João Pinto: "Hoje em dia, fazer negócios é mais importante do que jogar futebol"

Prémio One Club Man Award: "É um motivo de satisfação porque é um prémio que o Athletic atribui a jogadores que passaram a vida no mesmo clube. Estou muito feliz por isso e grato à equipa e ao seu presidente pela homenagem que me prestam. Devo confessar que fiquei surpreendido. Nem sequer sabia que o Athletic tinha jogadores como estes, que estão no clube há tanto tempo. Até agora, os que foram homenageados foram jogadores muito destacados, como Paolo Maldini, por exemplo. Por isso, também estou grato por fazer parte deste grupo de escolhidos que o Athletic homenageia todos os anos. Fiquei muito surpreendido, para ser sincero. Para mim, é incrível que um clube como este me esteja a homenagear. Quando joguei no FC Porto, mesmo em Portugal, falava-se de uma equipa que jogava com jogadores criados em casa, filhos de pais que viviam em Bilbau. Lembro-me que era uma equipa que também lutava por títulos quase todos os anos, que até ganhava campeonatos. Lutava com as grandes equipas como o Real Madrid ou o Barcelona. A forma como se vivia o futebol nessa década, com jogadores apenas de Bilbau, sempre me surpreendeu, sem esquecer, claro, os resultados alcançados."

Honrado: "Não estou nervoso. Não é essa a palavra correta. Vou ser homenageado por um clube estrangeiro, que não é de Portugal e isso é motivo de orgulho para mim. Sinto-me honrado e ao mesmo tempo muito feliz. E a partir de hoje o Athletic vai ter mais um adepto em Portugal. O facto de ser reconhecido internacionalmente ao fim de tantos anos é algo que me deixa muito feliz. Devo ter feito as coisas muito bem quando era jogador. Não tenho palavras para agradecer ao Athletic o que estão a fazer por mim porque, como diz, já passaram muitos anos e o facto de se lembrarem de um jogador que jogou noutro país, noutro clube, é motivo de orgulho. É por isso que, mais uma vez, quero agradecer ao Athletic e às pessoas que me permitiram viver este momento."

Mudanças no futebol: "No meu tempo, era pouco provável que um jogador deixasse um clube para ir para outro. Hoje em dia, costumo dizer que 'jogar futebol é comprar por dez e vender por 20'. É verdade. Hoje em dia, fazer negócios é mais importante do que jogar futebol. Eu era um jogador importante e claro que tive propostas, mas decidi ficar sempre no FC Porto. Era o capitão e também o capitão da Seleção portuguesa. E para mim isso era mais do que suficiente. Era um privilegiado. Fui um jogador que jogou sempre com a mesma mentalidade. Não me importava quem era o adversário. Joguei sempre da mesma maneira. Gostava de ganhar. A mensagem no FC Porto era sempre a mesma, que podíamos não ser tão fortes como os nossos adversários, por isso tínhamos de os ultrapassar. Só assim o sucesso está mais perto de ser alcançado."

Conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1987: "Estive 16 épocas no FC Porto, por assim dizer, uma vida inteira. Tive a sorte de fazer épocas muito boas. De facto, nos anos 80, ganhámos muitos títulos nacionais e internacionais, como a Taça dos Campeões Europeus contra o Bayern de Munique. Fizemo-lo com grandes jogadores como Paulo Futre ou Rabah Madjer. Éramos uma equipa fantástica. Mas também é preciso dizer que tivemos alguns momentos maus. Aprende-se com tudo."

O FC Porto atual: "É uma equipa bonita e interessante. Na minha opinião, é uma equipa muito boa. Começaram o campeonato muito bem, partilhando a liderança com o Sporting. Agora estão à frente, mas penso que são uma equipa jovem e vão precisar de tempo para se tornarem uma grande equipa. Estou convencido de que, mais cedo ou mais tarde, um FC Porto forte irá regressar. Sempre foi assim, mas também não é uma tarefa fácil, porque o FC Porto tem de vender jogadores, como todas as equipas, todos os anos. As equipas mais fortes, como o PSG ou o Manchester City, têm mais facilidade em construir equipas. O caso do FC Porto é diferente porque, apesar de vender jogadores, consegue ter equipas para lutar contra as grandes equipas, principalmente em Portugal."

Adeptos do Athletic Bilbau: "São adeptos que também respeitam o adversário quando joga em San Mamés. E isso diz muito sobre eles. De um modo geral, é uma massa adepta muito semelhante à do FC Porto. O FC Porto luta todos os anos contra equipas da capital, como o Sporting ou o Benfica. O mesmo acontece com o Athletic. Penso que são clubes muito semelhantes."

Quando entrar em campo, esta noite, para ser homenageado: "Vai ser muito emocionante. Sou uma pessoa que se emociona muito facilmente. Tenho a certeza de que será um dos momentos altos da minha vida depois de me ter retirado do futebol. Espero que tudo corra bem. Quando deixei de jogar futebol, fui treinador das equipas jovens do FC Porto e participei num torneio em Bilbau. Tenho boas recordações da cidade, mas também sei que mudou muito."

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