Mário Reis recorda: "Atenção, meus meninos, já são jogadores do Benfica, mas aqui não..."
O treinador, que se retirou em 2006, recebeu na quarta-feira a “Medalha de Mérito” da cidade. Os mais de 50 anos dedicados ao futebol justificam a narração de um caminho rico em histórias e conquistas
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Quase 30 anos após ter conquistado a Taça de Portugal e a Supertaça Cândido Oliveira, pelo Boavista, Mário Reis recebeu na quarta-feira a “Medalha de Mérito”, atribuída por Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto. Na cerimónia que decorreu na Casa do Roseiral, no âmbito das comemorações do 9 de julho, que assinala o dia do desembarque das forças de D. Pedro, o treinador, de 78 anos, esteve acompanhado pelos filhos, Nuno e Hugo. A final da Taça de Portugal, a 10 de junho de 1997, foi um dos momentos mais marcantes de um percurso com muitas histórias. Com dois golos de Erwin Sánchez e um de Nuno Gomes, derrotou no Jamor o Benfica, de Manuel José, por 3-2.
Jogou 20 anos no Salgueiros, onde se iniciou como treinador e viveu momentos áureos no mítico Vidal Pinheiro. Pelo Boavista, venceu a Taça de Portugal e a Supertaça. Como? Dois berros foram importantes.
“Os balneários do Estádio Nacional são pegados. O Nuno Gomes e o Sánchez já tinham assinado pelo Benfica. Antes de começar o jogo, dei-lhes dois berros, com os jogadores do Benfica a olhar para mim, enquanto eu lhes dizia: 'Atenção, meus meninos, vocês já são jogadores do Benfica, mas aqui não, aqui são do Boavista'. O Manuel José, estupefacto, também assistiu a tudo, e o que pretendi era que ninguém tivesse medo e, felizmente, conquistámos a Taça”, a última das cinco que fazem parte do palmarés do clube axadrezado.
Natural de Paranhos, filho de Joaquim Reis, treinador de andebol do Salgueiros, Mário Reis fez, como treinador, 686 jogos, 241 dos quais na I Liga. “O Vidal Pinheiro era a minha segunda casa. Comecei a jogar com nove anos e estive lá até aos 29. Era médio, fui sempre o melhor marcador, eu o Yaúca”, recorda. “Quando os treinadores iam embora, tomava conta das equipas como jogador-treinador e aí começou a minha carreira”, conta, tendo passado por 13 clubes. Voltou ao Salgueiros em 1993 para viver momentos áureos, lançando jogadores como Pedro Espinha, Pedro Reis, Paulo Duarte, Pedrosa, Abílio Novais, Rui França, Tulipa, Bino, Nandinho e Sá Pinto. “Perdeu-se tudo: a identidade, a mística, o bairrismo, o populismo e isso afetou a verdadeira alma salgueirista”, aponta Hugo Reis, que jogou no velhinho Salgueiral, um clube que fica “para sempre guardado no coração” de Mário Reis. “Por tudo o que lá vivi, quero muito que continue a ser um clube formador e a consolidar-se nos escalões nacionais”, conclui o técnico que se retirou em 2006, ao serviço do Santa Clara.