Cresce a contestação interna, calendário não facilita e ex-dirigentes inquiridos por O JOGO não têm dúvidas.
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A derrota com o Sporting, mais do que pelo resultado mas, em grande parte, pelo nível exibicional, continua a provocar ondas de choque, mesmo passadas já algumas horas e com o foco a recentrar-se na receção ao Dínamo Kiev.
Jorge Jesus continua no olho do furacão passado este curto período desde o final do dérbi e, apurou O JOGO, a situação atual, da equipa e do treinador, merecerá debate na próxima reunião da administração da SAD, a realizar esta semana, previsivelmente após o jogo da última jornada da Liga dos Campeões.
O desaire ante a formação orientada por Rúben Amorim não está a ser bem digerida pelas águias e é certo que o descontentamento a nível interno começa a fazer-se ouvir. De momento, segundo apurámos, o presidente Rui Costa ainda não se manifestou sobre a situação, porque nos seus planos não contava um conflito com Jorge Jesus, mas antes a sua continuidade até final da época e avaliação dos objetivos entretanto alcançados ou perdidos, que influenciaria a sua decisão sobre o técnico cujo contrato expira em junho.
Porém, internamente há quem se manifeste contra o atual estado de coisas, sobretudo porque é reconhecido na SAD e no clube que a Jorge Jesus não lhe falta nada, que tem o melhor plantel em Portugal, os melhores jogadores, o melhor salário, as melhores instalações, o melhor staff, condições estas que, na análise feita, aponta para a realização de exibições mais positivas e conquistas de títulos.
O momento atual será, então, alvo de análise, sendo certo que, mesmo sem ser tomada uma decisão mais radical no imediato, a continuidade do treinador estará no fio da navalha, até pelo calendário infernal que o Benfica enfrenta até final do ano. Depois do dérbi e de um desaire sem contestação, as águias recebem quarta-feira o Dínamo Kiev com a obrigação de vencer para, dessa forma, beneficiarem de um eventual deslize do Barcelona em Munique, ante o Bayern, para carimbarem o acesso aos oitavos de final da Champions. Segue-se a visita a Famalicão (Liga), a receção a Covilhã (decisão de continuidade na Taça da Liga) e Marítimo (Liga) e a dupla deslocação ao Dragão para defrontar o FC Porto para os "oitavos" da Taça de Portugal e mais uma ronda do campeonato. São seis jogos, alguns de importância máxima, cujos desfechos poderão ter influência imediata no comando do plantel.
Esta é a conclusão apresentada por vários dos benfiquistas inquiridos por O JOGO. Se o antigo vice-presidente José Capristano defende a continuidade de Jorge Jesus, até pelos resultados já averbados na Liga dos Campeões e numa goleada (6-1) ao Braga no campeonato, o ex-jogador Pacheco também concorda com o facto do técnico ter condições para continuar, mas já deixa o alerta para o calendário que se segue, embora sublinhe que a decisão ficará sempre para quem tem essa competência, ou seja, o presidente Rui Costa em última instância.
Porém, o resto dos inquiridos, todos eles antigos vice-presidentes e um chefe do departamento de futebol, levantam cartões amarelos em tons alaranjados e até vermelhos. Braz Frade até é favorável a que os contratos sejam respeitados, mas aponta para a necessidade de uma análise mais profunda ao que se tem passado no último ano e meio desde que Jesus voltou ao Benfica, embora não preveja uma decisão radical antes de quarta-feira. Se daqui sai um "alaranjado", já António Figueiredo, Paula Pinho e Gaspar Ramos apontam ao vermelho direto, com muitas críticas ao trabalho do treinador encarnado e a saída praticamente imediata como única solução.
Inquérito
Perante o cenário que se viu contra o Sporting, Jorge Jesus tem condições para continuar ou deve sair já?
João Braz Frade, antigo dirigente do Benfica
"Só faltou música"
Condições tem, até porque tem contrato. Em condições normais, sou sempre favorável a que se cumpram os contratos, mas não é fácil responder a essa pergunta quando se está de fora. Há coisas que parecem transparecer. Despedir o Jorge Jesus na véspera de um jogo da Liga dos Campeões é arriscado. Esse tema do despedimento neste momento exige uma grande ponderação, embora a equipa esteja há um ano e meio sem jogar nada. O Sporting anulou por completo a equipa do Benfica e, na primeira parte, só faltou música porque não tocava na bola. Ficámos envergonhadíssimos com a exibição e nem fomos a jogo.
José Capristano, antigo dirigente do Benfica
"Foi um jogo para lembrar"
Jorge Jesus tem condições para continuar. O Sporting ganhou bem e o Benfica jogou mal, quase todos os jogadores jogaram mal. Mas este é o mesmo treinador que fez uma exibição de sonho frente ao Braga, o mesmo que ganhou ao PSV, ao Spartak, ao Barcelona e que empatou com esta equipa em casa deles e onde até podia ter ganho no último minuto. O Sporting, com uma equipa muito mais barata, jogou melhor, mas o Benfica também não teve a sorte do jogo. Não há desculpas, há que dar os parabéns ao Sporting. Foi um jogo para esquecer ou para lembrar. O Benfica não gosta de chicotadas a meio das épocas.
Gaspar Ramos, antigo dirigente do Benfica
"Não tem espaço e agride o grupo"
Jorge Jesus não tem espaço no Benfica desde que reentrou e eu disse isso a Luís Filipe Vieira e isso tem-se confirmado face à sua postura permanente em relação ao grupo, que é o melhor plantel do país. Jorge Jesus não vai mudar, é arrogante, cria um clima de revolta, agride o grupo com palavras e com atos. Qualquer treinador que venha a entrar agora irá ter certamente o apoio dos jogadores. O cartão amarelo já lhe tinha mostrado desde o início... Têm-se acumulado uma série de coisas que já se anteviam e tem sido grave demais. É um fator desestabilizador do grupo de trabalho e isso é meio caminho para não se ganhar.
António Figueiredo, antigo dirigente do Benfica
"Arrasa a nossa paciência"
Nem nunca tinha regressado. Esta semana há um jogo importante na quarta-feira, mas a Direção tem de tomar medidas porque já se percebeu que esta época vai ser igual à anterior. Veio para arrasar, mas foi a paciência dos benfiquistas. Rui Costa tem de resolver a situação e começar a preparar a próxima época. Nem é preciso esperar pelos jogos com o FC Porto porque a receita vai ser a mesma. Gostaria imenso que não fosse, mas não vejo jeito disto melhorar. Há duas coisas que não perdoo a Luís Filipe Vieira: o regresso de Jorge Jesus e o senhor Pinto da Costa e o Porto Canal na Luz a fazerem um programa. Que vá para o Flamengo.
Ana Paula Pinho, antiga dirigente do Benfica
"Queria ter o Rúben Amorim"
O resultado foi humilhante, ainda para mais tratando-se de um dérbi de Lisboa. Tem de se olhar para o calendário, com o jogo com o Dínamo Kiev, os dois com o FC Porto e ver se se encontra uma solução para substituir Jorge Jesus. Ele não tem brio para sair pelo próprio pé, mas deveria ser procurado um acordo para uma saída janota dado que se vive uma situação grave. Começa-se a sentir que há um mal estar no balneário, com um treinador que é fanfarrão e que dá na tola dos jogadores, muitas vezes sem razão. Nota-se que não existe o um por todos no grupo. Falta humildade a Jorge Jesus. Por mim, queria ter o Rúben Amorim...
Pacheco, antigo jogador do Benfica
"Esperar pelo resto do mês"
Se tinha condições antes, agora também as mantém porque faltam muitos jogos e o Benfica tem todas as possibilidades de ser campeão. Faz mais sentido esperar pelo resto do mês, que pode ser decisivo em várias competições. Os dois jogos com o FC Porto [Taça de Portugal e Liga] terão mais peso para uma decisão que caberá a quem manda. O Sporting jogou melhor, mereceu ganhar e, quando é assim, torna-se mais difícil de digerir. O Sporting foi um osso duro de roer e o Benfica não apresentou soluções. Agora, é esperar. Não concordo com saídas a meio do percurso pois raramente vale a pena.