"Ficaria surpreendido se no final da época não houvesse propostas pelo Paulinho"
Presidente do Braga aborda a alegada tentativa de o Sporting contratar Paulinho e nega qualquer conversação, em entrevista a O JOGO. António Salvador também comenta falha no pagamento de Amorim.
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"O Sporting, neste momento, é um clube como outro qualquer, que está a cumprir com o Braga"
Algumas notícias dão conta do interesse do Sporting no Paulinho, até como reforço já para janeiro. Recebeu algum contacto nesse sentido?
-Já ouvi muita coisa na Comunicação Social. Até já ouvi que o Iuri Medeiros para assinar em definitivo com o Braga tinha de pedir autorização ao Sporting. Vejo coisas que não fazem sentido nenhum. Até hoje não recebi qualquer contacto pelo Paulinho.
Mas pode garantir que o Paulinho fica no plantel até ao final da temporada?
-No futebol não se pode dar essas garantias. Não se pode dar porque amanhã podem chegar cá e pagar aquilo que é um valor justo para o Braga e para o jogador. E nem sequer é a questão de ser o Paulinho, é qualquer jogador. Mais ainda na situação em que vivemos atualmente, com a crise provocada pela pandemia. O Braga tem uma estimativa de perda de quatro milhões de euros, seja pela ausência de público, pela quebra no merchandising, pela ausência de receitas de corporate. Para mantermos o nível de exigência que temos neste clube, temos de fazer entre 12,5 a 15 milhões de euros em transferências, portanto, o Braga terá sempre de vender. Pela primeira vez, este verão, o Braga não vendeu. E não vendeu para defender a vertente desportiva, mantendo o núcleo duro de jogadores. Agora, isso não muda a realidade e a realidade é que o Braga, como todos os clubes em Portugal, terá de vender. Acresce a isso que há um grupo de jogadores que, no final desta época, terão de ser negociados. Se não o forem, corremos o risco de os ver sair a custo zero, ou de ter de renovar por valores que são incomportáveis para o clube e que podem colocar até em risco a sustentabilidade do clube no futuro. E isso, enquanto eu estiver cá, não vai acontecer. Não vamos colocar em risco aquilo que levou anos a construir. Em 18 anos que estou à frente deste clube, os salários foram sempre pagos religiosamente no dia combinado. Os impostos ao Estado foram sempre pagos a tempo e horas e o Braga paga mais de dez milhões de euros de impostos por ano.
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Carvalhal disse que o Paulinho não saía agora, mas sim no final da época. O próprio Paulinho, numa entrevista recente, disse ver esse cenário com bons olhos. Será essa a altura para ele sair?
-Posso dizer-lhes que ficaria surpreendido se, no final da época, não houvesse propostas pelo Paulinho. Olhando para as qualidades que o Paulinho tem, sendo um dos melhores pontas de lança do futebol português, que em dezembro foi considerado o melhor jogador do campeonato, seria uma grande surpresa que não surgissem propostas para ele. Agora, as propostas que aparecerem terão de ser justas para servir os interesses do Braga e do jogador.
Piazon será o único reforço de inverno?
-O Piazon foi uma oportunidade de negócio imediato, porque sabíamos que no final do ano ia ficar livre. É um jogador que o nosso treinador conhece bem, com muita qualidade e que tínhamos considerado para a próxima época. Aliás, ele próprio tinha vontade de, terminado o contrato com o Chelsea, ficar em Portugal e no Braga para trabalhar com o Carlos Carvalhal. Entretanto surgiu a oportunidade de antecipar o negócio e nós não o quisemos perder.
Carvalhal pediu-lhe mais jogadores?
-Não. Estamos muito satisfeitos com o plantel. Temos várias soluções, vários jogadores versáteis e, neste momento, não pensamos contratar mais ninguém. Temos um plantel muito equilibrado e temos uma série de soluções na formação prontas para responder na equipa A. Aliás, isso mesmo aconteceu recentemente, com o Vítor Oliveira ou o Bruno Rodrigues, e portanto não estamos a pensar que venha mais alguém. Agora, vale aqui o mesmo que disse em relação às saídas: nunca podemos garantir que as coisas estão fechadas ou estão abertas. O futebol é o momento e as oportunidades só passam uma vez. Aquilo que for importante para o clube terá de ser avaliado e, em caso disso, aproveitado.
O plantel dá toda a confiança?
-Este plantel é o mais curto de sempre nos 18 anos que estou cá. Tem 21 jogadores de campo, com dois lesionados [Moura e Rui Fonte], mas é muito equilibrado e dá-nos muitas soluções. De resto, este é o plantel que teremos de ter sempre. Se queremos lançar jovens , os plantéis têm de ser curtos. Isso é o projeto que o Braga tem para os próximos anos e é esse caminho que vamos seguir com o míster Carvalhal.
"Sporting utilizou um vazio legal"
Falha no pagamento de Amorim levou a mudança das regras. Salvador crê que os leões vão cumprir.
Existia uma cláusula de dez milhões de euros no caso do Rúben Amorim e depois do incumprimento do Sporting foi renegociado um novo plano de pagamento. Está a ser cumprido?
-Deixem-me clarificar bem esta questão do Sporting. É verdade que o Sporting entrou numa situação de incumprimento, com a desculpa da questão pandémica, que não colhia. Até admitia este incumprimento no caso da transferência de um jogador, que é uma situação normal. Aliás, o próprio Braga já teve dificuldades, já teve de abordar outros clubes para resolver situações. Agora, no caso de um treinador de um clube rival, que foi tratado como foi, o Sporting não podia ter falhado. Entretanto, quando chegámos a setembro e nos sentámos à mesa com o presidente Frederico Varandas, dissemos que o assunto tinha de ser resolvido. Devo dizer que foi feito um acordo que está a ser cumprido rigorosamente por parte do Sporting e acredito que será assim até ao final. Não tenho dúvidas nenhumas disso.
Houve alguma iniciativa no sentido de tornar impossível que isso volte a acontecer?
-Já foi discutido e decidido em sede própria, na Liga. Uma das coisas que foi alterada foi que as consequências de eventuais dívidas entre clubes não se apliquem apenas nos casos em que essas dívidas se relacionam com transferências de jogadores, mas a qualquer tipo de dívidas, nomeadamente transferências de treinadores entre clubes. Foi nesse vazio legal que o Sporting se escudou para evitar consequências ao nível do licenciamento por causa da dívida relativa ao Rúben Amorim. Isso foi uma das questões que já foi alterada e que, no futuro, protege os clubes de qualquer incumprimento por parte de outro.
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Neste momento, o Sporting é um parceiro normal do Braga?
-Sim, como qualquer outro. O Braga tem excelentes relações institucionais com todos os clubes, naturalmente mais com uns do que com outros. Mas o Sporting, neste momento, é um clube como outro qualquer, que está a cumprir com o Braga. Obviamente, isso não tem qualquer relação com a natural rivalidade que existe entre todos. O Sporting quer ganhar, nós queremos o mesmo, tal como o Benfica, o FC Porto, o Vitória de Guimarães. Mas, fora disso, há relações institucionais, e a esse nível o Braga orgulha-se de ter excelentes relações, não só com todos os clubes, mas com todas as entidades que fazem parte do universo do futebol português.
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