Eduardo Santos, o fisioterapeuta que tratou Marega, explica em exclusivo a O JOGO o processo que resultou na rápida recuperação do internacional maliano.
Corpo do artigo
Dr. Milagre é o nome pelo qual Eduardo Santos passou a ser conhecido pelos portugueses, depois de ter recuperado Marega em tempo recorde. Os dois trabalharam juntos durante dez dias e o fisioterapeuta do Shanghai SIPG explica, em entrevista exclusiva a O JOGO, que tipo de trabalho desenvolveu com o internacional maliano para que o portista esteja pronto a usar no clássico de sábado, com o Benfica. Medicação, assegura, não utiliza e não gosta que o chamem de curandeiro ou de bruxo. As sessões que realiza podem ser dolorosas para o paciente e podem variar entre os 15 minutos e as 12 horas.
Como foi contactado para tratar Marega?
-Fui contactado pelos dirigentes e pelo departamento médico do FC Porto, solicitando ajuda para recuperar a lesão muscular do Marega, que tinha um prognóstico de oito semanas. Pediram-me para fazer um tratamento que pudesse acelerar o processo de recuperação. Já tinha ajudado o FC Porto em outras ocasiões, com o Ivan Marcano, o Evandro e o Layún, mas só o caso do Marega acabou por ter mais alguma visibilidade.
"A vontade, a persistência e a disciplina de Marega ajudaram, porque o tratamento demora muito tempo e é doloroso"
Em que estado recebeu Marega? Tinha uma rotura muito grande?
-Não era uma lesão simples. Era uma lesão grave, com um prognóstico, como disse, de oito semanas. Mas não vou adiantar muito mais do que isso sobre o paciente por questões éticas. Não quero entrar em detalhes.
Durante quantos dias o tratou?
-O Marega esteve dez dias a ser tratado, entre o Catar e a China.
A condição física dele ajudou a que a recuperação fosse mais rápida ou isso não é importante?
-Cada atleta é um caso único, com características especiais. As lesões são tratadas de forma diferente e consoante o atleta. O Marega tem uma constituição física forte, mas foi essencialmente um atleta que chegou aqui com muita vontade de recuperar. O físico não importa neste processo de recuperação. Mas a vontade, a persistência e a disciplina dele ajudaram, porque o tratamento demora muito tempo e é doloroso. Ele estava disposto a tudo para recuperar e isso foi fundamental. Foi 90 por cento de caminho andado.
Marega tem sido reincidente em problemas musculares. Acha que a estrutura física dele é mais sujeita a este tipo de lesões?
-É uma análise complexa e é válida para qualquer jogador, não só para o Marega. Começa com a constituição física, a quantidade de jogos a que o atleta está a ser sujeito durante a temporada, se joga a titular regularmente, o tipo de terreno onde evolui, a intensidade do campeonato onde está, etc. Tudo isso são influências que vão gerar a possibilidade de um atleta ter mais ou menos lesões. A carga que ele recebe nos treinos e a gestão que é feita dessa carga também influencia muita coisa, daí ser difícil dizer que esteja mais ou menos sujeito, pela simples constituição física. Além disso, seria preciso saber que tipo de tratamento ele fez antes para recuperar dessas lesões, se foi eficaz para evitar uma recaída, enfim, não há somente uma causa.
"REALMENTE PARECE MILAGRE"
À formação académica na área da fisioterapia, Eduardo Santos soma várias formações e investigação que desenvolveu ao longo de 18 anos.
Sente que paga a fatura de um trabalho de ponta que as pessoas ainda não dominam?
-Costumo dizer que o resultado, por ser muito diferente do que é habitual, realmente parece um milagre, mas não é um milagre; é um trabalho sério. A última coisa que eu sou é um curandeiro, porque tenho formação na área da fisioterapia desportiva, fui professor na faculdade de medicina desportiva, tenho um doutoramento, um mestrado e mais uma série de cursos que fiz. Fui criando a minha caixa de ferramentas. Muita gente na medicina optou por se especializar, mas eu preferi fazer o contrário; optei por ser generalista e abraçar várias técnicas. Mas ainda tenho vontade de aprender mais. É isso que faço; aprendo, filtro o que me interessa e coloco na minha caixa de ferramentas para o que preciso. Aprendi, em 18 anos de profissão, trabalhando e estudando. Não existe um aparelho, mas vários, e muitos dos que vou utilizando também estão nos departamentos médicos de todos os grandes clubes.