Advogado de Luís Filipe Vieira falou na noite desta segunda-feira à TVI a propósito da operação Cartão Vermelho.
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Contratos: "Muita gente tem uma conceção ética diferenciada. O que está ali descrito são atividades económicas normais. Vamos pensar nos blocos de factos da indiciação. Ponto um, contratos de compra de jogadores. Os jogadores são compradas por valores de mercado, há comissões de mercado, entre 5 e 15 por cento e não está dito em nenhum momento do despacho do MP que haja qualquer irregularidade nestes contratos de aquisição. O que se aplica a Luís Filipe Vieira aplica-se aos outros."
Benfica não foi lesado, vinca: "Há uma discrição dos contratos e diz-se posteriormente que o intermediário [Bruno Macedo] comprou imóveis a empresas da área imobiliária do senhor Luís Filipe Vieira e mais tarde entrou em participações sociais de empresas. Suponha que estava lá que foram ouvidos peritos desportivos a dizer que estes jogadores não valem um caracol, e que os preços pagos por eles e as comissões foram exagerados. Portanto, quando ele vai comprar os imóveis, dizemos que está a esconder e transferir por essa via o que recebeu. Mas não está lá nada disso. Se tivesse dito isso, era crime, mas nada disse está dito. Quando oiço falar em lesão dos interesses do Benfica, pergunto: 'mas quais interesses, o que foi lesado nos interesses do Benfica?'".
Pode haver algo oculto no processo? "Não esperaria essa deslealdade do MP. Para que pudesse haver esses elementos não facultados teriam de ter dito que havia desconformidade de contratos, de comissões mas não está dito. Este processo esta a ser investigado desde 2018, tem três anos de escutas telefónicas, de diligências várias, tudo sob o controlo do juiz Carlos Alexandre. Nunca esperaria em face do que é o padrão de comportamento da nossa instrução criminal e do doutor Carlos Alexandre que ele fosse modificar só pelo que lhe disse ou pelo que ele foi entendendo ao longo destes três anos."
Porque Bruno Macedo é arguido? "Teria de perguntar ao MP, eu também não sei porque está aqui como arguido."
Segundo lote de factos: "Este é o primeiro lote de factos, depois há o segundo que mais traz inquietação e mágoa a Luís Filipe Vieira. Um homem que está há 18 anos à frente do clube sente-se muito magoado. Até porque para ele esta situação é uma revisão da matéria dada, já foi acusado de ser burlão por este mesmo juiz que não deu em nada. Percebe mais uma vez que está a passar pela mesma situação."
Vieira de calças na mão: "Em 2012 Ricardo Salgado era conhecido como DDT, o dono disto tudo e não havia nenhuma suspeita de haver alguma irregularidade com o BES. O BES e o BCP eram financiadores habituais de Luís Filipe Vieira e do Benfica. E em 2012 é proposta uma parceria numa das empresas do grupo GES dando-lhe um crédito de 54 M€ para a área imobiliária em que ele entrou. Agora, em 2014 dá-se a 'debacle' e Luís Filipe fica de calças na mão. 'Devo 54 M€ e como vou pagar isto?'. E inicia negociações.
Foi enganado? "Ele não foi enganado por Ricardo Salgado, não podemos partir dos factos que temos à frente para os que estavam atrás. A empresa em que ele [Vieira] entra tem ainda 102 mil m2 de construção na Barra da Tijuca de primeira e de segunda linha, que vale 90 milhões de euros. Ele não foi enganado coisa nenhuma, era uma empresa em dificuldades que ia ser recuperada por via imobiliária. Na sequência da Resolução e do Novo Banco, Luís Filipe Vieira tentou negociar lembrando que por baixo daquela empresa havia um património importante que permitiria recuperar o crédito mediante diligências para ser posto no mercado. Financiam? Não. Continua a negociar até vir esse magnífico negócio do Governo português do Lone Star. E o Novo Banco entende dar o crédito como incumprido, ir ao Fundo de Resolução cobrar 89 por cento e colocar o remanescente no mercado para ser comprado por um qualquer fundo."
Testas de ferro: "Não há testa de ferro nesse sentido pejorativo quando um devedor na relação com o credor e para facilitar a negociação da compra do crédito aparece através de uma terceira pessoa. É o que faz qualquer devedor. Vieira não tinha dinheiro para comprar a este fundo, foi o Novo Banco quem o vendeu. Vieira não tinha dinheiro disponível para comprar o crédito, pergunta ao amigo de 40 anos, José António dos Santos, se quer comprar porque por baixo havia aquele negócio imobiliário no Rio de Janeiro. E ele disse claro que sim, podia ganhar dinheiro ali e Vieira dava a ajuda necessária e também via alguém. Qual é o crime? Um devedor vai negociar junto do credor."
Batota: "Há uma batota manifesta na acusação nesta matéria. Diz-se que desse crédito que vinha desde 2012 usou da sua conta do Novo Banco 8 M€ para outra conta sua. Depois está lá a data, 22 de julho de 2014. Numa altura em que não há Novo Banco, não há Fundo de Resolução, é falso. A Resolução do BES é de 4 de agosto de 2014. A acusação vale isto..."