As receitas de bilheteira representam à volta de 20% dos resultados operacionais dos três grandes, que recolheram a maioria dos 43 milhões de euros contabilizados por todos os clubes da Liga, em 2018/19
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Os proveitos com a venda de bilhetes e camarotes são apenas uma amostra do dinheiro que deixa de entrar nos cofres dos clubes. Não têm tanto peso como os direitos televisivos ou uma grande campanha na UEFA, mas não são negligenciáveis e arrastam muitas outras atividades comerciais, dentro e fora dos estádios.
A venda de camarotes ou lugares de empresa tem um peso significativo nas receitas e está associada a outros serviços
"No FC Porto, o prejuízo é de cerca de 27 milhões de euros por uma época sem público. Agora, basta ver, proporcionalmente, o tempo que estamos sem público. São os camarotes que não se vendem, são os lugares cativos que não se vendem, é bilheteira que não se vende, é o consumo que não se fez nos bares e nas lojas, que estão fechadas. Portanto, é tudo isso." As declarações são de Pinto da Costa, numa recente entrevista a O JOGO e ao Jornal de Notícias, e encaixam perfeitamente na introdução deste artigo: quanto dinheiro perdem os clubes com jogos à porta fechada e qual o tamanho desse rombo nos cofres?
Analisámos os últimos relatórios e contas anuais de Benfica, FC Porto, Sporting e Braga - as quatro SAD que prestam esclarecimentos à Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM) - e apurámos os valores globais dos clubes da Liga. Conforme mostram os dados expostos na infografia, entre os três grandes, a venda de lugares nos estádios representa à volta de 20% dos proveitos operacionais de cada época, excluindo operações com passes de jogadores.
Para o Braga, a fatia não é tão pesada, mas a dimensão financeira também não. Portanto, a bilheteira pode não ser a parcela mais significativa das receitas, mas também não se traduz num valor negligenciável, principalmente se, lá está, nos lembrarmos que há outros proveitos que se esfumam por arrasto, conforme exemplificou o presidente dos dragões.
Os clubes cujos casos aqui demonstramos também representam a maior parte das receitas de bilheteira dos clubes da Liga. Em 2018/19, segundo O JOGO apurou pelo cruzamento de vários dados e relatórios, a venda de bilhetes e lugares anuais rendeu cerca de 43 milhões de euros.
Um número que não contabiliza, note-se, a parcela "corporate", a venda de camarotes, lugares de empresa ou lugares executivos, que por vezes vale quase tanto ou mais do que os bilhetes normais, e que se dilui nos 513M€ em receitas operacionais dos clubes, sem as transações com passes.
O mesmo exercício permitiu-nos calcular que a suspensão da II Liga e a realização das últimas dez rondas da I Liga à porta fechada baixaram os 43M€ para cerca de 30M€, enquanto os resultados operacionais caíram para os 475M€. Nesta soma, a parcela mais pesada e que, felizmente para os clubes, não depende dos adeptos nas bancadas, é a dos direitos televisivos: quase 177M€.
Resumidamente, são estas as perdas que clubes e Liga tentam atenuar para a época que se avizinha, com o apelo ao regresso do público aos estádios, mas também com a certeza de que "casa cheia" parece coisa de outro mundo e, para o atual, ainda é uma miragem. Sem esquecer o aspeto intangível do apoio e pressão que os adeptos proporcionam, o impacto económico das bancadas vazias afeta muitas outras atividades, como as empresas de segurança e catering, apenas para citar dois exemplos.
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Aliás, as réplicas sentem-se, literalmente, a quilómetros do recinto, porque as 50 mil pessoas que para lá se dirigem dinamizam restaurantes, cafés, transportes públicos e privados, rulotes e vendedores ambulantes, entre muitos outros serviços que nem nos passam pela cabeça e que desesperam pelas romarias aos estádios. Uma autêntica economia paralela entrelaçada com a presença de público nos estádios de futebol.