Futebol requer transparência e credibilidade para sair de "'cocktail' explosivo"
Quem o defende é Emanuel Medeiros, diretor executivo da SIGA, que vai assumir funções no Business 20, grupo de diálogo oficial para a comunidade empresarial do G20
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O futebol requer rigor, transparência e credibilidade para sair do "cocktail explosivo" causado pela pandemia de covid-19, segundo Emanuel Macedo de Medeiros, que hoje assume funções no grupo de aconselhamento da área empresarial no âmbito do G20.
Emanuel Macedo de Medeiros, diretor executivo (CEO) da Sport Integrity Global Alliance (SIGA) e que já desempenhou funções de diretor executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL), entre outros cargos, vai hoje assumir funções no Business 20 (B20), que é o grupo de diálogo oficial para a comunidade empresarial do G20, formado pelas 19 maiores economias mundiais e pela União Europeia.
"Esta não é a primeira crise que afeta o futebol. Na crise de há cerca de uma década, as ondas de choque atingiram todos os setores. Na altura estava em funções na EPFL e avançámos com uma auditoria para analisar os impactos e concluímos que, apesar do choque, este foi mitigado pela comercialização centralizada e por contratos de média duração que protegeram os clubes, mas a situação hoje é diferente", afirmou.
No entanto, em entrevista à agência Lusa, Emanuel Macedo de Medeiros realçou que a pandemia de covid-19 comprometeu todo o tecido empresarial.
"Não existe público nos estádios, temos competições sem garantias que cheguem ao fim, jogadores infetados, é um 'cocktail' explosivo. Ainda por cima o futebol vive muito acima das suas possibilidades, nomeadamente em Portugal", vincou.
O advogado português explicou que estão a ser renegociados em baixa direitos televisivos, que existe uma quebra de receitas nos clubes, colocando à tona as suas vulnerabilidades, num momento em que todas as empresas estão "a sofrer".
"Tenho criticado quem tem responsabilidades no futebol e mesmos os decisores políticos e os reguladores. Existem fundos de investimento que se desconhecem, corridas a 'offshores' e isso põe em causa a integridade e a transparência do futebol", salientou.
Emanuel Macedo de Medeiros defendeu que o futebol, como todas as outras áreas, necessita de rigor e credibilidade para conseguir uma retoma, defendendo uma regulação efetiva do setor e uma responsabilização dos seus atores.
"É necessário que exista transparência, no futebol tem de se conhecer quem manda e de onde surgem os capitais", sublinhou.
As suas funções no B20, no qual vai integrar a 'task-force' da Integridade e Conformidade, não ficam limitadas ao futebol, abrangendo todas as áreas do setor empresarial. Segundo Medeiros, neste momento, a prioridade passa pelo relançamento das economias.
"É necessária uma ação concreta e coletiva neste momento importante na vida de todos nós. A União Europeia necessita de ser mais do que o somatório dos seus países, tem de ser forte e unida para ultrapassar a crise, avançando com as reformas necessárias", acrescentou.
O CEO da SIGA diz que a atual crise pode ser também uma oportunidade para se reconquistar confiança.
"Chegou o momento de agir, mas também de escrutínio das decisões tomadas, quer dos governantes, quer dos líderes empresariais. É necessário acabar com a opacidade e não se pode fugir às responsabilidades. São necessárias ações imediatas e energéticas", defendeu, garantindo que está pronto para dar o seu contributo, confiante da sua capacidade de trabalho para conseguir "alianças para concretizar os objetivos".