O presidente é benfiquista, o treinador fez-se na Luz... e o protagonista da vitória que acabou com o penta também. Miguel Cardoso fez ruir teorias da conspiração com dois golos em nome da dignidade da Liga.
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Emblema amigo do Benfica e perito em roubar pontos aos grandes, o Tondela nunca vencera na Luz. As relações fortes, porém, não impediram a proeza inédita (2-3) que custou o penta aos campeões e foi escrita com dois golos de Miguel Cardoso, 23 anos que cresceram de águia ao peito e terão dado o título ao FC Porto, além de um golpe nas teorias de que seria um adversário fácil.
Que tal é a sensação de resolver um campeonato?
-Por acaso, nesse contexto, não tinha pensado resolver o campeonato; pensei mais na nossa realidade, a permanência na I Liga, que era o que queríamos e, matematicamente, conseguimos. É óbvio que tem mais gosto ainda por ser na Luz, contra o Benfica. Tirando o FC Porto, ninguém ali tinha ganho esta época. É mais especial por isso.
Se calhar, já tinha sonhado um dia resolver um campeonato para o Benfica, mas ao contrário, quando jogava no clube?
-Claro que sim! Fiz lá a formação até aos juvenis; depois passei pelo Casa Pia e pelo Real Massamá. O objetivo de qualquer um que passa nesse clube é chegar à primeira equipa. Não foi possível, mas fico contente pelo meu percurso.
Muita gente ficou surpreendida com a vitória do Tondela na Luz. Vocês também?
-Por muito que diga que não, é óbvio que sim. É um campo que sabemos que é extremamente difícil, tal como Alvalade e o Dragão, ou mesmo em Braga e Guimarães. São equipas mais fortes, com mais qualidade, é esta a verdade. Sabíamos que tínhamos uma tarefa muito complicada, que íamos ter de sofrer, e foi o que aconteceu, mas superámos as expectativas e ganhámos.
E o Benfica, surpreendeu-o?
-Sabíamos o que íamos encontrar. Surpreendeu, se calhar, por não jogarem dois/três jogadores habituais, mas, no Benfica, qualquer um que jogue cumpre. Nós começámos a perder 1-0 e é o normal na Luz. Eles, antes do dérbi, tentaram gerir e fomos felizes por virar o jogo.
O Tondela era visto como inofensivo na Luz. Já tirara pontos a FC Porto e Sporting, mas nunca ao Benfica. Nesta época de teorias da conspiração, isso mexeu convosco?
-Mexeu connosco e serviu de motivação. Esta vitória foi mais uma prova de que as equipas mais pequenas têm dignidade, são muito profissionais. Esta equipa merecia, por tudo o que se dizia do Tondela e do nosso grupo.
E porque nunca acontecera antes?
-O normal é o Benfica ganhar ao Tondela, isto é a verdade; têm mais condições, jogadores com mais qualidade, outro orçamento. Não é fácil ganhar a nenhum grande, e muito menos no seu próprio campo.
Como vê as teorias da conspiração deste final de época?
-O futebol está a tomar proporções que não devia. Desconfiamos de tudo e de todos. Um jogador tem um erro contra uma equipa grande e já dizem que está vendido... isso é muito feio. Nós somos profissionais, trabalhamos todos os dias, temos muita dignidade e queremos sempre o melhor para nós, para a nossa equipa.
Também há a teoria de que vencer um grande pode valer mais do que pontos...
- É como digo: hoje em dia fala-se de tudo. De tudo, menos do que interessa.
Não houve mala para vocês?
-Não, claro que não! Para nós, houve o que trabalhámos durante toda a semana e felizmente tudo correu bem: fomos lá ganhar os três pontos, que era o que queríamos.