Marcano sobre a lesão grave: "Tens de ter a cabeça forte e pessoas que te ajudem"

Marcano voltou a jogar pela equipa principal do FC Porto em Vila do Conde
Ivan Del Val/Global Imagens
Marcano sofreu rotura de ligamentos do joelho direito a 21 de maio de 2020 e na fase de recuperação pôs mesmo em causa se voltaria ao mesmo nível. Mensagem de tranquilidade de Conceição ajudou
Os 12 meses que passaram desde a lesão (21 de maio de 2020) até ao regresso à competição pela equipa principal do FC Porto (15 de maio de 2021) foram uma montanha-russa de emoções para Marcano.
A raiva inicial por ter sofrido uma rotura de ligamentos no joelho direito deu lugar à vontade de voltar rapidamente, pelo que em alguns momentos o central teve a sensação de passar 24 horas a pensar em como melhorar. Os oito minutos que disputou com o Rio Ave em 2020/21, depois de ter feito dois jogos pela equipa B, foram um primeiro sinal para o espanhol de que a retoma estava para breve. Por isso, empenhou-se ainda antes do arranque desta pré-época, altura em que sentiu que estava novamente preparado para dar 100% de si aos dragões.
Há um ano estava a recuperar de uma lesão grave. Conduza-nos por esse processo de recuperação, o que sentiu quando sofreu a lesão e ter de enfrentá-la durante um período de pandemia...
-Foi uma sensação, sobretudo, de raiva, porque já percebia que ia ser difícil. Vi logo no momento que ia passar por tudo aquilo que passei e que ia estar de fora muito tempo. Raiva também por não poder ajudar a equipa, quando só faltavam dez jogos depois da paragem pelo covid, e ter a sensação de que ia perder o final da época passada.
E ver os companheiros a treinar enquanto enfrentava este processo?
-É um processo lento, que muda um pouco a visão dos jogadores do que é o futebol, porque achas que o futebol é ir treinar, trabalhar e jogar. Mas o desporto tem outros caminhos, que passam por superar adversidades, ter a cabeça forte nos momentos difíceis e essa lesão ajuda-te nisso, porque é muito tempo, nem sempre a recuperação corre como se quer que corra e tens de ser forte de cabeça. Ensina muito esta lesão. É um desafio.
Alguma vez chegou a pensar que poderia não voltar a jogar ao mesmo nível?
-Há momentos para tudo. Tens momentos em que tens dúvidas se está a correr bem e se vais voltar ao mesmo nível que tinhas, há semanas duras e outras que correm muito bem e achas que vais voltar mais cedo do que pensas. É um processo que tem altos e baixos. Tens de ter a cabeça forte e pessoas que te ajudem, seja a família, o staff médico ou o staff técnico. Tens de te apoiar nas pessoas que estão mais perto de ti e sentir a ajuda delas.
Quem foi a pessoa mais importante no processo de recuperação?
-Seria um bocado injusto falar de uma só pessoa, porque no departamento médico tive muitas pessoas que me ajudaram, a família, sobretudo, é importante, porque nem sempre estás com a melhor cara e nem sempre está a correr tudo bem. Então, é importante chegar a casa e tentar desligar, o que é muito difícil para mim, e a família ajudou-me imenso.
Que mensagens Sérgio Conceição lhe foi transmitindo ao longo da recuperação?
-A mensagem mais importante do míster foi tranquilidade, porque estas coisas demoram e levam o seu tempo. Sou uma pessoa que gosta muito de que as coisas corram bem, que seja tudo ao milímetro e, às vezes, neste tipo de recuperações não é assim. Às vezes, tens de pensar noutra coisa, mas tinha a sensação de que estava 24 horas a pensar em como melhorar da lesão. E talvez por isso seja melhor desligar um bocadinho do que está a acontecer e viver outras coisas.
Os minutos que fez em Vila do Conde pareceram simbólicos. Que significado tiveram? Foram um prémio para o que tinha passado?
-Sim, é provável. Na época passada, quando estava recuperado, o campeonato já estava muito, muito avançado. Por isso, esses minutos... Não sei se foram um prémio, mas, pronto, um sinal de que voltaria na época seguinte e de que poderia voltar ao mesmo nível em que estava. Para mim, tiveram um significado muito grande, porque vi que podia voltar a jogar.
Quando começou a sentir que estava em condições de voltar a 100% à equipa?
-Foi já nesta temporada. Tentei fazer um bom trabalho antes da pré-época e, depois, já na nessa fase de preparação, sentia que estava a conseguir dar 100%.
"Estou grato e tenho a ilusão de jogar mais e vencer títulos"
Não fosse uma breve passagem pela Roma (2018/19) e Marcano estaria agora a cumprir a oitava época consecutiva no FC Porto, de muito longe o clube com o qual mais se identificou ao longo da carreira e que lhe proporcionou a conquista de três títulos (dois campeonatos e uma Taça de Portugal).
Em setembro deste ano completou 200 jogos ao serviço dos azuis e brancos - atualmente conta 202 - e tamanho registo fá-lo sentir-se "grato ao clube e aos adeptos", que sempre o trataram "muito bem".
"Tenho a ilusão de fazer mais jogos e que eles nos levem à conquista de títulos, porque é isso que todos queremos e para o qual todos trabalhamos no FC Porto", refere o espanhol, de 34 anos, cujo atual contrato com os dragões termina a 30 de junho de 2023.
