FC Porto marca muito menos em 2019 e a crise no ataque não se explica apenas com a real perda de eficácia, mas também com o menor número de tentativas
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Há um FC Porto antes e outro depois da passagem do ano. A equipa é a mesma, naturalmente, reforçada até com a entrada de Pepe, Manafá, Loum e Fernando Andrade, mas a produção ofensiva caiu a pique e isso ajuda a justificar os recentes resultados. Os dragões venceram apenas um (Belenenses) dos últimos cinco jogos e pelo meio perderam a final da Taça da Liga para o Sporting (decisão nas grandes penalidades), vendo ainda o Benfica e o Braga recuperarem quatro pontos na corrida pelo título muito por culpa da perda de poder de fogo: 1,7 golos em média por cada um dos onze jogos realizados em 2019, contra os 2,5 conseguidos na primeira metade da temporada (até final de dezembro). Acrescente-se, por exemplo, que o FC Porto já ficou em branco por duas vezes este ano (Sporting e V. Guimarães) enquanto na fase inicial da época só não tinha marcado no clássico com o Benfica.
A explicação não está só na eficácia, como Sérgio Conceição insiste. O FC Porto perdeu sentido de baliza e remata bem menos neste período: 10,4 tiros em média desde o início do novo ano, contra 13,8 antes. Uma diferença de 3,4 remates por jogo, o que é absolutamente significativo, tendo em conta que a estatística diz que o FC Porto marca a cada sete disparos que faz à baliza. Para complicar, além de menos, o FC Porto remata realmente pior e concede mais oportunidades ao adversário. Senão vejamos: na primeira metade da época, 44,5 % dos remates portistas foram na direção da baliza dos adversários; desde 1 de janeiro a esta parte, apenas 37,5%.
Mas há mais: seja responsabilidade ou não da nova fórmula defensiva ou até da ausência forçada por lesão de Danilo, os adversários são mais audazes e conseguem rematar bem mais do que as oito vezes que habitualmente o FC Porto o consentia por jogo. Agora a média de disparos dos rivais subiu para 10,5 por jogo. O Moreirense fez 13, por exemplo. O Belenenses somou onze e o Chaves dez. E isto só para citar exemplos de clubes de menor dimensão.
Recuperar a eficácia no remate é um dos maiores desafios para os próximos jogos, a começar já na receção de amanhã ao V. Setúbal. Estar privado do goleador da equipa, Marega, não ajuda. E para complicar um pouco mais a tarefa de Sérgio Conceição, da visita a Roma sobrou ainda a certeza de que Brahimi - terceiro melhor marcador do FC Porto com nove golos - também será baixa. Nesta altura, a responsabilidade cai nos ombros de Tiquinho Soares que até tinha o mês de fevereiro como o preferido para marcar. Porém, este ano ainda está em branco nos três jogos disputados, o que também contribui para esta quebra do rendimento geral da equipa.
Para o jogo com o V. Setúbal nem tudo são más notícias porque o treinador portista já poderá contar com Corona, que falhou a visita a Roma devido a castigo. O mexicano tem a folha disciplinar limpa no campeonato e entrada direta no onze. Afinal, tem sido dos melhores do FC Porto nesta época, com cinco golos e nove assistências (mais uma do que Alex Telles e Otávio). Resta saber quem ocupará a vaga de Brahimi. E há três candidatos: Otávio, Fernando Andrade e Adrián López. Certo é que o ataque vai mudar mais uma vez...
Dragões têm 29 golos de baixa contra o V.Setúbal
Os 19 golos que o FC Porto marcou em 2019 foram assinados por nove jogadores e um deles nem faz parte do plantel: Nuno André Coelho, que fez autogolo em Chaves. Tiquinho Soares, com cinco (três apontados precisamente no encontro com os transmontanos), e Brahimi, com quatro, foram os jogadores que mais contribuíram para atenuar a quebra de produção ofensiva desde o início do ano. O argelino é, aliás, o terceiro melhor marcador da equipa, com nove golos no total. Marega tem 16 e se somarmos os quatro que Aboubakar marcou, então o FC Porto tem 33% do pecúlio total de baixa contra o Setúbal.
Soluções
Corona volta à direita
Falhou Roma por castigo, mas está de volta para ocupar o lado direito do ataque. Tecatito tem-se cotado como um dos melhores da equipa, é o rei das assistências (9) e tem ainda cinco golos. A equipa ganha criatividade.
Soares sozinho ou com ajuda?
Em Moreira de Cónegos, Herrera surgiu perto de Tiquinho, mas este esteve praticamente sozinho. Em Roma, Fernando Andrade foi o seu parceiro, mas o ex-Santa Clara também é opção para a esquerda. Adrián e André Pereira são as outras alternativas
Três para a vaga de Brahimi
O argelino deixa um problema para Sérgio Conceição resolver. Fernando Andrade, Otávio e Adrián são as opções. O primeiro é o mais parecido com Marega, o segundo pisa terrenos mais interiores e o espanhol está moralizado pelo golo em Roma.