O antigo treinador de águias e guerreiros está convencido que o jogo de amanhã, no Estádio da Luz, vai ser decisivo nas contas do título. Jesualdo Ferreira considera que o jogo para o Benfica vai ser até mais complicado do que contra o FC Porto, destacando ainda a importância de uma equipa psicologicamente forte para jogar na Luz.
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Separados por seis pontos, a quatro jornadas do fim, o jogo de amanhã, num Estádio da Luz lotado, pode ser decisivo nas contas do título. Esta é a opinião de Jesualdo Ferreira, treinador que trabalhou no Benfica e no Braga.
Em entrevista a O JOGO, o experiente técnico, de 76 anos, elogia o trajeto das duas equipas ao longo da época e não concorda com os que consideram que o Benfica atravessa um mau momento de forma. Convicto de um grande espetáculo, Jesualdo Ferreira entende que a presença na Luz de aproximadamente 60 mil espectadores poderá ter influência no resultado final.
Este jogo é decisivo nas contas do título?
- Direta ou indiretamente, este jogo pode decidir o título. Mais diretamente para o Benfica, porque, se ganhar, retira da luta um candidato, o Braga, e, a três jornadas do fim, mantém os quatro pontos de avanço em relação ao FC Porto. Qualquer outro resultado influencia o FC Porto, mas também o Braga.
Como perspetiva o jogo?
- O Braga é inegavelmente uma equipa muito forte. Não vou falar no clube, porque todos sabem como é, mas sim desta equipa, que é muito forte. Não foi muito feliz na Liga Europa, porque nem sempre as coisas são como queremos, nem são assim tão fáceis, mas está na final da Taça de Portugal e, no campeonato, a quatro jornadas do fim, está a discutir o título. Nessa perspetiva, este jogo é de alguma imprevisibilidade. Não me parece fácil dizer o que vai acontecer. É verdade que o Braga teve algumas saídas desastrosas contra equipas grandes [duas goleadas frente ao Sporting, por 5-0], mas também tem construído vitórias sobre vitórias e tem um currículo que todos conhecemos. Dentro disto, o Braga vai ser na Luz a equipa mais difícil que o Benfica apanhou.
Mais difícil do que o FC Porto?
-Quando jogou contra o FC Porto, era previsível aquele tipo de jogo, tanto de uma equipa como de outra, mas, contra o Braga, não me parece que seja igual. São dois jogos diferentes, atitudes e comportamentos diferentes. São duas equipas com uma identidade muito forte e muito vincada, portanto, não vão mudar nada. Sendo assim, acredito que este jogo pode ser decidido por detalhes, ou por aquela equipa que seja emocionalmente mais forte.
Emocionalmente em que sentido?
- Ter 60 mil espectadores no Estádio da Luz cria uma influência muito grande no jogo. 60 mil serão muito fortes contra o Braga se o Benfica estiver bem, mas não serão tão fortes se o Benfica começar a vacilar. Os grandes clubes pagam muito estas incertezas e aquilo que são as posições das massas associativas em função dos resultados.
Este é o pior momento do Benfica e o melhor do Braga?
- Acho que é o melhor momento do Braga, mas não é o pior momento do Benfica. Oscilou durante três ou quatro jogos, mas o que fez durante meses não foi por acaso. Houve um momento contra o FC Porto que foi decisivo naquilo que aconteceu depois, mas o Benfica recompôs-se, não de uma forma muito rápida, mas na qualidade do seu jogo. Contra o Inter, por exemplo, não é fácil estar a perder por 3-1 e empatar 3-3, independentemente de a eliminatória estar perdida. A verdade é que, depois, o Benfica ganhou ao Estoril com dificuldade, contra um adversário que se bateu bem, e em Barcelos foi igual. Nós é que já não nos lembramos de outros jogos que o Benfica ganhou e que não foram assim tão fáceis. O Benfica construiu uma carreira em que teve 10 pontos de avanço durante muito tempo e chegou aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, onde perdeu apenas uma vez. Quem fez isto, não foi por acaso. Esta fase que passou poderá ter despertado as atenções das pessoas e colocá-las nos seus lugares, motivando-as ainda mais. Agora, só têm de olhar para a frente. No caso do Braga é igual, porque a equipa chegou a este momento e nada faz supor que dê um passo atrás, vai até dar um passo à frente. Por isso é que podemos ter um grande jogo.
"Fator casa vai ter muita influência"
Apesar de estar no estrangeiro, depois de terminar a ligação aos egípcios do Zamalek, Jesualdo Ferreira vai aproveitar para ver o jogo entre pela televisão, certo de que nas bancadas da Luz vão estar milhares de adeptos com um comportamento bem português. "Nós, em Portugal, continuamos a ser muito emocionais naquilo que estamos a ver, esquecendo, muitas vezes, que estamos ali para apoiar um clube. Muitas vezes, as massas associativas reagem de uma forma visceral. Por isso, acredito que o fator casa vai ter muita influência no jogo", refere.
Elogios para Artur Jorge e Schmidt
Jesualdo Ferreira considera que "Roger Schmidt e Artur Jorge estão a fazer bons trabalhos", destacando o papel de cada um deles. "O Artur é uma confirmação, até porque não é fácil ser treinador do Braga e fazer aquilo que ele está a fazer", destaca o experiente técnico, que conhece bem Artur Jorge, até porque treinou o antigo central de 2002 a 2004, na equipa arsenalista.
Surpresa agradável tem sido o alemão Roger Schmidt, garante Jesualdo. "Não o conhecia bem e surpreendeu-me positivamente, inclusive nesta fase mais recente. É a vida de um treinador, acontece a todos. Então o que acham de Klopp? É mau? E o Mourinho, também é mau? Há fatores que o treinador não consegue controlar. Tanto o Artur como o Schmidt estão a realizar grandes trabalhos e, quando terminar o jogo, seja qual for o resultado, vamos dizer o mesmo".
Dois clubes que lhe dizem muito
Jesualdo Ferreira começou a carreira de treinador nas camadas jovens do Benfica, em 1979, e depois teve mais três passagens pela Luz como adjunto e técnico principal. No Braga, esteve como treinador principal de 2002 a 2006 e em 2013/14. "São dois clubes que me dizem muito. Aliás, todos os clubes onde trabalhei dizem-me muito, claro, porque há sempre muito de mim que fica lá e muito deles que trago comigo", sublinhou antigo treinador do Zamalek, clube que deixou recentemente, naquela que foi a segunda passagem pelo emblema egípcio.