Luís Godinho apita final da Taça: "Que a nossa vitória seja que ninguém fale de nós"
Declarações à margem da conferência de imprensa da equipa de arbitragem nomeada para a final da Taça de Portugal, entre Benfica e Sporting, jogo que está marcado para as 17h15 de domingo
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LUÍS GODINHO
Como se prepara para um jogos destes, sabendo que a margem de erro neste jogo é nula? “Não são muito usuais, estas intervenções, por isso vou aproveitar. Um jogo destes prepara-se como qualquer outro jogo. Como costumo dizer, todos os fins-de-semana, devemos preparar o nosso jogo como sendo a nossa final. Prepará-la ao ínfimo detalhe, ao ínfimo pormenor. No detalhe e no pormenor está a excelência da decisão da equipa de arbitragem, quando ela tem de ser tomada. Um perfeito conhecimento conhecimento dos intervenientes do jogo, das nuances táticas durante o jogo, nas bolas paradas, os momentos como as alterações do marcador, quando uma equipa fica a ganhar ou a perder, tudo isso condiciona a nossa equipa de arbitragem na nossa ação. Tentamos preparar-nos com o máximo de informação para que, quando alguns cenários aconteçam em campo, nós possamos dar a resposta desejada por todos, e estar mais perto da zona de decisão.”
Porque não são usuais [conferências de imprensa da equipa de arbitragem] e por que razão acha que devem acontecer mais vezes? “Por experiência própria, e pela minha opinião, acho que é benéfico para todos que a equipa de arbitragem tenha esta aproximação de todos, dos adeptos, do futebol no seu todo, para que as pessoas possam perceber que, no final das contas, estão aqui homens e mulheres com vontade de fazer o melhor.”
Esta época, gerou-se alguma polémica em torno da arbitragem, com os presidentes dos dois clubes finalistas a falarem. Como lidam com as críticas? Aumentam a pressão sobre o vosso trabalho? “Atrevo-me a dizer que, desde que me lembro, assim é. O que faço, tal como o setor de arbitragem faz, é proteger-me, com todo o respeito por todos os intervenientes, e pelo espaço que têm, dentro do futebol, para falar. Tento abstrair-me daquilo que não tem, para nós, grande importância. Focamo-nos no nosso trabalho, na nossa função, na nossa preparação. Efetivamente, podemos cometer lapsos. O que fazemos, semana a semana, é trabalhar para, na semana seguinte, não os voltarmos a cometer, somos os primeiros a querer decidir bem. Com todo o respeito por todos, focamo-nos, essencialmente, no nosso trabalho e preparação para os jogos, e não no ruído exterior, que, às vezes, torna-se maior.”
Qual vai ser a estratégia da equipa de arbitragem, vai ter uma abordagem mais soft, ou mais ríspida? “Tentamos preparar o jogo com a máxima informação possível para termos vários planos de ação. As entradas em campo é algo que, indiretamente, diz respeito sobretudo aos intervenientes principais. Depende da forma como eles vão entrar em campo, da forma como vão disputar cada lance, para nós ajustarmos a nossa estratégia. A resposta politicamente correta, que todos esperarão, e nós vamos dar, é esta: a equipa de arbitragem decidirá o que o jogo pedir. Por vezes, a sensibilidade muda muita coisa. O que vamos ter em campo, além da aplicação das leis do jogo, é um bom senso, para que não estraguemos o jogo, como muitas vezes é dito. Estragar, no sentido do espectador, porque a lei é cumprida e exercida em campo. Deixo uma palavra para os intervenientes, para que desfrutem do jogo, como eu vou desfrutar, e que esqueçam, durante 90 minutos, a equipa de arbitragem. Nós vamos estar, certamente, focados em dar o nosso melhor, não só por nós. O que as pessoas do futebol querem é que a equipa de arbitragem esteja a um nível de excelência. Entraremos a todo o gás para o que o jogo pedir.”
Como se prepara a equipa de arbitragem para um jogo destes? “A preparação é de igual forma muito competente, como a de qualquer uma das outras equipas. Nós trabalhamos muito com a análise dos jogos, para percebermos esquemas táticos, comportamentos dos jogadores. Temos a experiência própria, dirigimos estas equipas algumas vezes durante estes anos, conhecemos os intervenientes, os seus comportamentos, os jogadores que são elos de ligação à equipa de arbitragem, e que nos podem ajudar em momentos mais complexos do jogo, em situações mais quentinhas. Sabemos os intervenientes com quem podemos falar, com quem não podemos falar, conhecemos os treinadores, a composição do banco técnico, os elos de ligação à função do quarto árbitro, a Sandra. Este é mais um jogo, mas é preparado ao ínfimo pormenor que possa requerer, em qualquer momento, da equipa de arbitragem, um reajuste da atitude. Ter conhecimento de todos esses dados vai requerer de mim uma localização no campo diferente, precisarei de ter essa leitura de jogo para que possa ser proativo e estar no meu sítio antes de o jogador ter o pensamento de fazer alguma ação. Por vezes corre mal, porque eles enganam-me e fazem outra coisa. Este tipo de informação leva a que eu, no campo, e os meus colegas, nas suas funções, estejamos sempre preparados para qualquer cenário que possa acontecer. No seu todo, há uma análise do jogo, e um conhecimento das táticas e dos intervenientes do jogo.”
Tem alguma mensagem especial para os adeptos? Está satisfeito por apitar a primeira final da Taça no Jamor? “Tenho recebido muitas mensagens, muitas delas de apoio, curiosamente. Sou um frequentador assíduo das redes sociais, sou um teimoso por natureza, vou lá estar até ao final da minha carreira. Se já algo que as redes sociais me têm dado, é conhecer as pessoas, e as pessoas que me tentam conhecer. Não deixo ninguém sem resposta, tenho recebido inúmeras mensagens de apoio e incentivo. As pessoas percebem que, para nós, também é um jogo especial. Estou imensamente feliz por estar no Jamor. Estar neste jogo, nesta final, neste palco, para quem gosta do futebol, é um momento único na carreira de um árbitro. Ter o prazer de estar presente, ter sido o privilegiado por ter sido escolhido, dá-me a responsabilidade acrescida de representar uma classe de arbitragem que vem da base ao topo, jovens, menos jovens, altos, baixos, magros, menos magros, com cabelo e sem cabelo. Sinto muito orgulho por poder estar presente e ter esta responsabilidade. Espero retribuir com decisões corretas, que a nossa vitória seja que ninguém fale de nós no final [do jogo].”
Vai ser um jogo intenso dentro e fora do campo, sabemos o que aconteceu na última final da Taça em que as equipas se defrontaram [morte de um adepto do Sporting, atingido por um very-light]. Este aspeto afeta o estado de espírito do árbitro? “O comportamento dos adeptos é algo que não conseguimos controlar, não tem de estar na minha preparação do joog. Isso não está na nossa estratégia. Acho que todos aprendemos com os erros do passado, o futebol aprendeu com os erros do passado em relação a esse incidente como aprendeu com os que aconteceram depois. Hoje, as pessoas estarão mais preparadas para vier o jogo, esta rivalidade vai ser eterna, vive-se a lutar, cada um defende os seus, nada contra. As pessoas devem aproveitar este momento para fazer do futebol entretenimento, para que possam levar famílias, filhos [aos jogos] para que não haja a preocupação constante de pensar se se deve levar o filho menor ou não [ao estádio]. É completamente contraditório à nossa paixão pelo futebol. Tentaremos fazer alguma coisa para que as coisas vão mudando, e têm mudado substancialmente. Não somos perfeitos, ainda, mas para lá caminhamos. A mensagem para os adeptos é esta: desfrutem do jogo, celebrem os golos. Uma equipa vai ganhar, a outra vai perder, saibamos, nesta rivalidade, não só ganhar, mas também perder.”
Que tipo de comunicação esperam ter com os capitães, como elos de ligação? “Como sempre diz até hoje, com total lealdade. Os jogadores merecem total respeito e lealdade, principalmente aqueles que são os representantes da equipa junto de mim, os capitães. A regra do capitão diz que, maioritariamente, são eles que podem falar comigo, mas a lei não pode ser levada ao extremo, nem cegamente, em que não posso falar com mais ninguém. Há jogadores que, sendo capitães, nos ajudam a levar a mensagem a certos intervenientes de uma forma muito indireta, por vezes fora do foco do jogo. Com lealdade e respeito, ser-lhes o mais verdadeiro possível, não andar com histórias de encantar. Eles questionam, reclamam, eu tento dar a minha perspetiva daquilo que eu vi, do que não vi, o que acho, o que não acho, sempre pela minha sensação em campo, nunca desvalorizando a pergunta ou a abordagem, desde que seja feita de uma forma respeitosa. Há uma linha que separa o falar do protestar e reclamar de uma forma efusiva, não podemos fechar os olhos a isso. Há algo que nos diz que, por ser capitão, podia fazê.-lo. Mas há uma linha que separa ser o capitão a fazê-lo respeitosamente, de uma abordagem fora da caixa. Espero, com dois capitães [Otamendi e Hjulmand] com uma experiência brutal no futebol, que sejamos uma boa equipa."
Sandra Bastos, quarta árbitra para o jogo
O que significa estar aqui presente? “Para mim, é um enorme privilégio estar neste enorme palco, perante três grandes equipas. É uma honra, estou muito feliz, esta nomeação é um reconhecimento da minha competência, do meu trabalho, da minha dedicação durante 25 anos, e também da grande paixão que tive pela causa da arbitragem. Considero [a nomeação] um reconhecimento do meu contributo para a arbitragem. Queria deixar uma palavra a todos os jovens que estão a dar os primeiros passos na arbitragem, abracem a causa com muita paixão e dedicação, será um caminho com muitos desafios, mas também será um caminho com muitas grandes conquistas e alegrias.”