Leça viu inscrição na Liga 3 travada pela FPF: "Foi um soco violento no estômago"
O Leça vai lutar nos tribunais pela razão a que acha que tem direito. A FPF não aceitou a inscrição do clube na Liga 3, mas estava a par do problema que incomodava os leceiros. E continua a incomodar...
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A 23 de julho de 1998, o Leça era despromovido da I Liga por alegada corrupção sobre o então árbitro José Guímaro. O CD da FPF decretou a descida; 23 anos depois, a FPF volta a ter intervenção direta na vida do clube, ao não aceitar a inscrição na Liga 3, alcançada no campo desportivo com todo o mérito. António Pinho, presidente do clube desde 2011, diz que foi "um soco violento no estômago" e está convicto de que houve "falta de sensibilidade" da Federação.
Na origem de todo o imbróglio está um pedido de insolvência intentado pelo antigo presidente Manuel Rodrigues, que liderava o clube na altura do "caso Guímaro", também conhecido pelo "caso dos quinhentinhos", porque em causa esteve a fotocópia de um cheque encontrado em casa do antigo árbitro, no valor de 500 contos (2500 euros), ação movida no Tribunal de Gaia, e depois enviada para o Tribunal de Santo Tirso, onde o Leça tem aprovado um PER em execução. "Por causa dos problemas funcionais causados pela pandemia, só em janeiro passado fomos notificados da situação, mas não quisemos alertar ninguém, porque a equipa estava a lutar pela subida, estava em primeiro, e isso iria causar perturbação nos sócios e nos jogadores", conta António Pinho. "Não foi para manter em segredo o problema, até porque tínhamos a convicção de que iríamos ganhar a causa", como viriam a ganhar.
"Estamos aqui desde 2011, sempre tivemos a preocupação de pagar as dívidas que herdámos e estamos a conseguir"
No passado domingo, foi conhecida a decisão do Tribunal de Santo Tirso, que anulou o processo de insolvência e condenou Manuel Rodrigues, por litigação de má fé, por ter "intentado uma ação sem o mínimo fundamento legal". Mas esta decisão do Tribunal chegou tarde. O facto de haver um processo de insolvência em curso afastou o investidor. "Teve receio, naturalmente, de investir num clube nessa situação, correndo o risco de insolvência", conta António Pinho, e o Leça não teve dinheiro o para saldar a dívida de 630 mil euros ao fisco - 250 mil à cabeça e o resto em prestações. "Foi uma questão de dias. Formámos a SAD que herdaria um passado limpo, mas a FPF não foi sensível, e podia ter sido, porque estava a par do nosso problema. "Se a decisão do tribunal tivesse vindo uns dias mais cedo, o Leça não estaria nesta confusão."
Direção demite-se, mas recandidata-se
Como O JOGO já noticiou, o clube tem em andamento um recurso para o TAD e uma providência cautelar, na esperança "de ver revertida" uma situação que é quase "um caso de humanidade", reforça António Pinho. Para já, a Direção do clube vai demitir-se e recandidatar-se a eleições, apesar de ter mais um ano de legítimo comando. "Queremos que sejam os sócios decidir se nos querem ou não; por nós, não abandonaremos o barco."
António Pinho deixa um desabafo: "Estamos aqui desde 2011, sempre tivemos a preocupação de pagar as dívidas que herdámos e estamos a conseguir. Apesar disso, conseguimos, com a ajuda do investidor, formar equipas com qualidade. Não é por acaso que, mesmo nesta situação, continuam a surgir interessados em investir no clube. O Leça tem uma história rica e não vai morrer. É duro, tira-nos o sono o que nos aconteceu. Temos esperança, mas, se não nos for dada razão, não vamos desistir", promete o presidente.