Ibraim Cassamá: "O Sindicato não é para aparecer quando o jogador tem necessidades"
Ibraim Cassamá, candidato ao Sindicato de Jogadores, diz não apontar o dedo ao oponente sobre o que foi ou não foi feito, mas quer que o organismo seja mais preventivo do que reativo.
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Sendo um jogador ainda no ativo, Ibraim Cassamá considera que a sua candidatura tem a vantagem de conhecer melhor quais são os problemas da classe.
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O que o levou a avançar com a candidatura?
-Foi um conjunto de circunstâncias. Mas posso dizer que a ideia surgiu de diversas conversas com pessoas do futebol que diziam que eu deveria pensar em candidatar-me ao Sindicato, que viam em mim as competências e as ideias necessárias para fazer algo diferente. Gosto de desafios e fui ouvindo. Fui percebendo que havia muita gente com a mesma vontade e que tinha pessoas à minha volta com ideias e capacidade, tal como eu.
Faz uma avaliação negativa do trabalho feito até agora pelo sindicato?
-Não se pode falar em negativo ou positivo. É lógico que muita coisa foi feita nos 49 anos de existência do Sindicato. Mas também houve muita coisa que não se fez. Eu não estou aqui para apontar o dedo a ninguém. Não me candidato para dizer o que não foi feito, é para dizer que posso fazer diferente.
O que pode fazer diferente?
-Desde logo trabalhar no sentido de antecipar e precaver problemas. O Sindicato não é para aparecer quando o jogador tem necessidades. O Sindicato é para estar presente ao lado dos jogadores e perceber quando poderão vir a existir essas necessidades e ter uma intervenção preventiva. É lógico que é necessário haver a capacidade reactiva (e rápida) em situações de emergência mas isso deverão ser excepções e não a regra. Há que abrir o Sindicato para o exterior, criar um modelo de transparência e boa governança e olhar para o jogador de futebol primeiro como pessoa e só depois como atleta. Pode parecer uma forma holística de tratar o jogador, mas se fosse uma ciência exacta não estaríamos a falar de direitos e deveres de pessoas.
Entre as medidas que pretende implementar está a profissionalização dos jogadores do Campeonato de Portugal (CdP) e a criação de uma base salarial para o futebol feminino
O que muda na abordagem, sendo dirigentes que estão no ativo? Não retira disponibilidade?
-Pelo contrário. O facto de estarmos no ativo só contribui para que saibamos quais são os problemas. A questão é que o nosso foco não são os problemas. Esses toda a gente sabe que existem. Nós, jogadores, dirigentes, todos os envolvidos no futebol... Os problemas do futebol são de conhecimento público. O foco são as soluções.
Entre as medidas anunciadas está a procura da profissionalização dos contratos do CdP. É exequível e os clubes podem suportar estas custos?
-Impossível não é, senão não se estava a preparar a Liga 3. E se os clubes não podem suportar esses custos então não podem estar inscritos na competição. Não pode acontecer os clubes fazerem contratos que não cumprem e não lhes acontecer nada. Não pode acontecer que no CdP existam jogadores a receber "por baixo da mesa". De onde vem o dinheiro? E que salvaguarda têm os jogadores se o Clube disser que não tem condições de pagar? O mesmo se passa na Liga BPI onde há jogadoras com bons contratos de trabalho e jogadoras que pagam para jogar. É preciso trabalhar para que seja sustentável para os atletas e para os clubes.
Joaquim Evangelista apontou o CdP como sendo permeável a esquemas ilícitos que deixam os jogadores em situações delicadas. Como se combate isto?
-Precisamente com a profissionalização. É o primeiro passo.