A Ibercup não se faz apenas de competição e aprendizagem, mas também de histórias
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O torneio de verão, do qual O JOGO é jornal oficial, continua a colocar frente a frente equipas nacionais e internacionais e, pela primeira vez, conta com comitivas cabo-verdianas. Um delas, a Associação Maracanã, está prestes a festejar dez anos e destaca-se pelo cariz solidário.
“Moramos num bairro muito pobre e com muitos problemas de delinquência juvenil. Os jovens formavam grupos e matavam-se uns aos outros. Vimos que podíamos dar um contributo e, sabendo que eles gostam muito de futebol, criámos uma escola da modalidade como uma alternativa para ocupar os tempos livres desses jovens. Em 2014 havia sete grupos de delinquentes, e demos o nosso contributo com a escola. Foi uma novidade no bairro, os jovens tiveram a oportunidade de estar a jogar e a competir com outros de outras localidades. Em 2019 já não havia um único grupo de delinquentes”, começou por contar, orgulhoso.
Mas não é só no desporto que a Associação Maracanã tem feito a diferença. Quem passa por maiores dificuldades pode também receber apoio e todo o tipo de auxílio, incluindo escolar, mas há uma condição para poder jogar: estudar. “É obrigatório estar matriculado numa escola. Ninguém paga para treinar, mas exigimos que os jovens estejam matriculados. Também participamos em torneios internacionais e utilizamos isso para levar crianças a enveredar pelo caminho do bem”, explica.
Sobre a Ibercup, que nesta edição conta com um número recorde de participantes, Carlos Tavares só tem elogios e destaca a importância da participação em detrimento dos resultados. “Está a ser uma experiência agradável, na qual podemos aprender bastante e conhecer novas realidades. Estamos a ter oportunidade de conhecer um pouco mais sobre futebol, já jogámos em vários campos e isso é uma grande novidade para nós. Cada campo tem mais qualidade do que o outro, e está a ser desafiador”, acrescentou. Independetemente dos resultados que a equipa conseguir, o treinador destacou a oportunidade de poder participar.
"A experiência vale muito mais do que os resultados. Só pelo facto de sair de Cabo ver e ter visto, já ganhámos. É o discurso que tento passar sempre. Nós já temos experiências internacionais. Estamos num torneio de elite onde estão as melhores equipas. Ainda estamos a dar os pequenos passos e não temos uma estrutura como estas equipas", destacou.
Rui Águas, ex-selecionador de Cabo Verde, também destaca a iniciativa. “Na minha altura não havia estes eventos. Para os miúdos é um acontecimento que os vai marcar para a vida toda. Há um longo caminho a percorrer, cujo sucesso depende de muita coisa. É um projeto diferente. Num país com grandes dificuldades, felicito a associação [Maracanã] que promove estas causas”, destacou.
O técnico partilhou, ainda, que tem acompanhado a evolução do futebol no país e que há ainda um certo caminho a percorrer.
"Tenho acompanhado e uma seleção com as características de Cabo Verde, em que toda a gente joga fora do país, tem percebido que tem conseguido avançar em termo de recrutamento. Cabo Verde é um pais de emigrantes e há muito jovens com talento que já nasceu noutros países e que, com trabalho e organização, conseguem e preferem aderir à seleção do país dos seus pais. Tem reunido um lote de jogadores muito interessante", concluiu.