Felipe analisa centrais do FC Porto e deixa nota sobre Sérgio: "Explode mais que Simeone"
O "Xerife" acredita que podia ter ganho mais títulos nas três temporadas que passou no Dragão, onde criou uma grande afinidade com Marcano e foi um conselheiro para o jovem Diogo Leite
Corpo do artigo
Foi no centro de treinos do Atlético de Madrid, em Majadahonda (arredores da capital espanhola), que Felipe recebeu O JOGO para uma entrevista exclusiva.
Brasileiro jogou ao lado do português e do espanhol e vê a nova sociedade portista como uma das melhores de Portugal
O encontro decorreu depois do treino e de João Félix, Lemar e Tripier terem gravado uma publicidade para o novo patrocinador asiático dos colchoneros e permitiu ao central falar um pouco sobre o ex-clube. A chegada de Marcano, a dupla com Pepe, o futuro de Diogo Leite, a sensibilidade dos árbitros espanhóis em comparação com os portugueses e, claro, João Félix foram alguns dos temas abordados.
Quando chegou à Europa, pensava que três anos depois sairia do FC Porto por 20 milhões de euros?
-Sair aos 29, a caminho dos 30 anos, por 20 milhões de euros é... Quando deixei o Brasil só queria ir para uma grande equipa e acabei por encontrá-la no FC Porto, onde queria fazer uma história incrível. Podia ter ganho muito mais nos três anos em que estive no clube, podia ter ganho mais ligas, mais taças que deixámos escapar, mas creio que construi uma imagem muito boa. Independentemente da idade, não é fácil sair do Brasil, vir jogar para a Europa e adaptar-se ao futebol, que é mais rápido e mais disputado. Mas consegui fazê-lo e gostei. Isso ajudou-me a evoluir e, hoje, estando no Atlético, só quero manter o mesmo nível que tinha em Portugal.
"Marcano é um grande jogador, chegou novamente em alto nível, está a fazer uma grande temporada ao lado do Pepe"
Marcano fez o percurso inverso do Felipe. O que é que ele tem dado à equipa?
-Quando cheguei ao FC Porto fiz dupla com o Marcano, que desde logo é um grande jogador, e completávamo-nos muito bem, porque eu jogava pela direita e ele pela esquerda, ou seja, com os pés certos. Fizemos uma grande temporada, antes de ele ir para a Roma, e tínhamos uma grande afinidade. É um grande jogador, chegou novamente em alto nível, está a fazer uma grande temporada ao lado do Pepe, creio mesmo que são das melhores duplas de Portugal e estão a conseguir manter o rótulo que o FC Porto tem de possuir sempre duplas de qualidade.
Qual foi a melhor dupla que formou no FC Porto: com Marcano ou Militão?
-Não me coloque na parede... [risos] Não consigo fazer essa escolha, porque no Brasil também tive várias duplas no Corinthians. O Marcano tem como característica o facto de jogar com o pé esquerdo, de falar bastante, de chamar a equipa à atenção. Com o Militão era ao contrário; eu é que tinha de falar. Como o Marcano estava há mais tempo, era normal que falasse mais. Com o Militão já conseguia orientar algumas coisas, ele ouvia e aceitava. Foi bom. Acho que consegui encaixar bem com os dois e fizemos boas duplas na história do FC Porto. Acho que a que formei com o Militão foi uma das melhores da Europa.
"Dizia ao Diogo Leite que tinha de ser mais imponente. (...) Acho que tem um futuro incrível"
Apadrinhou a chegada de Diogo Leite à equipa principal do FC Porto. Que conselhos lhe dava?
-Ainda joguei com ele antes da chegada do Militão e estava a fazer uma temporada incrível. Depois chegou o Militão e, já se sabe, o futebol é complicado. O Sérgio [Conceição] optou pelo Militão e o Diogo ficou como terceira opção antes da entrada do Pepe. Seja como for, é um jogador incrível, com um pé esquerdo de qualidade e que é agressivo. Mas disse-lhe sempre nos treinos que tinha de ser um central mais imponente, porque o central precisa de ter isso. Central bonzinho não chega a lado nenhum. Então, procurava passar-lhe sempre isso. Mas não por maldade. O Otávio adora contacto, gosta de provocar e quando dava em cima do Diogo eu dizia-lhe: viste, é aí que tens de aproveitar. Era isso que lhe faltava um pouco. Mas agora parece-me que já está um pouco diferente, já parece mais sério... Acho que tem um futuro incrível.
https://d3t5avr471xfwf.cloudfront.net/2019/12/oj_felipe_bloco_1a_20191228234213/hls/video.m3u8
E a Diogo Queirós?
-Sim, via muitos jogos da B e por vezes ele treinava connosco. Não lhe pude dar muitas dicas, mas, pelo que vi nos jogos, parece-me um jogador incrível, com qualidade, que tem um bom tempo de bola e, quando precisa, também dá. Mas é normal quando se é miúdo não ter essa maldade, essa diferença e vai pegando aos poucos. Eu também não era assim. Olhava muito a bola e apanhava uns encontrões e caía. Depois fui aprendendo. São dois miúdos novos, que têm muito futuro.
"Sérgio explode mais que Simeone"
Semelhantes na exigência, mas diferentes no trabalho diário: é assim que Felipe descreve Sérgio Conceição e Diego Simeone, dois treinadores que vivem intensamente os encontros no banco de suplentes. No entanto, o internacional brasileiro considera que o português tem uma personalidade mais impetuosa que o argentino, já que ao mínimo erro no treino está a corrigir os jogadores.
Que diferenças encontra entre trabalhar com Sérgio Conceição e Diego Simeone?
-Existem umas pequenas diferenças, mas são os dois treinadores bastante exigentes. No dia a dia, cada um tem as suas características. O Simeone é uma pessoa que nos deixa fazer as coisas e depois procura corrigir-nos, mostrando vídeos sobre os aspetos em que podemos melhorar aqui e acolá. O Sérgio também faz isso, mas no campo é mais explosivo; leva a exigência ao extremo. Por exemplo: se alguém controla mal... "pá", explode. É algo que é normal nele desde os tempos de jogador, toda a gente conhece. Ou seja, são parecidos, mas têm algumas pequenas diferenças.