O lateral uruguaio começou a jogar futebol com seis anos, sofreu com a morte do pai aos 12 anos, mas nunca perdeu o apoio da família para fazer aquilo que mais gostava, sem nunca pensar que um dia chegaria a jogar na Europa
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Maxi Pereira vem de uma família humilde, tem seis irmãos, mas até os vizinhos tiveram de o ajudar para que fosse possível realizar o sonho que sempre teve de jogar futebol.
Futebol desde pequeno: No meu bairro joguei na rua desde pequeno, era tranquilo, não é como agora. Os meus pais tiveram sete filhos e tudo isso me obrigou a crescer mais depressa. Foi sempre na base do sacrifício. Claro que quando apareceu a oportunidade de ir para a Europa aproveitei. Todos têm a sua história de vida e de certeza que têm sempre uma história para contar mais complicada. Mas quando vimos de um meio mais humilde damos outro valor às coisas e quando aparece uma oportunidade tentamos agarrá-la com todas as forças. No meu caso tive a sorte de ter podido dedicar-me a algo que gosto muito, que é o futebol. Nem todos têm essa sorte. Mas quando temos de ajudar a família temos mesmo de o fazer, goste-se, ou não, da nossa atividade profissional.
Apoio da família: Somos cinco homens e duas mulheres. Mas todos gostam de futebol e eu fui o que teve a sorte de poder seguir no meio. Mas os meus irmãos sempre me apoiaram. Um dia convidaram-me para treinar e quando um dos meus irmãos não podia acompanhar-me pedíamos a um vizinho para ir comigo. Comecei com seis anos a jogar federado e fui aprendendo, sempre com a ajudar dos meus irmãos, ou dos meus vizinhos. Não foi fácil, porque alguém tinha de me acompanhar.
Paixão pelo futebol: A minha mãe nunca me desencorajou de seguir o futebol, pelo contrário, motivava-me, tal como os meus irmãos. O futebol vivia-se com muita paixão lá em casa, sonhava jogar na I Divisão, mas nunca me passou pela cabeça seguir para a Europa e alcançar a seleção. Só queria ir jogar ao fim de semana e satisfazer a minha paixão. Não pensava em mais nada, nem em ganhar dinheiro com o futebol, ou fazer disso a minha vida. Depois surgiram os desafios.
Adepto do Peñarol: Na minha família são todos adeptos do Peñarol. Mas quando jogava no Defensor e defrontava o Peñarol é óbvio que todos queriam que eu ganhasse o jogo. É normal, mas no outros jogos torciam pelo Peñarol. Quando subi à I Divisão com o Defensor tinha 17 anos, vinha de uma fornada de seis ou sete bons jogadores do clube. Disputamos o título nessa temporada. Competir com o Peñarol e o Nacional não era fácil, porque são clubes com planteis muito fortes. O Defensor não ganhava um título há muitos anos e nessa época disputamos o título com eles. Lesionei-me, foi grave, mas recuperei bem e segui a carreira na mesma. Queria jogar na I Divisão e nesses anos o que queria era fixar-me na I Divisão e jogar, sentir-me importante e ir à seleção. Depois sonhava com a Europa, mas sentia isso um pouco distante, porque tinha a noção de que precisava de crescer mais no clube para abrir uma porta na Europa.
Falecimento do pai: Com seis anos comecei no Chavista e com 12 anos fui para o Defensor. Foi numa altura que coincidiu com a morte do meu pai, foi um momento muito complicado, porque tinha de tomar algumas decisões. Ir treinar para o Defensor era mais longe, não tínhamos dinheiro para fazer a deslocação todos os dias, porque ficava longe de casa, tinha de ir de comboio, mas tive a ajuda de muita gente. Agradeço a todos ainda hoje por essa ajuda.
Começou como... ponta de lança: Quando comecei dos seis aos 12 anos como avançado, ponta de lança. No Defensor era médio e foi assim que cheguei à I Divisão. Depois fui recuando e acabei como lateral. Mas passei por várias posições.
Origem da alcunha: Chamavam-me mono (macaco) com 12 anos, pela forma de andar, pelo meu jeito, eram malandrices daquelas idades. Também me chamavam Cantinflas era pela pinta que tinha, parecia que tinha o mesmo bigode. Mas ficou mono, ainda hoje na seleção. Mas nunca levei a mal, na América do Sul é costume darem alcunhas aos jogadores.
Primeira chamada à seleção principal: Sempre fui internacional na formação, mas a primeira chamada à seleção principal surgiu com 21 ou 22 anos. Fiz uns particulares na Europa e depois fui sendo convocado pelo Tabárez, que saiu e voltou entretanto e lá continuo.
Jogador mais internacional de sempre da seleção: Não imaginava que ia ser internacional tantas vezes e somar tantos jogos. Mas o selecionador é o mesmo há vários anos, confia em mim. Mas estar na seleção há tanto tempo não muda nada, continuo o mesmo, com humildade, os números não são nada, são importantes, mas só vamos valorizar isso com o tempo.
Intercontinental contra o Peñarol: (risos) Nunca falei com Tabárez da final da Intercontinental que perderam com o FC Porto. Mas sei que estava lá.
Em 2011 ganhou a Copa América, foi pai de gémeos, que não os conheceu logo. Dois dias depois apresentou-se em Lisboa, porque o Benfica tinha um jogo muito importante da pré-eliminatória da Champions: Sim, é. Nasceram os gémeos dois dias antes dos quartos contra a Argentina. Acompanhei tudo, mas estava a jogar a Copa América, que era muito importante para a Seleção e o país. Entrou para o parto com a minha mãe. Depois ganhamos a Copa e vivi uma emoção muito grande. Dias depois o Benfica pediu-me para jogar e disse que sim. Para dar uma mão, estou sempre pronto.