Mielcarski e uma noite com Mourinho: "Não posso correr o risco de voltar para o Porto com um olho negro"
Em entrevista à TVP Sport, Mielcarski, antigo avançado do FC Porto, recordou os tempos no clube português.
Corpo do artigo
Mielcarski abordou a relação com José Mourinho e episódios que começaram a marcar a personalidade e carreira do "Special One": "Inicialmente, passava a maior parte do tempo com os capitães do FC Porto, assistindo aos jogos do campeonato, com eles durante os treinos, andando atrás, criando laços, discutindo, construindo autoridade. Falava com sensatez, dava conselhos valiosos. Uma vez por semana, Robson deixava-o arbitrar um jogo de treino de 20 minutos. E naquele tempo não havia piadas. Quem não concordasse com ele era expulso do campo, não havia santos. Uma vez transferiu Vítor Baía para as reservas - o excelente guarda-redes chegou atrasado ao treino e Mourinho mandou-o mudar de roupa noutro balneário. Baía não gostou disso - de facto, raramente se atrasava. Bem, mas como não havia recurso, Baía foi ter com o presidente, que o amava como um filho, e anunciou: 'Ou era eu ou Mourinho'. Pinto da Costa Costa pôs os olhos no treinador. O mesmo aconteceu uma vez com Fernando Santos, quando este dirigia o FC Porto. Depois de alguns jogos fracos, o presidente entrou no balneário e disse: 'Se pensam que o vou despedir, estão muito enganados. Aqui está um contrato de dois anos com o Santos, ele vai ficar. E quem não concordar com isso, convido-o a ir ao meu gabinete agora ou amanhã. Vamos rescindir imediatamente o contrato por mútuo acordo'", contou na entrevista à TVP Sport.
"Voltando a José Mourinho, foi em 2002, quando já era o primeiro treinador do FC Porto, que o clube defrontou o Polonia Varsóvia na primeira ronda das eliminatórias da Taça UEFA. Mourinho deslocou-se a Varsóvia para assistir a um dos jogos dos 'Camisas Negras' e, à noite, sugeriu uma saída para um clube, não necessariamente de futebol. Eu não conhecia Varsóvia, apanhámos um táxi no centro e eu disse ao motorista para nos levar a algum lado. Fomos até aos arredores de Varsóvia, mas não era necessariamente o clube que queríamos. Havia um segurança à entrada com um taco de basebol, o Mourinho fez uma cara feia e decidimos voltar para trás. Disse ao motorista para nos levar a uma discoteca. Parámos em frente ao local, e dois tipos saíram de lá e começaram a lutar e a puxar-se um ao outro. José fica novamente aterrorizado: 'Não posso correr o risco de voltar para o Porto com um olho negro'. Fomos para o hotel onde ele estava hospedado para nos sentarmos no átrio. Ele queria levantar dinheiro no multibanco, mas... a máquina bloqueou o seu cartão. Era domingo e ele não tinha ninguém para o levantar. 'Não te preocupes, já liguei para o banco e bloqueei-o', diz. Talvez até hoje o cartão de José Mourinho ainda esteja algures na receção do hotel", revelou.
A "luta até ao fim" nos jogos contra o Sporting e o Benfica
Por último, falou da rivalidade do FC Porto com os clubes de Lisboa, Benfica e Sporting: "Aprendi que, quanto mais sério fosse o jogo, mais reação poderia haver nos treinos e no hotel na semana anterior. Podia-se jogar às cartas, havia muitas gargalhadas. Tínhamos mais stress antes dos jogos contra o Vitória de Setúbal e equipas médias semelhantes. Depois, era claro que tínhamos de ganhar. Com o Benfica ou o Sporting, mais ricos, tudo podia acontecer. Quando há 'tensão', o corpo não se movimenta em campo. Quando se joga descontraído, voa-se. Antes dos jogos contra os clubes médios, não havia cartões, telefonemas ou outras tolices e, em campo, a folga só aparecia quando se estava a ganhar por dois golos de diferença. Claro que, nos confrontos com os clubes de Lisboa, a luta em campo ia até ao fim. Numa ocasião, Paulinho Santos partiu o maxilar de João Pinto, do Benfica, colega de equipa da seleção de Portugal. Recomendo a todos que visitem o museu do clube do FC Porto, onde se pode ver, entre outras coisas, uma recriação, um a um, do autocarro que a equipa utilizava para percorrer a cidade, celebrando a conquista da Taça dos Campeões Europeus em 1987. Está decorado com uma fotografia de Jozef Mlynarczyk, que na altura defendeu a baliza do FC Porto. Nunca nada foi fácil para este clube, que deve todos os seus êxitos ao seu carácter, dedicação e empenho."