É cenário que o ex-presidente leonino jura não desejar, mas que a razão manda considerar, tanto que Bruno de Carvalho já se posiciona para a eventualidade de antecipar a ida a votos. Mas e se tiver o treinador a seu lado? "Então esmagará 100 a 0, apesar das atitudes que só desunem", prevê o antecessor.
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Mais do que uma entrevista, é um intervalo no silêncio. Respondendo à ação judicial movida por Bruno de Carvalho com processos ao presidente do Sporting e ainda aos rostos da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal e Disciplinar, Godinho Lopes, ex-líder leonino, explica por que deixou de pagar quotas e enuncia o quadro que poderá levar os sportinguistas a votos já este ano e não apenas em março de 2017, rejeitando liminarmente, contudo, a hipótese de uma recandidatura. Quer o Sporting campeão e garante torcer por isso; atribui a Jorge Jesus, o treinador que, diz, iria contratar em 2013/14, o mérito de empolgar equipa e adeptos, lamentando, por outro lado, que, ao contrário do técnico, Bruno de Carvalho esteja "mais preocupado em desunir".
O eventual insucesso do Sporting no campeonato será da responsabilidade exclusiva do presidente Bruno de Carvalho, na sua maneira de ver?
- Não gosto de ser revanchista, por isso não vou falar contra o clube. As pessoas que interpretem isto como quiserem. O treinador e os jogadores, juntos, têm defendido a imagem do clube como eu entendo que deve ser, vencedora. Se as anteriores contratações não foram bem feitas, se há um disparar contra tudo e contra todos, se há um ruído criado de forma desnecessária, se há um dividir que o presidente está a fazer, essa é uma matéria que os sportinguistas terão de avaliar. Não sou eu [como ex-presidente] que o vou fazer.
Pelas recentes movimentações, Bruno de Carvalho está claramente a posicionar-se para eleições antecipadas?
- Haver ou não eleições antecipadas vai depender exclusivamente de duas coisas: do campeonato e da saída ou não do treinador. Se o treinador ficar e o campeonato for ganho, não há razão para antecipar o ato eleitoral. Se o Sporting ficar em segundo e o treinador continuar, pode-se equacionar, argumentando que, com preparação atempada, a equipa será campeã várias vezes no próximo mandato. Se o Sporting ficar em segundo e Jorge Jesus sair, de certeza que haverá eleições antecipadas. Esta é a minha opinião, embora eu queira o cenário do Sporting campeão. Se me perguntar se os sportinguistas estão satisfeitos ou são críticos em relação à atitude de Bruno de Carvalho enquanto presidente, isso é diferente. Mas, num ato eleitoral na atual situação, acho que ninguém teria condições para lhe ganhar. Se houver alguém que entenda que tem capacidade para fazer reviver os valores do Sporting e colocar pela ordem correta aquilo que a massa associativa quer, que é o futebol, em primeiro lugar, e ser campeão, provavelmente poderá vir a conquistar a massa associativa, caminhando com tempo e fazendo ver que se consegue ganhar preservando os valores do clube, e não atirando a tudo e todos como se uma lebre se levantasse e tivesse de ser morta.
Em caso de eleições antecipadas no Sporting, vê alguém capaz de enfrentar Bruno de Carvalho e discutir a vitória?
- Atualmente, acho difícil que alguém possa ganhar uma eleição a Bruno de Carvalho. Não vale a pena ir contra o indisfarçável: as escolhas de Leonardo Jardim, Marco Silva e Jorge Jesus, em momentos diferentes, fizeram com que as pessoas se juntassem em torno do futebol. Se Jorge Jesus ficar ao lado de Bruno de Carvalho, este ganhará as eleições com maioria esmagadora. E esmagadora é cem a zero. Parece-me difícil que alguém vá concorrer contra o atual presidente, ficando Jorge Jesus a seu lado. Mas, se não ganhar o campeonato e Jorge Jesus sair, as pessoas vão perguntar isto: então aposta-se num treinador, ele não é campeão e afinal não fica porquê? Não gostaria de ganhar o campeonato seguinte? Então alguma coisa está mal entre ele e o presidente. São questões que podem ser colocadas posteriormente, não agora. Estamos a terminar a época, o Sporting tem condições para ser campeão. Só há que apoiar o treinador e a equipa.