela competição não-profissional. Um caso para ir acompanhando.
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A crescer também no feminino
"A minha idade? Tenho 47 anos, mas pode pôr o sete à frente do quatro". A boa disposição de Manuel Machado não é de estranhar. É ele quem, desde 2011, preside à Associação de Futebol de Braga, a terceira maior do país e, na próxima temporada, recordista em representações na I Liga. Para trás, tem ainda muitos anos de experiência como dirigente deste organismo e até fez parte da passagem inédita do Vizela pelo escalão principal. Por estes dias, todo ele é satisfação. "Orgulho, prestígio e motivação" são os benefícios a colher pela região.
O Braga é o atual campeão e o presidente da associação garante que há mais equipas a aparecer
Manuel Machado multiplica-se na exaltação de "todo o mérito" da estrutura dos vários emblemas, saúda o regresso do Gil Vicente e o sucesso do projeto do Famalicão e nem sequer deixa para trás os que "querem chegar à I Liga", como o Fafe e o Vizela.
Esta onda de afirmação regional inclui também o futebol feminino: o Braga vai na frente na corrida para revalidar o título nacional, espelho de uma tendência caseira. "Está tudo encaminhado para termos mais cinco ou seis equipas no futebol feminino", na próxima época, adianta o dirigente.