"Fiz a viagem a chorar só com o meu pai, disse-lhe que queria desistir do futebol"
Jota Gonçalves mudou-se a meio da época passada de Tondela para o Minho e não conseguiu evitar a descida. Está agora focado na tarefa de regressar ao escalão principal
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Aos 24 anos, e com experiência de alguns jogos na I Liga ainda pelo Tondela, Jota Gonçalves trocou o clube beirão, onde vinha perdendo algum protagonismo por militar na Liga 2, por um Vizela que então lutava pelo seu lugar entre os principais. Chegou ao Minho e afirmou-se como indiscutível, sendo agora um pilar dos vizelenses para o projeto de subida ao escalão maior.
Após meio ano de adaptação, um período que ficou marcado pela descida, o central aposta forte na nova época para devolver os vizelenses ao escalão principal, ciente de que a tarefa exige cautelas.
Quais as ambições deste Vizela na Liga 2 face à reformulação do chip após a descida?
-O Vizela entra sempre para ganhar, seja com quem for; parece clichê, mas é a real mentalidade do clube. Este foi e continua a ser, sem dúvida, um clube especial para mim, porque acreditou nas minhas capacidades e quis-me potencializar num momento em que estava sem jogar.
Trocar Tondela por Vizela tão abruptamente foi difícil?
-Lembro-me da primeira vez que entrei em campo na Amadora, frente ao Estrela. Cheguei nessa semana ao clube e no primeiro jogo senti uma grande diferença de ritmo e de “andamento” comparativamente ao que é a realidade da Liga 2, mas foi algo a que rapidamente me tive de adaptar se queria entrar na equipa e jogar!
Que perceção teve dos problemas que redundaram na despromoção e que opinião sobre Rubén de La Barrera, que continua ao leme?
-Quando cheguei, encontrei um grupo de trabalho com muita qualidade. O míster Rubén tinha chegado ao clube duas semanas antes e ainda estava a implementar as ideias dele no grupo. O que é um pouco difícil, porque ele entrou no clube e já estávamos em zona de descida. Chegou com ideias muito boas e especiais, que normalmente não vemos em Portugal. Encontrei também pessoas espetaculares que trabalham à volta do plantel e que dão a vida para que nada nos falte: as pessoas da rouparia, team managers, fisioterapeutas, equipa de comunicação, a dona Elisabete, dos pequenos-almoços, o senhor Soares e a própria equipa técnica, que também ajudou sempre o grupo de trabalho.
“É óbvio que estar na Liga 2 não era o cenário que queríamos, mas é a realidade neste momento!”
O regresso à I Liga é imperioso?
-É óbvio que estar na Liga 2 não era o cenário que queríamos, mas é a realidade neste momento! Temos de trabalhar o dobro: no papel podemos ser candidatos, por termos descido, mas temos de o mostrar em campo! O Vizela é um clube de I Liga.
“Tenho a certeza de que os dirigentes estão a trabalhar para voltar a colocar o Vizela na I Liga”
Como vê os planos do clube depois de perdas importantes, como foram Samu e Essende?
-Tenho a certeza de que os dirigentes estão a trabalhar para voltar a colocar o Vizela na I Liga, ajudando a criar uma equipa sólida em conjunto com o que são as ideias do míster. Em relação ao Samu, era o nosso capitão e um grande jogador, mas estava em fim de contrato e procurou algo melhor para a carreira dele, como todos nós procuramos nas nossas vidas. O Essende fez uma grande época a nível de números, o que lhe valeu a atenção de outros clubes. Acredito que o clube irá querer substituí-lo da melhor forma possível.
Que análise faz ao impacto dos adeptos do Vizela no coração da equipa a cada jogo?
-Os adeptos do Vizela são muito aguerridos. Adoram o clube. Revejo-me nessa mentalidade. Receberam-me muito bem quando cheguei e sempre me apoiaram, mesmo nos momentos difíceis.
Carreira construída sem ilusões
Jota Gonçalves tem sonhos, e aos 24 anos é natural que os tenha, mas finca bem os pés na terra quando lhe pedem que destape um pouco das expectativas que ainda alimenta. “Desde novo que não vivo de expectativas, mas sim da realidade”, justifica. “Não precisei de pisar ninguém para estar onde estou. Não tenho dúvidas de que, pelo trabalho e pelo quanto me dedico diariamente, vou alcançar os meus sonhos e os meus objetivos”, resume, consciente de que essa é a única parte que pode controlar sobre o futuro.
Uma viagem a chorar no carro
Antes de se afirmar em Tondela, o percurso de Jota Gonçalves dividiu-se entre Espinho, Feirense e Académica. “Aprendi e cresci muito em todos os meus clubes de formação, que me ajudaram a tornar-me muito mais rápido do que miúdos da minha idade”, detalha, isolando, nesse percurso até ao profissionalismo, um episódio que o marcou.
Com o pai ao lado a confortá-lo, central lembra o dia em que foi dispensado dos juniores da Académica.
“Estive fora de casa, longe da família e dos amigos. Tive grandes momentos e momentos menos bons, mas posso destacar um: o dia em que me dispensaram da Académica, no meu primeiro ano de júnior. Fiz a viagem Coimbra-Espinho a chorar só com o meu pai, que sempre foi e será o meu grande apoio e conselheiro. No carro disse-lhe que queria desistir do futebol”, recorda. “Não guardo rancor. São decisões que os clubes têm de tomar, mas, na altura, custou-me muito”, admite.
Lesão foi o momento mais difícil
Grato pelo percurso em Tondela, Jota não esconde que o emblema beirão tem um lugar especial. “É ,e sempre será, um clube que me diz muito. Por me ter dado a mão quando eu não era ninguém e por me ter ajudado a crescer”, explica, agradecendo o apoio num momento delicado.
“Ajudaram-me a recuperar no momento mais difícil da minha curta carreira, que foi a lesão que sofri num joelho. Sinto que atrasou o meu crescimento e o que poderia ter sido um salto diferente na minha carreira, mas, se assim aconteceu, foi porque tinha de ser e, sem dúvida, que estou mais preparado”.