ENTREVISTA - Luís Freire dividiu méritos da subida do Rio Ave com toda a estrutura, vincando que os jogadores foram os verdadeiros heróis. O técnico garante que nunca tinha visto um grupo assim na sua carreira.
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Com a subida à I Liga e o título de campeão da II Liga no bolso, o treinador prepara-se agora para treinar no escalão principal, apesar de não ter habilitações para tal.
Na receção feita pela autarquia ao clube disse que os jogadores eram os verdadeiros heróis, mas qual mérito do treinador e da equipa técnica?
-Quem é capaz de interpretar o que é trabalhado são os jogadores. Por muito que o presidente queira e o treinador trabalhe, se eles não executarem não vamos ter sucesso. Claro que a equipa técnica tem mérito de dar um caminho, ter uma ideia de jogo e integrar todos na mesma, motivar, conseguir passá-la em treino e tocar os jogadores no sentido de evoluírem, contribuindo para a equipa com um sentimento de partilha. Não posso esquecer o tremendo trabalho da minha equipa técnica.
Mostrou-se muitas vezes zangado quando os adversários diziam que o Rio Ave tinha a obrigação de subir. Foi uma luta que assumiu....
-Sim. Vamos imaginar, por exemplo, o Sporting e o FC Porto que dizem: o Benfica tem que ser campeão. Mas os outros não jogam? Não querem ser campeões? Estão aqui só para enfeitar? Houve vários candidatos, uns que se assumiram connosco e outros que não. Houve um gasto semelhante entre as equipas, não houve uma disparidade e basta olhar para os plantéis para perceber isso. Começamos muito bem a época com muitas goleadas, com exibições muito boas e aumentaram as expectativas, passando do exterior que o Rio Ave joga muito bem e que iria ser um passeio. Mas isto eram as pessoas à volta porque a equipa nunca falou assim. Só que, quando tens este ambiente à volta, há o desaire e diziam "eles já achavam". Mas não éramos nós, as pessoas é que achavam, e andávamos sempre a levar com isto. Até um determinado ponto isso foi chateando e quando percebemos que isso foi uma estratégia, metendo-te lá em cima para te verem cair, já nos ríamos um bocadinho.
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Sobraram elogios para o ambiente no balneário esta época. Não havia ovelhas negras?
-Foi o primeiro ano em que nunca tive uma discussão acesa com um jogador, em privado ou em público, e nunca tive uma briga entre jogadores. Não tive um processo disciplinar, o que não é normal, e, por isso, digo que foi o meu melhor grupo de sempre e os jogadores também o dizem. Algo como fulano chegou fora de horas, adormeceu, bebeu uns copos a mais e apareceu em más condições, deu um murro ao colega, mandou o treinador às urtigas, isso nunca aconteceu. É isto que não podemos perder, porque é difícil de encontrar. Temos de ter mais qualidade, mas se for qualidade para criar problemas e vir para aqui achar que tem que ser diferente não vale a pena.
Tem o nível III de treinador e para treinar na I Liga é exigido o Nível IV. Acha que isso se pode resolver?
-É um tema polémico e delicado. Houve uma grande celeuma quando eu subi com o Nacional, porque tinha o Nível II, e agora tenho o III e subi. Penso que as pessoas estão muito atentas e a Federação já meteu essa regra nos seus campeonatos. Se o treinador subir e não tiver o nível para a Liga 3, pode exercer a sua profissão sem problemas até abrir o curso. Se a Liga seguir o que a Federação fez, e eu acho que há essa intenção, parece-me que a Associação Nacional de Treinadores não se vai opor. É mau para associação ter o Luís Freire e o Filipe Martins, dois treinadores que subiram, sem acesso aos cursos. Neste momento há uma boa sensibilidade para o mérito desportivo.
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Pensar em mais do que uma época tranquila "será irreal"
Nos festejos da subida, o presidente da autarquia vila-condense pediu a Europa, enquanto António Silva Campos, líder do emblema da caravela, apenas prometeu um campeonato tranquilo. Luís Freire concorda com o seu presidente, defendendo que o Rio Ave " tem que se consolidar primeiro na I Liga e não pode entrar em loucuras porque vem de uma descida de divisão há muito pouco tempo". "O clube tem que fazer um campeonato tranquilo e estável para voltar a ganhar pujança e confiança dentro da I Liga. Tudo o que for daí para trás é mau, tudo o que for daí para a frente é irreal", defendeu o técnico.