"Festejo mostrou que Pepe ainda tem muita fome de bola, como se tivesse 20 anos"
Estreou-se a marcar esta época e pode juntar mais dois títulos ao museu pessoal. Jorge Soares "batizou-o" no Marítimo e, a O JOGO, recorda o "moleque" que "parece ainda ter vinte anos"
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O golo apontado ao Portimonense levou Pepe a correr na direção do banco para, com colegas e equipa técnica, celebrar a primeira vez que marcou esta época. Seguiu-se um abraço a Sérgio Conceição e, aos olhos de quem acompanhou os primeiros passos do central no futebol profissional, as imagens comprovam que os 20 anos volvidos desde então não diminuíram o apetite pela vitória.
O agora central do FC Porto estreou-se pela equipa principal dos madeirenses ante o Boavista e o parceiro de eixo nessa partida lembra um episódio curioso: "Ali, percebi logo a forma de se impor..."
"O festejo mostrou que Pepe ainda tem muita fome de bola, mas não só. A forma como joga, como se impõe, é como se ainda tivesse 20 anos. Ninguém nota a idade que tem, mantém um nível competitivo e tático exemplar", assinala, a O JOGO, Jorge Soares, o defesa que atuou ao lado do agora capitão do FC Porto na estreia deste pela equipa principal do Marítimo.
Com 19 anos, Pepe convenceu Nelo Vingada a lançá-lo a titular frente ao Boavista, em 2002. O jogo terminou com um nulo e a prova de fogo foi ultrapassada.
"Era mais um miúdo a tentar a sorte na Europa. Já se via potencial, mas ninguém adivinhava que pudesse chegar ao nível que atingiu", lembra Jorge Soares.
Aquele jovem brasileiro estava ali para mostrar o que valia e daí resultou um episódio que teima em não sair da cabeça do antigo central, que, além do Marítimo, representou Benfica e Farense, entre outros clubes.
"Pouco tempo depois de começar a trabalhar connosco, alguém disse: "Cuidado com o miúdo!" O Pepe não se deixou ficar e respondeu: "Moleque não! Aqui não há moleque nenhum!" [risos] Ao vê-lo dizer aquilo percebi logo a forma que tinha de se impor", conta o ex-futebolista.
Frisando que o tratamento de Pepe não foi especial em relação a outros jovens, Jorge Soares recorda-se de alguns conselhos transmitidos ao luso-brasileiro.
""Aplica-te ao máximo e não facilites, porque no futebol não se pode facilitar." Mas ele já mostrava que não precisava que alguém lhe dissesse isso", refere.
As dicas, de resto, surtiram efeito: entre FC Porto, Real Madrid e Seleção Nacional, Pepe recheou o palmarés com 23 títulos, que vão de campeonatos a Ligas dos Campeões. Aos 39 anos, o capitão dos dragões aponta a mais duas conquistas: a Liga Bwin e a Taça de Portugal, que podem elevar a conta de troféus para 25.
Quanto ao futuro, Soares fala na "lei natural da vida". "O ser humano tem os seus limites e chegará uma altura em que, por mais que o Pepe queira, não dará para mais. Mas a verdade é que tem superado os obstáculos com vigor. O segredo também passa por manter o profissionalismo na vida particular e ele tem provado que é exemplar. Há casos raros e o Pepe é um deles", ressalva.
Sempre a testar os limites
Pepe entrou para o top-5 dos jogadores mais velhos que marcaram no principal escalão do futebol português, como se pode ver na infografia ao lado. Ao estrear-se nos festejos esta época, o central do FC Porto ultrapassou dois jogadores de uma assentada: Ricardo Costa, outro defesa dos portistas, que tinha marcado com 38 anos, 8 meses e 21 dias, embora na altura ao serviço do Boavista e João Ferraz (com menos três dias do que Costa), avançado já falecido também dos axadrezados.
Com mais uma temporada de contrato, Pepe poderá ainda aspirar a subir ao terceiro lugar deste ranking, visto que ainda está longe dos registos de José Torres (marcou pelo Estoril já depois dos 43 anos) e de Oliveira (Sporting).
O que já ninguém lhe tira é o facto de ser o mais velho de sempre a jogar e a marcar pelo FC Porto no campeonato. O central já ultrapassou os 800 jogos na carreira e continua a mostrar uma frescura física impressionante para alguém que está a caminho dos 40 anos. Chegar aos 50 golos na carreira é um dos objetivos que ainda pode alcançar a curto/breve prazo: faltam-lhe apenas três.