No regresso à competição, os dragões tentam virar a página a um arranque atípico e reencontrarem-se. Arsenalistas foram quase perfeitos nos primeiros nove jogos e respiram confiança.
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A I Liga regressa esta sexta-feira com um entusiasmante FC Porto-Braga, às 21h15, no Estádio do Dragão. O jogo, por si só, já cria enorme expectativa, mas desperta ainda mais atenção por anteceder um outubro de loucos para ambas as equipas.
À exceção da Liga dos Campeões e da Liga Europa, cujas fases de grupos ficarão quase fechadas nas próximas semanas, será prematuro falar em decisões para o campeonato, mas não há como retirar importância ao embate de hoje.
O Braga, segundo classificado, visita a Invicta com três pontos de vantagem e num estado de espírito bem diferente do campeão em título. Os homens de Sérgio Conceição, no terceiro lugar, tiveram um arranque de época atípico e já desperdiçaram cinco pontos no campeonato, três numa derrota por 1-3 em casa do Rio Ave e dois frente ao Estoril (1-1), na última jornada antes de uma pausa nas competições, que o FC Porto espera ter servido para limpar a cabeça. A vida não tem corrido melhor na Europa, com dois desaires em igual número de jogos, incluindo uma goleada (0-4) imposta pelo Brugge no Dragão. Do outro lado estará uma equipa a respirar saúde e confiança e que só não assina um registo perfeito em nove jogos por culpa de um empate eletrizante (3-3) com o Sporting, na primeira ronda. Único clube da Liga Europa ainda com a própria baliza a zeros e dono do melhor ataque do campeonato (23 golos), o Braga é, em teoria, quem menos tem a perder hoje, mais não seja pela questão pontual.
Além disso, vencer representaria uma contundente demonstração de força. Já para o FC Porto, ficar a seis pontos do Braga e, eventualmente, a oito do Benfica, que visita o Dragão daqui a três semanas, seria um cenário preocupante, da mesma forma que um triunfo no início de um ciclo alucinante poderia marcar um virar de página depois de algumas semanas agitadas. É o futebol em estado puro, onde sensações tão distintas dependem muitas vezes de uma bola bater no poste e entrar ou ir para fora. Seja como for, haverá muito pouco tempo para celebrar ou sarar feridas, porque o calendário não deixa nenhum dos dois respirar. Além do clássico, o FC Porto terá um decisivo duplo confronto com o Bayer Leverkusen para a Champions, enquanto no horizonte do Braga estão quatro saídas consecutivas.
E se o futuro próximo é vertiginoso, o histórico recente tem sido mais favorável aos arsenalistas. Sérgio Conceição chegou a registar cinco triunfos consecutivos com o adversário de hoje, mas, nos últimos dez jogos, o Braga só perdeu por duas vezes.
Três questões a Miguel Guedes, músico de adepto do FC Porto
"Nem tanto ao Marega, nem tanto a Vitinha"
1 O que está em jogo nesta receção ao Braga vai muito além dos três pontos?
-Receber o Braga no Dragão com dois pontos de desvantagem entrega a este pré-clássico um caráter distinto e que em muito ultrapassa a soma de simples três pontos. Não que um eventual resultado negativo condicione a aproximação aos arsenalistas. Mas, após os jogos com o Brugge e Estoril, fatia de dragão para reabilitar a confiança da equipa passa por uma vitória frente ao Braga, Leverkusen e em Portimão, antes da receção aos Benfica.
2 Onde tem estado o problema deste FC Porto de altos e baixos no início de época?
-A saída de jogadores decisivos e a entrada de jogadores que terão que crescer em competição é um fado que não tem, necessariamente, que aportar em desgraça. No entanto, dificulta a assimilação das ideias de Sérgio Conceição, que tem que conquistar rotinas de jogo e tempo para as implementar, sem perder pontos que nos afastem dos objetivos a conquistar. À exceção do setor atacante, tanto a defesa como o meio-campo continuam à procura de solidez e de pontos de referência. Esta pausa para os jogos das seleções, embora ansiogénica, pode ter sido benéfica e estruturante para a assimilação do que o treinador pede aos novos jogadores.
3 Outubro é um mês decisivo ou como Pinto da Costa disse ninguém ganha ou perde um campeonato tão cedo na época?
-É muito cedo para ditar sentenças. Porém, cavar a diferença pontual para a liderança da Liga, no contexto da fase resolutiva da Liga dos Campeões na próxima terça-feira, não sendo fatal, pode ter consequências animicamente difíceis de ultrapassar porque teremos que passar a contar com a falência competitiva dos nossos adversários (o que podendo acontecer a alguns, dificilmente sucederá a todos). Exige-se uma Revolução em Outubro e ela terá que aparecer em forma de síntese das cinco épocas de Sérgio Conceição no FC Porto. "Nem tanto ao Marega, nem tanto a Vitinha", como lema: em outubro, espera-se uma reação e reformatação da equipa que nos leve à revalidação do título nacional.
Três questões a Miguel Pedro, músico e adepto do Braga
"Para ganhar, mas sem ser favorito"
1 Acredita que o Braga vai sair do Dragão em primeiro lugar?
-O "acreditar", neste contexto, confunde-se com o "desejar". Mas, por muita fé que possamos ter, temos bem a consciência da imensa dificuldade do jogo, contra uma equipa fortíssima e que, para agravar, tem o orgulho algo ferido. Mas, se virmos bem, o FC Porto tem mantido um nível exibicional muito bom. O pior que nos poderá acontecer é entrarmos no jogo com a sensação de que o nosso atual lugar na tabela classificativa poderá inverter o favoritismo do jogo a nosso favor. Isso seria fatal. O Braga irá jogar para ganhar, claro, por é esse o seu ADN, mas sabendo que não é favorito.
2 O Braga deve assumir a candidatura ao título?
-Sempre tive alguma dificuldade em entender essa necessidade de quererem como que forçar os responsáveis bracarenses a fazer uma declaração formal do género: "Somos candidatos ao título!". Esse juízo será sempre um juízo que terá que ser exterior ao Braga, vindo ou da comunicação social ou de redes sociais. Mas não dos responsáveis bracarenses, pois não é uma atitude de trabalho válida, não cria qualquer tipo de valor ao trabalho diário, não é uma postura que conceda qualquer tipo de vantagem competitiva ao Braga. Poderemos, eventualmente, assumir isso se, a duas jornadas do final, estivermos cinco pontos à frente do 2.º classificado.
3 Está surpreendido com o trabalho de Artur Jorge?
-Nada surpreendido. Conheço pessoalmente o Artur Jorge e tenho acompanhado o seu percurso no contexto da formação e da equipa B. Sei bem que tem uma ética de trabalho rigorosa e um profundo compromisso com a sua missão. É muito focado naquilo que faz e, além disso, tem uma capacidade muito grande de criar empatia com os jogadores (porque também foi jogador, conhece bem esse lado do seu trabalho). Por isso, eu sabia - e sei-o - que tem tudo para fazer um excelente trabalho na equipa principal do Braga. Até porque também sei que não se deixa levar nas euforias dos resultados, pois ele sabe bem que, no futebol, as coisas podem virar de um momento para o outro se facilitarmos. E, a acrescentar a isto tudo, é alguém que sente o clube como seu, como fazendo parte integrante da sua vida, desde uma tenra idade.