
Frederico Varandas
Mário Vasa
Presidente do Sporting faz uma viagem ao passado e explica o que mudou desde que assumiu a liderança do clube
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Frederico Varandas viajou mais cedo para a Alemanha e o Bild publicou uma entrevista sobre o percurso do presidente do Sporting, que O JOGO reproduz.
Na sua conta de Instagram surge com um uniforme militar no Afeganistão. Qual é a história por detrás?
Sou oficial do exército português. Sou médico militar de carreira e, em 2008, acompanhei os Comandos (forças especiais portuguesas) na missão da NATO no Afeganistão (ISAF). Fomos enviados para uma zona de combate em Kandahar. Era um teatro de guerra e foi certamente a experiência mais marcante da minha vida.
Depois da sua passagem pelo exército, dedicou-se ao futebol, ingressando inicialmente no Vitória de Setúbal. Porquê?
Para além da medicina militar, especializei-me em medicina desportiva e tive a oportunidade de aliar a minha prática clínica a uma das minhas paixões: o futebol. Fui convidado para ser o diretor clínico do Vitória de Setúbal, cargo que ocupei de 2008 a 2011.
Em 2011, ingressou no Sporting como médico. Dizem que foi o concretizar de um sonho de criança. Porque é que esta mudança foi tão especial?
Em agosto de 2011, recebi um convite para me tornar diretor clínico do Sporting. Nasci em 1979 e sou sócio do Sporting desde que nasci. O meu avô, o meu pai e o meu irmão eram todos sócios, e eu já era atleta do Sporting aos 3 anos de idade. Foi o concretizar de um sonho.
Agora vem a pergunta que todos fazem quando olham para o seu currículo: como é que passou de médico do clube a presidente?
O Sporting estava na maior crise da sua história. Não só não ganhava um campeonato desde 2002, como também houve um ataque à Academia por parte de 'hooligans', em que vários jogadores foram agredidos e tiveram os seus contratos rescindidos. O anterior presidente foi destituído pelos sócios, e estávamos numa grave crise financeira e desportiva. Eu tinha sido o diretor médico do clube por sete anos e conhecia muito bem a "máquina de futebol", o núcleo do clube. Tinha apenas 38 anos, mas tinha muita confiança na minha liderança e no meu conhecimento do
clube e da indústria do futebol.
Na maioria dos grandes clubes europeus, os presidentes são empresários. Teve alguma dúvida de que a sua invulgar formação profissional lhe pudesse causar dificuldades na gestão de uma "empresa multimilionária" como o Sporting?
Não. Considero que as principais competências que um presidente deve ter são a capacidade de liderança, visão estratégica e o talento para saber construir uma boa equipa à sua volta. E foi isso que fiz.
Como médico, que novas competências teve de aprender ao tornar-se presidente? E, por outro lado, houve alguma qualidade do seu tempo como médico que tenha sido particularmente útil na sua nova função?
Acho que aprendemos um pouco melhor todos os dias. Fui obrigado a aprender muito mais sobre gestão financeira. Hoje, penso que sou um presidente melhor do que era há sete anos. Quanto às competências que já tinha, penso que as mais importantes vieram do exército: comandar e gerir pessoas.
Ainda ajuda ocasionalmente no tratamento clínico dos jogadores?
Não. Desde que fui presidente do Sporting, nunca mais exerci medicina. A exceção foi durante a pandemia de COVID, quando foi declarado o estado de emergência em Portugal. Como médico militar, estive um ano a trabalhar no hospital militar.
Como mudou a sua relação com os jogadores quando se tornou presidente? Por exemplo, tratou João Palhinha (atualmente emprestado pelo FC Bayern ao Tottenham) como um médico, que costuma ter uma relação de proximidade com os jogadores. De repente, tornou-se o chefe dele...
Hoje em dia, já não há jogadores do Sporting do tempo em que eu era médico. Mas no início, ainda tinha alguns. O meu estilo de liderança é muito próximo das pessoas. Sejam os jogadores, o técnico, o diretor de marketing ou o roupeiro. Todos conhecem a minha posição, mas isso não me impede de ser próximo deles.
De 2002 a 2021, o Sporting esteve um longo período sem conquistar títulos. Desde que se tornou presidente em 2018, o clube conquistou três campeonatos, incluindo o da última temporada. Como conseguiu trazer o Sporting de volta ao sucesso?
O Sporting está a viver um dos melhores momentos da sua história. Nos últimos cinco anos, ganhámos três campeonatos, somos bicampeões e, desde 2018, ganhámos seis taças. Agora somos o número um em Portugal, algo que não acontecia há décadas. Nos últimos seis anos, o clube obteve lucro em cinco anos. O único ano em que não houve lucro foi durante a COVID. Crescemos 60% em termos de sócios. Hoje, o nosso estádio está quase sempre cheio e mais de 10 000 pessoas aguardam para comprar um bilhete de temporada. O estádio foi completamente renovado e modernizado. O segredo deste sucesso? A visão, a coragem e o talento das pessoas à minha volta.
Na Liga dos Campeões, o Sporting está no 8.º lugar da classificação, com 10 pontos em cinco jogos. O que é possível ao Sporting fazer contra o Bayern?
O Sporting prova hoje que, apesar de não ter a capacidade financeira dos grandes clubes europeus, pode competir com eles. Para mim, o Bayern é atualmente uma das três melhores equipas do mundo. E marcar na Allianz Arena é, provavelmente, uma das tarefas mais difíceis para qualquer equipa do mundo. Será um jogo em que a responsabilidade e o favoritismo estarão todos do lado do Bayern. Do nosso lado, temos apenas a ambição e os sonhos dos nossos jogadores.
Nos últimos anos, têm revelado repetidamente jogadores de topo como Viktor Gyokeres, Bruno Fernandes, Manuel Ugarte e Nuno Mendes, e venderam-nos por muito dinheiro. Há jogadores na sua equipa atual com esse potencial?
Segundo o Transfermarkt, o Sporting tem o plantel mais valioso da Europa fora das "cinco grandes ligas" ligas. Isto é o resultado do excelente trabalho da nossa Academia e dos nossos olheiros. Não temos dúvidas de que muitos dos principais clubes europeus estão de olho em vários jogadores da nossa equipa.

