FC Porto e Sporting partilham a aposta no mercado português e são avessos a grandes revoluções à boleia das transferências
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O primeiro clássico da época marca mais um duelo entre os dois treinadores que há mais tempo comandam a mesma equipa na Liga Bwin: o FC Porto de Sérgio Conceição, desde 2017/18 e o Sporting de Rúben Amorim, a partir da segunda metade de 2019/20. São duas equipas de autor trabalhadas ao pormenor e que desde 2020/21 têm hábitos de consumo com várias semelhanças, numa comparação que ganha relevância por o mercado ainda estar aberto e ambos procurarem colmatar a partida de dois pilares, Vitinha e, agora, Matheus Nunes.
Desde 2020/21, os rivais somaram igual número de contratações em Portugal: 12. Rúben Amorim construiu a base nesse defeso e seguiu a linha de estabilidade que já se via com Sérgio Conceição.
Mesmo que eventuais reforços cheguem de ligas estrangeiras, não há como passar ao lado de uma evidência: dragões e leões partilham o interesse pelo mercado português onde, desde o verão de 2020 contrataram exatamente o mesmo número de jogadores. Doze rumaram à Invicta e a Alvalade, numa lista de compras discriminada na infografia que acompanha estas linhas e que mostra o enorme peso da Liga Bwin nos reforços de FC Porto e Sporting, que até no número global de contratações estão quase lado a lado.
É certo que, naturalmente, nem todos tiveram o mesmo impacto, mas também se encontram negócios com valores significativos, como a ida de Paulinho para o Sporting por 15 milhões de euros e a mudança de David Carmo para os azuis e brancos a troco de 20 M€, ambos os jogadores provenientes do Braga.
Estabilidade: Conceição e Amorim são os treinadores há mais tempo na mesma equipa
Numa outra forma de ver as coisas, Conceição e Amorim dispensam revoluções à boleia do mercado e dão primazia à estabilidade. Repare-se que, em 2020/21, nas duas janelas de transferências, FC Porto e Sporting contrataram dez jogadores. Mas no caso dos leões, foi, no fundo, a época em que Rúben começou a construir a sua base, pelo que mais de metade das contratações tiveram presença regular no onze, ao contrário do que aconteceu no Dragão.
Padrão: jogadores que atuam em Portugal têm estado em peso nas listas de compras
Na quarta temporada da era Conceição, Taremi e Zaidu foram as únicas caras novas que figuraram entre os jogadores mais utilizados. Por contraponto, Carraça só fez três jogos e Cláudio Ramos nem chegou a estrear-se na equipa principal. Por aqui se explica a maior diferença, favorável ao Sporting, nas médias de minutos de utilização dos novos jogadores - 1218-2604. Daí para a frente, os reforços foram em menor número e as médias de utilização aproximaram-se, com poucas oscilações na base. Estabilidade é um termo totalmente coerente com a caminhada de Sérgio Conceição no FC Porto, mesmo que seja impossível fugir a reconstruções e reinvenções.
Em média, desde a primeira época por inteiro de Rúben Amorim no Sporting, os reforços dos leões têm somado mais minutos, mas os contextos de cada caso relativizam as comparações.
Amorim segue uma linha parecida, ao ponto de, neste defeso, ter abdicado de dar maior profundidade ao plantel para poder segurar a base, ainda que a transferência de Matheus Nunes para Inglaterra possa alterar um pouco as coisas. Por fim, claro, há os contextos de cada caso que relativizam todos os números. Zaidu ficou com o caminho livre após a saída de Alex Telles; Ugarte foi crescendo na sombra de Palhinha e Pepê fez o mesmo com Luis Díaz, cuja saída, por seu turno, motivou a contratação de Galeno; Trincão foi direto ao onze porque Sarabia já lá não estava e nunca se esperaria que João Virgínia destronasse Adán; David Carmo começou a época castigado e André Franco chegou em cima da primeira jornada...enfim, são muitas as condicionantes, mas não nos desviam de duas ideias chave: Sérgio Conceição e Rúben Amorim apreciam o comércio local e a estabilidade.
Apostas de alto rendimento
Taremi e Pedro Gonçalves serão os exemplos mais flagrantes dos ganhos de FC Porto e Sporting no mercado luso. Famalicão e Braga estão entre os principais fornecedores.
Tentar perceber qual dos clubes aproveita melhor os reforços é um exercício limitado pelos contextos de cada um, mas não restam dúvidas de que FC Porto e Sporting captaram muito talento e potencial sem ultrapassar a fronteira.
Taremi, dos dragões, e Pedro Gonçalves, dos leões, serão os exemplos mais flagrantes: já nas épocas de estreia apontaram 23 golos e ainda hoje são figuras incontornáveis. Contabilizámos Rúben Vinagre, que pertencia ao Wolverhampton, como reforço interno no Sporting, porque atuou emprestado no Famalicão antes de seguir para Alvalade. E o clube minhoto, aliás, tem sido um dos principais fornecedores: além do já referido Pote, também projetou Toni Martínez e Ugarte. Não muito longe dali, Paulinho, Esgaio, Galeno e David Carmo saíram do Braga.
Para se perceber melhor a consistência e profundidade desta aposta, desenhamos dois onzes com sistemas táticos distintos a partir dos 24 jogadores contratados pelos rivais em Portugal. Por força das posições - só há Cláudio Ramos para a baliza, por exemplo - é impossível não repetir alguns nomes, mas outros tiveram de ficar no "banco". De resto, só Vinagre e Gonçalo Esteves (emprestados pelo Sporting) não constam dos planteis atuais e Carraça foi a única contratação que saiu praticamente sem jogar.
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