Declarações de Rui Pedroto, filho de José Maria Pedroto e atual vice-presidente do FC Porto, na antestreia do documentário "José Maria Pedroto, Um Homem Superior", no auditório com o nome do mítico treinador do clube azul e branco
Corpo do artigo
No final deste documentário do seu pai, é mais difícil falar do treinador ou do pai? "É mais difícil falar do pai. Como filho, estou comovido, como visivelmente se comprova pelas imagens. As minhas primeiras palavras é para agradecer aos homens da comunicação social por estarem aqui. São palavras de sentido agradecimento por estarem aqui a testemunhar a passagem de um documentário sobre uma grande figura do nosso país e do desporto nacional como foi a José Maria Pedroto quando amanhã se completam 40 anos sobre o seu falecimento. E é sempre comovidamente que se fala do pai. Eu estava a ver este documentário e estava a olhar para ele como se fosse ontem. Os que nos são mais queridos verdadeiramente nunca desaparecem da nossa memória. Enquanto aqueles que o conhecerem estiverem vivos, eles jamais perecerão. E hoje ficou aqui demonstrado também que ele é uma figura incontornável para a história do desporto português. E, sobretudo, este documentário tem uma particularidade: chama a atenção para aspetos da sua vida pessoal e profissional que eram desconhecidos de muita gente. Que se habituou a olhar para o fenómeno desportivo e para o futebol vendo apenas os êxitos e os fracassos das equipas. E que raramente olha para aquilo que se passa por trás do treinador. O homem que está por trás do treinador. E acho que o documentário de hoje é um exemplo paradigmático daquilo que eu me habituei, desde muito cedo, embora já tenha partido há 40 anos, a admirar no meu pai. Que é a inteireza e a integridade do seu caráter. Essa é a coisa mais importante que ele levou a mim, à minha família, e a todos aqueles que amam o futebol e o FC Porto."
O que é que acha que o seu pai, porque conheceu o homem antes do treinador, diria deste FC Porto de hoje? "Diria que está atento ao FC Porto. Estaria a viver com entusiasmo esta nova época e a torcer por fora para que consigamos revalidar o título de campeões nacionais. Tenho certeza que lá onde ele estiver e 'se memória desta vida se consente', citando Camões, ele estará lá a repousar eternamente e a desejar que o FC Porto tenha muito sucesso. Sucesso que é outros, mas é como se fosse dele."
Este documentário pode dizer-se que é um compêndio da mística do FC Porto? "Pode considerar-se que este documentário representa muito o que é a mística do FC Porto. Que ele começou a forjar. Desde logo, a partir da sua primeira passagem pelo clube. Há um pormenor que é muito demonstrativo de quanto ele é um avançado no tempo. Quando começa a treinar os juniores do FC Porto: a preocupação social imanente ao treino. Ver antes do jogador, ver o homem, ver naquele caso a criança ou o jovem que se aprestava a treinar e a servir o clube. Foi sempre essa dimensão de humanismo que esteve muito presente na vivência dele, no seu caráter e na interação que ele teve, não só com os jogadores, mas com todos aqueles com quem se cruzou ao longo da vida. Mais do que um treinador de exceção, e além de um homem de um caráter e de uma integridade extraordinárias, o meu pai era uma pessoa de uma generosidade enorme. E acho que isso transparecia do seu comportamento e todos aqueles cujos depoimentos ouvimos agora neste documentário deixaram claramente essa impressão da marca que o seu caráter, a sua personalidade deixou nas suas carreiras e nas suas vidas."
É correto dizer que aquele caderno, digamos assim, é uma espécie de livro de instruções para dar a dimensão que o FC Porto tem hoje? "É uma espécie de livro de instruções para a vida do treinador e para a vida. Estão ali compendiados os apontamentos, com quase 65 anos, que revelam bem aquilo que na verdade são questões que, sendo verdadeiras há 60 anos, são também hoje. Aquilo podia ser claramente um livro de instruções para a carreira de um treinador atual, porque tudo o que era essencial ao futebol e ao treino e à vivência desportiva está ali compendiado por um homem muito jovem, mas que desde jogador, desde logo, se insinuou como futuro líder, líder exímio, quem se viria a tornar, mas que nunca esqueceu a importância que tinha a base formativa e a necessidade de aportar conhecimento ao treino, ao jogo e à sua forma de exercer a profissão. Portanto, o meu pai era um homem de uma sagacidade e de uma intuição extraordinárias, mas ele alicerçado numa base de conhecimento teórico muito sólido, que ele percecionou desde muito cedo, que era fundamentais para ter sucesso na sua carreira desportiva."