ENTREVISTA >> Matheus, guarda-redes do Braga, destacou que o plantel absorveu o melhor de cada treinador numa época com cinco mudanças no banco e referiu que o terceiro lugar foi como o resultado de uma partida de xadrez
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Matheus voltou a tomar conta da baliza do Braga após uma época marcada por uma grave lesão e viu, acima de tudo, muita qualidade na equipa.
Se no início da época lhe dissessem que o Braga iria ter cinco treinadores e que iria acabar no terceiro lugar do campeonato, teria acreditado?
-Não, não acreditaria. Seja como for, o Braga terminou o campeonato da forma como o plantel acreditava ser possível. O Braga mereceu ficar em terceiro lugar.
Como é que a equipa aguentou o impacto de ter tido cinco treinadores diferentes, se bem que Abel Ferreira tenha saído ainda durante a pré-época?
-Na verdade não foi nada fácil, porque cada treinador tinha o seu sistema de jogo, jogava de uma forma diferente, mas o grupo esteve sempre unido, o balneário esteve sempre fechado e talvez isso tenha sido determinante para o desfecho. Houve ajuda de todos os jogadores na perseguição do objetivo planeado.
E não houve uma certa confusão dos jogadores com as muitas mudanças de equipas técnicas?
-Confusão não direi, mas foi necessária muita conversa, que ajudou a ultrapassar as dificuldades. O plantel esteve sempre muito unido e acho que até acabou por ser fácil para os treinadores que chegaram. Acho que foi uma prova de maturidade. Apesar de haver jogadores muito jovens, o plantel mostrou a sua maturidade e qualidade. Os mais experientes tiveram um papel essencial na ajuda aos mais novos. O papel dos capitães também foi importante para manter o grupo unido.
Apesar da mudança de treinadores, e tirando o início de época, o Braga andou sempre lá em cima...
-Mesmo com essas mudanças de treinadores, a base foi sempre a mesma, isto é, a equipa sempre quis ter bola e sempre quis controlar o jogo. A partir daí, mantivemos o nosso espírito e a nossa qualidade. Mesmo que alguns jogos não tenham corrido bem, o essencial foi a conquista do pódio.
Terá sido o Braga o resultado de cinco ideias diferentes?
-Talvez tenhamos extraído o melhor de cada treinador, de cada pessoa. Tentámos extrair o máximo de cada um deles para o bem do plantel. Depois, insisto, a maturidade dos jogadores foi muito importante. A conquista do terceiro lugar foi como um jogo de xadrez, com muita paciência, com muita tática, só conseguido na última jornada. A grandeza do Braga justificava este lugar.
Defensivamente a época esteve longe de ser perfeita, com muitos golos sofridos. Porquê?
-Devido à nossa forma de jogar, a equipa ficava um pouco exposta. Mas mesmo com esses golos sofridos devemos realçar o alcance dos objetivos. Podemos sofrer muitos golos e ser campeões na mesma. Sofrer menos golos é sempre melhor, mas o que importa é o resultado final e os objetivos traçados no balneário, com o grupo, com o presidente.
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"Todo o jogador pensa em chegar à Seleção"
Quando chegou ao Braga pensava ficar tantos anos?
-Não, sinceramente não pensava. Era jovem, cheguei ao clube com 21 anos e tinha outro pensamento. Cheguei solteiro, agora estou casado com uma portuguesa e tenho dois filhos. Os pensamentos mudaram. O objetivo é fazer história no Braga, um clube que me abriu as portas da Europa e, por isso, penso em deixar uma marca, porque é isso que fica. Espero retribuir com resultados o carinho que o clube me dá.
Por via do casamento ficou com passaporte português. Ser chamado à Seleção Nacional é mais um objetivo ou um sonho?
-Todo o jogador pensa em chegar à Seleção, porque é o expoente máximo. Estaria mentindo se dissesse que não sonho em chegar à Seleção Nacional. Para o conseguir tenho que estar focado no clube e na conquista dos seus objetivos, porque depois disso, aí sim, poderei pensar nesse patamar. Não adianta nada sonhar se não estiver a fazer um bom trabalho no clube. Tenho de me dedicar e empenhar no clube e depois, se chegar à Seleção, será a consequência do trabalho.
Qual foi o jogo mais difícil que teve na última época?
-A final da Taça da Liga, contra o FC Porto.
E qual foi o avançado mais complicado que defrontou?
-O Marega deu-nos bastante trabalho, porque ele joga com a bola em profundidade, tem capacidade de explosão e mostra ser um jogador também muito versátil. Ele adapta-se a várias formas de jogar e, nesse contexto, considero que nos deu bastante trabalho.
Qual foi o guarda-redes que mais o impressionou na última época?
-O Helton Leite. Tal como eu, passou por uma cirurgia ao joelho e conseguiu dar a volta por cima, mostrando um grande futebol. Foi o guarda-redes que me chamou a atenção.
"Evoluí bastante no jogo de pés"
Depois da conquista da Taça da Liga e do terceiro lugar, qual é a margem de crescimento do Braga?
-O que tenho comentado é que o Braga tem crescido muito e verifico isso desde que cheguei, em 2014. A evolução anual está à vista e espero que continue a crescer. O Braga vai continuar a evoluir ao entrar em todos os jogos para vencer.
A margem de crescimento passa por conquistar títulos?
-Claro. Vencer os jogos e olhar os adversários nos olhos é o mais importante. Depois, veremos onde isso nos levará. O Braga tem crescido, mas tem mais por onde crescer. Sentimos que os adversários olham para nós de maneira diferente, jogam contra nós à espera do erro. Isso é também reflexo da evolução do clube.
Depois do terceiro lugar, há realmente espaço para o Braga se intrometer um pouco mais acima, na luta pelos dois primeiros lugares?
-A margem de manobra é evoluir e ir passo a passo. Não adianta dar um passo maior do que se pode dar, é ir devagar, tranquilo e jogo a jogo. Além disso, também é importante jogar bom futebol.
O que falta ao Braga para lutar pelo título?
-Só temos de pensar em ganhar jogos. Temos condições fantásticas em termos estruturais. Um jogador chega ao clube e só pensa em trabalhar, não precisa de preocupar-se com mais nada. O suporte que o Braga nos dá é de clube grande. Depois, os nossos adeptos são incansáveis, estão sempre connosco, têm orgulho.
Carlos Carvalhal disse que não quer ganhar de qualquer maneira e aposta no bom futebol. Como é que os jogadores recebem essa mensagem?
-Temos de ter o mesmo objetivo dele, toda a gente no clube tem de remar para o mesmo lado. Essa pretensão do míster vai ao encontro dos jogadores. Queremos jogar bom futebol, embora sabendo que nem sempre correrá bem. Vamos tentar praticar bom futebol e ganhar.
Carvalhal gosta de sair a jogar desde a baliza...
-É verdade. É uma forma de jogar muito corajosa, porque a equipa fica exposta. Temos de estar unidos em torno dessa forma de jogar. Acho que vai correr tudo bem. Evoluí bastante no jogo de pés, o Braga foi importante nesse crescimento. Tinha dificuldades, mas trabalhei muito.
Gostava de ver o Rio Ave?
-Gostava. Um jogador gosta de praticar bom futebol, se bem que o mais importante seja ganhar. Não importa se se joga muito bem se no fim o objetivo não for cumprido.