Pate Djob, júnior do Leça do Balio, foi alvo de insultos racistas por um adversário e diz estar "farto". O defesa-central conta ainda que é uma "estupidez" dizerem que abandonou o jogo frente ao Pedras Rubras devido ao episódio recente com Marega.
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Pate Djob fala do problema por que passou sem receios e aborda-o de uma forma madura, apesar dos seus ainda 18 anos. De discurso sincero e conciso, o jovem defesa-central dos juniores do Leça do Balio ganhou uma indesejada visibilidade ao tomar uma atitude semelhante à de Marega quando, no sábado passado, abandonou o jogo com o Pedras Rubras, da II Divisão de juniores da AF Porto, devido a insultos racistas.
O miúdo que está a tirar um curso de eletricista e que se desloca para os treinos sozinho, de autocarro, não admitiu que um adversário lhe chamasse "macaco" e pediu ao treinador para ser substituído no decorrer da segunda parte. No entanto, tudo começou a 4 de janeiro, uma data que Pate sabe de cabeça, num encontro em Macieira da Maia. "Nesse jogo, o pai de um atleta chamou-me "macaco". Não aguentava mais e pedi para sair", recorda o defesa, que nunca tinha vivido algo semelhante.
Por já ter tomado esta decisão bem antes do caso Marega, Pate não admite comentários que juntem as palavras "moda" e "racismo" na mesma frase. "É uma estupidez dizerem que eu fiz isto porque está na moda, porque a minha atitude não teve nada a ver com o Marega", realça Pate, embora reconheça ter ganho mais coragem depois da atitude do maliano.
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Reviver os acontecimento de sábado ainda mexem com o jovem. "Na primeira parte houve um lance e esse jogador, que nada teve a ver com a jogada, chamou-me "macaco" sem razão alguma. Eu ouvi e não liguei. Na segunda, ele fez falta e, quando eu caí, tornou a insultar-me. Aí eu reagi e pedi para sair", conta.
Os companheiros compreenderam e uniram-se no apoio ao central, e o jogador do Pedras Rubras, que inicialmente negara o insulto, já enviou uma mensagem a pedir desculpa. No entanto, Pate respira fundo e faz uma pausa para falar de estados de alma. "Isto revolta-me muito. Estou farto de que aconteça comigo e com outros, pois muitos colegas também passam pelo mesmo", afirma.
O receio de que o episódio se possa repetir num futuro próximo existe e a reação a dar será o "desprezo". Desistir do futebol não é opção. Todavia, isso não deixa de passar pela mente de Pate. "Penso nisso, mas não vou dar esse gosto a estas pessoas", declara, terminando com um pedido para todos os que proferem injúrias racistas: "Quero que isto acabe por aqui. Deixem-se disto, porque é uma estupidez."
AF Porto abre inquérito ao jogo de Macieira da Maia
O Conselho de Disciplina da AF Porto Porto abriu formalmente um inquérito aos acontecimentos do jogo com o Macieira da Maia e deverá seguir o mesmo procedimento em relação à partida entre Pedras Rubras e Leça do Balio, mas a oficialização só deverá constar do mapa de castigos da próxima semana.