"Ian Cathro é alguém que a brincar diz verdades, tem um discurso que faz falta"
O treinador escocês apresenta um discurso fora da caixa, elogiado por um antigo colega de profissão também com um estilo semelhante: Manuel Cajuda. As tiradas incisivas do técnico têm marcado o arranque da I Liga. O agora líder do Olhanense lamenta que outros não tenham a simplicidade e o humor genuíno de Cathro.
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A cumprir a segunda temporada no comando do Estoril, Ian Cathro mostra-se uma pessoa que encara o futebol de forma positiva. Isso é notório pelo futebol atrativo praticado pelos canarinhos entre as quatro linhas, mas sobretudo pelas conferências de Imprensa fora da caixa, nas quais já elogiou a equipa com palavras pouco ortodoxas, sem medo de mandar recados para as instituições que gerem o futebol nacional. E sempre num português exemplar, apesar de ter nascido na Escócia.
Desde dizer que “para jogar no Estoril é preciso ter... balls”, após uma derrota em Alvalade, até à revelação de que prometeu levar a filha à Disneyland na data da receção ao Santa Clara, relativa à terceira jornada, agendada para sábado, alteração que não agradou, de todo, aos estorilistas. Na última jornada, após o empate na casa do Tondela, o técnico lamentou o estado do relvado do João Cardoso, afirmando que o jogo não seria naquele recinto caso fosse contra um dos três grandes.
Para Manuel Cajuda, que enquanto treinador se caracterizou por ter um discurso parecido, o escocês que orienta o Estoril “é alguém que a brincar diz verdades”. “Tem um sentido de humor que não incomoda, que não é ofensivo. Lembro-me que antes de um jogo com o FC Porto disse que queria marcar três golos até aos dez minutos e que o adversário tivesse quatro ou cinco jogadores expulsos. É um discurso que faz falta”, elogia a O JOGO.
O atual presidente do Olhanense considera que “o futebol atual foi invadido por filósofos da doutrina linguística”, que de “cada vez que abrem a boca sai monóxido de carbono ao invés de oxigénio”. “Muitas vezes é uma tentativa de afirmação para mostrarem que percebem de futebol moderno. Mas esquecem-se que o que se faz hoje é só um aperfeiçoamento daquilo que se fazia antigamente. Querem mostrar ao povo que percebem muito de futebol, mas, na prática, as equipas deles jogam muito pouco”, critica Manuel Cajuda, explicando a razão que o levou a deixar de treinar: “Quando fiz 40 anos de carreira, tomei essa decisão, porque o discurso prático começava a ser desvalorizado perante o teórico. Vi que já não podia ser uma pessoa simples no futebol”.