Bruno de Carvalho em duras críticas ao técnico que levou para Alvalade em 2015. Caso do argentino, conta, foi "o mais grave". "Jesus intrometeu-se sem o nosso conhecimento"
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São críticas declaradas aquelas que Bruno de Carvalho lança a Jorge Jesus, treinador que levou para Alvalade em 2015 e que, conta no livro lançado esta sexta-feira, se "gabava" de ter uma "estrutura pessoal" que lhe permitia chegar aos melhores jogadores por esse Mundo espalhados; uma estrutura, revela, que acabou por duplicar o custo de Alan Ruiz (o Sporting acabou, entre transferências e comissões, por desembolsar 8 milhões de euros).
"O Jorge gabava-se de ter a sua própria estrutura internacional para analisar vários jogadores e, se fosse preciso, contactar diretamente os agentes e os clubes dos atletas nos quais poderia estar interessado. [...] Ele argumentava que no passado tínhamos perdido jogadores porque, uma vez mais, a estrutura era fraca e não sabia o que fazia. Dava os exemplos de Danilo, Marega e José Sá, que acabaram por ir parar ao FC Porto.", explicou, fundamentando: "O caso mais grave aconteceu com Alan Ruiz. Contratámos o jogador ao Colón, da Argentina, antes do final da primeira época de Jorge Jesus. Tivemos o negócio quase feito por metade do preço até que ele decidiu intrometer-se sem o nosso conhecimento."
Prosseguiu: "O Jorge disse-nos que queria muito o Alan Ruiz. Que era ele e mais dez. Um craque. Que tinha de ser. Um jogador fundamental. Enviámos o Guilherme Pinheiro à Argentina para falar com o clube e com o jogador. Estava tudo a correr bem. Íamos conseguir um bom valor pelo avançado argentino. Havia apenas uma imposição da parte dele desde o início: poder trazer o irmão para Lisboa, que também era «jogador». Comprometeu-se, inclusivamente, a tirar parte do seu salário para pagar ao seu familiar".
E rematou: "Embora a negociação estivesse bem encaminhada, o Jorge decidia ligar ao Guilherme Pinheiro, todos os dias, para lhe «dar moral»: «Não vais conseguir, já sei que não vais conseguir.» Numa destas conversas, de verdadeiro massacre, foi mais longe. Confessou que já tinha ligado ao jogador para falar com ele. O próprio Alan, depois, também confirmou isso mesmo ao Guilherme. Disse que tinha falado com o treinador e que este lhe revelara que o queria muito. Depois desta intervenção do Jorge, o valor passou para o dobro. Se a ideia era ajudar, só piorou. À conta deste súbito aumento, estivemos quase para deixar o negócio cair. E transmitimos isso mesmo ao nosso treinador. Mas ele lá voltou a dizer: 'É o Alan Ruiz e mais 10'. Acabámos por pagar cerca de 8 milhões de euros para ter o avançado argentino: 4,8 milhões devido à aquisição dos direitos económicos aos quais se somaram 3,2 milhões na rubrica respetiva a outros encargos, relacionados com comissões e prémio de assinatura. Graças a Jorge Jesus e à sua magnífica estrutura."