Domingos Barros, treinador do Leça, defende que, depois do alento que a vitória do Alverca sobre o Sporting deu a todos os que defrontam adversários teoricamente mais fortes, "volta tudo à estaca zero", mas, ainda sobra muita margem para haver "surpresas".
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A terceira eliminatória da Taça de Portugal abriu com o Alverca a fazer cair o Sporting e a reforçar a esperança de todos os que defrontam as equipas mais fortes, como é o caso do Leça de Domingos Barros, que faz uma pausa no terceiro escalão, para receber o Braga, amanhã (20h45). Será uma "festa", acredita o treinador. Já não esperava facilidades de quem corre para chegar a títulos e tem nas taças vias prioritárias, pelo que o alerta dos ribatejanos ao balneário de Sá Pinto vale o que vale. Amanhã, "volta tudo à estaca zero" e a história escreve-se em campo, num relvado novo. "Claro que a sorte conta; o início do jogo vai contar e muito, porque o Braga entra sempre muito forte, mas, podem contar com o Leça. Penso que vamos ter jogo até ao fim", defendeu, esta sexta-feira, em conferência de imprensa.
Vitória do Alverca dá mais alento: "Torna tudo à estaca zero. Ontem, antes do Alverca-Sporting, o Alverca tinha a esperança de fazer uma surpresa e o Sporting tinha a responsabilidade de não facilitar. No final do jogo, com a vitória da equipa do CdP, teoricamente mais fraca, creio que as outras equipas equipas, o Leça, o Cova da Piedade [adversário do Benfica], o Coimbrões [defronta o FC Porto] e outras com adversários de I Liga vão achar que, afinal, a surpresa acontece. Vão voltar a ter aquele ânimo de que isso possa acontecer e a equipa mais forte estará ainda mais reforçada para não facilitar, zero facilitismo. Portanto, acho que volta à estaca zero. Não é o resultado de ontem que vai alterar alguma coisa."
Camisolas do Leça (idênticas às do Sporting) vão pôr o Braga alerta: "Exacto, vai ser o verde e branco, as cores serão as mesmas. O Sporting é um grande do futebol português a passar uma fase de instabilidade e o Alverca aproveitou bem. Nesse contexto, penso que o Braga, sendo uma equipa que se aproxima muito dos três grandes, irá facilitar ainda menos. A motivação do Braga será maior do que a dos três grandes porque, no patamar em que está, a vencer um troféu será uma das taças, a da Liga ou a de Portugal. Não vai facilitar mesmo em nada."
Braga instável no campeonato: "Teve alguma infelicidade. Claro que, com o sorteio, olhamos para o Braga de outra forma. Mas, já tinha visto o Braga, independentemente de saber se íamos jogar com eles ou não e esteve por cima nesses jogos que não venceu. Houve a particularidade, em Barcelos, daquela quebra de luz que quebrou também o jogo. O Braga tem vários objetivos e é normal que, nesta fase inicial, o objetivo principal fosse a entrada na fase de grupos da Liga Europa e aí saíram incólumes, fizeram uma prova fantástica. No campeonato, estão agora a somar pontos; na Taça da Liga, têm duas vitórias. É uma equipa no bom caminho, muito estável. Relativamente ao Sporting, tem outro historial, mas, neste momento, é mais estável. Se tiver de haver surpresa, haverá surpresa. Não se deve colocar o jogo de ontem como amostra do que possa aí vir, porque as diferenças estarão é no campo e aí é que temos de ser competentes."
Sorteio deixou-o aliviado ou preocupado?: "Na eliminatória anterior, já jogámos com uma equipa de um patamar superior, a Oliveirense, de II Liga. A partir do momento em que fazemos parte do sorteio, falava-se muito, mesmo os adeptos e nós, entre equipa técnica e os jogadores, sobre qual seria o adversário ideal. Sempre disse: ou um adversário teoricamente acessível, aqui em nossa casa; ou então, um dos três grandes ou o Braga ou o Vitória de Guimarães ou o Boavista, porque são equipas que mexem e seria sempre um jogo de festa. Caiu-nos em sorte o Braga e, por um lado, é até positivo em comparação com os três grandes. Repare: quem estiver aqui para apoiar o Leça, vai estar aqui só para apoiar o Leça. Sabemos que, muitas vezes, há pessoas que têm dois amores, o clube da terra e um dos grandes. O Braga vai permitir que a cidade esteja toda ao lado de Leça. Não haverá ninguém dividido."
Sentiu isso, durante a semana: "Sim. Desde 1998 que o Leça está afastado dos grandes palcos. Já não jogávamos com uma equipa de I Liga creio que desde 2000, numa eliminatória da Taça. O histórico com o Braga são 14 jogos, oito vitórias do Braga, três empates e três vitórias do Leça, sendo que foram todos em contexto de I Liga. Vi também que o Leça, nos últimos três jogos em casa, com o Braga, empatou dois e perdeu um. Neste quadro, temos aqui tudo para fazer história e para continuarmos a dar visibilidade ao Leça, que é para isso que trabalhamos, os jogadores, eu como treinador, que estou aqui há quatro anos; o Paulo [capitão de equipa] que me acompanha desde o início, e o Zé Pedro, o nosso director de futebol, que faz parte da mesma estrutura. Quando fomos convidados para tomar conta deste barco, o objetivo foi sempre que, no final da época, o Leça estivesse melhor do que no início, e isso tem acontecido. Quando chegámos, estávamos muito perto de cair na divisão de honra dos distritais e, hoje, estamos a jogar com o Braga. É isso que nos deixa felizes."
Repescagem faz sentido: "Isso faz parte das regras. De facto, fomos contemplados com essa sorte, este ano. É uma questão, de facto, a repensar. Antigamente, também havia isentos, porque o número de equipas nunca bate certo. Neste momento, fazem-se repescagens, mas, não se desvirtuaram as regras a meio do jogo; já estava assim e fomos contemplados com essa sorte."
Fator casa joga a favor: "Sim, jogamos em casa, vamos sentir-nos em casa, vamos jogar perto dos nossos, será uma festa e a envolvência será maior. Hoje em dia, no futebol, cada vez mais a envolvência em que se joga é mais importante. Não será pelas dimensões do relvado, quase máximas, mas pelo ambiente, sim. Jogar em Leça será diferente de jogar noutro lado. Será um fator positivo para nós. Para o Braga será um handicap, mas, quando a bola começar a rolar, isso não se irá notar, de certeza absoluta. Mas, estamos felizes por jogar em casa, disso não há dúvida."
Preparação: "Em termos de trabalho, não mudou nada. Tivemos alguns condicionalismos devido ao tratamento que foi feito no relvado para, amanhã, termos um espetáculo ainda melhor, sabendo que também vamos usufruir dele e de melhores condições no resto da época. Tivemos de andar com a casa às costas. O Leça só tem um relvado, prejudicou, se calhar, um pouco treinar em sintéticos; há dez dias que não fazemos treino algum em relvado. Mas, ainda bem que foi nesta altura. Vamos tentar compensar isso com a motivação de defrontar o Braga. É um prémio para nós."
Opções do adversário: "O Braga iria sempre facilitar menos do que os três grandes, porque tem o objetivo de conquistar o troféu. O melhor onze do Braga não é melhor do que o melhor onze dos três grandes, mas, em termos de homogeneidade da equipa, por posição, tem dois jogadores de qualidade. Para nós, e só para dar alguns exemplos, se não jogar o Matheus, jogará o Eduardo, que é internacional português e dispensa apresentações; se não jogar o Paulinho, jogará o Rui Fonte; se não jogar o Galeno, jogará o Wilson Eduardo e venha o diabo e escolha... Nós temos é de defrontar quem estiver no campo."
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